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  Esse silêncio está acabando comigo, é como se o Brian estivesse fora de órbita, pensando em coisas que não faço ideia do que sejam.

— Está tudo bem?- Pergunto assim que ele estaciona o carro em frente a casa dos meus pais.  

  Brian me olha, mas sei que não me enxerga, ele está olhando através de mim. Até que fala:

— Você não devia ter feito aquilo!

  Dou-lhe meu melhor olhar confuso, mas trato de responder alguma coisa:

— Eu só pensei que seria legal mostrar pra ela que você a superou.

Ele suspira.

— Como você pode saber que a superei?

  Ai eu entendo tudo. Entendo o silêncio e a frieza em seu tom de voz, ele não a superou!

  Eu já tinha tirado conclusões a cerca disso, mas achei que fosse paranoia minha. Desço do seu carro e vou em direção a porta de casa.

— Cloe, espera!- Eu o ignoro enquanto ele grita— Eu não quero que se intrometa em minha vida, você prometeu que teríamos algo casual, não mude as coisas agora.  

  É. Eu prometi, mas só porque pensei que pudesse fazê-lo mudar de ideia.

— Você tem razão! Eu não devia me meter.

Ele cruza os braços.

— Eu não gostei nada de você ter tomado pra si a responsabilidade de resolver meus problemas, são os meus problemas, Cloe, você não pode interferir!

Eu agora estou cheia de cólera.

— Por que tudo isso, Brian? É por causa da minha atitude no cinema ou o fato de ainda amar sua ex? 

  Ele tenta responder, até abre a boca, mas não diz nada.

— Sabe o que eu sou? Uma tonta, tonta em achar que você me achava especial, eu sou só o estepe, divirto você, satisfaço seus prazeres, nada mais, nunca houve mais!  

Ele balança a cabeça em negativa.

— Você não entende!

— Não, eu entendo sim!

— É só que você tem esse modo de querer consertar o mundo, Cloe, e não é assim que as coisas funcionam.

   Suas palavras acertam em cheio em mim, e por longos segundos, eu só consigo pensar em como eu nunca vou dar certo com ninguém. Nunca!

— O problema não sou eu, Brian, mas sim você, não sou eu que não esqueci a ex, não sou eu que está enfurecido por alguém ter tentado me ajudar, não sou que estou magoando a única pessoa que já quis te entender, simplismente não sou eu!  

  Uma lágrima solitária rola em meu rosto, eu a limpo com rispidez.

— Cloe, eu só quero que entenda que...

  Espalmo a mão na frente do meu rosto.

— Eu já entendi, Brian, eu não sou burra.

Ele arregala os olhos.

— Não vou te incomodar mais, tá? Estou te deixando em paz! Boa noite, Brian.  

  Não tenho coragem de olhar em seus olhos e perceber que os seus sentimentos não se assemelham aos meus, eu não suportaria. Então, simplismente entro em casa e me deixo cair contra a porta.

  Do que adiantou ter aberto meu coração? Do que adiantou eu ter esperanças? No final eu sempre sei no que vai dar: em nada!

— Meu anjo?- É a minha mãe— Eu ouvi a conversa, não toda, só em parte- Ela se ajoelha em minha frente.  

  Me jogo nos seus braços e choro convulsivamente.

— Oh, meu bebê- Ela acaricia meus cabelos— Os homens são tão bobos, eles não merecem uma única lágrima nossa.

Fungo baixinho.

— Eu gostava dele, mãe, estava até me apaixonando.

Minha mãe me abraça forte.

— Sinto muito, minha linda, ele não te merece.

Aquiesço com a cabeça.

— Carlie está lá em cima, ela queria te esperar para... você sabe!  

Para eu contar sobre o encontro!

  É claro que sei. Não acredito que ela deixou o Uriel e o seu marido em casa só pra saber como foi o encontro.

— Eu vou subir- Levanto do chão.

   Estou quase subindo as escadas, quando ouço dona Tereza dizer:

— Sabe, filha, as vezes nem sempre o amor encontra o caminho mais fácil ou menos doloroso para chegar até nós, mas no final, vale a pena esperá-lo.  

  Não sei mais se vale a pena, mas não vou dizer isso a minha mãe e acabar com suas fantasias de ter netos ou me ver casando, então, só assinto com a cabeça.
  
  Mas eis a questão: como eu e Brian chegamos a essa via de fato?  
  Eu vou lhes contar...

ReveladoraWhere stories live. Discover now