Melhores Amigos.

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Calum Hood desceu seu headphone até o pescoço antes de começar a procurar, dentro da mochila, a chave de casa. A música alta ainda podia ser ouvida além dos fones e o moreno demorou a perceber que há alguns metros um garoto loiro fazia o mesmo, com a diferença de que bufava, exasperado, e começava a tirar tudo de dentro da mochila.

O som das chaves de Calum foi ouvido por ele, que ergueu o olhar por alguns segundos para observar o moreno abrir a porta, o chaveiro de sua banda favorita cintilando sob o sol forte daquele começo de tarde. O moreno mordeu o lábio inferior carnudo, tentando controlar a vontade de revirar os olhos enquanto abria a porta e tratava de fechá-la atrás de si, sem se importar em cumprimentá-lo ou ser minimamente educado.

Chutou os vans para um canto do hall de entrada e jogou a mochila no sofá enquanto chamava por seus pais. Não teve resposta, o que já era de se esperar. Sua mãe trabalhava em uma creche perto de casa, portanto quando Calum chegava da escola ela já havia saído. Seu pai era funcionário de uma empresa de seguros e só voltava no jantar, então o moreno não se importou em rapidamente subir os degraus da escada até seu quarto e procurar, em sua estante ao lado da cama, algum CD para ouvir no último volume.

Não havia ninguém para reclamar do som alto além dos vizinhos, mas não era como se Calum se importasse com eles.

Optou por um CD que ele mesmo havia gravado, há alguns dias, e foi até o aparelho de som que estava em uma das estantes do quarto, quase implorando para ser usado. Quando a primeira música começou, o moreno quase conseguia ouvi-la vibrando dentro de si, e suspirou contente, sentando-se na cama para retirar o jeans apertado e apressando-se para entrar no banheiro.

Olhou para o espelho fixo na parede enquanto tirava a camiseta. Um garoto magro, de dezessete anos, o encarava de volta. Os olhos escuros eram sombreados por cílios grossos e sobrancelhas bem delineadas. Seus lábios cheios moviam-se ao som da música, com um meio sorriso de lado.

Ouvia uma das bandas de rock alternativo que gostava quando finalmente entrou no box e abriu o registro. Aguentou firmemente a água gelada em seus ombros enquanto a temperatura aos poucos diminuía, até tornar-se agradável o suficiente para que ele conseguisse relaxar. Fechou os olhos e afastou os cabelos molhados do rosto enquanto a imagem de Luke Hemmings lhe vinha à cabeça, mas aquilo já era frequente demais para que se preocupasse.

Aquela fase de negação havia deixado-o há bastante tempo.

Imaginou se ele já conseguira encontrar as chaves dentro da mochila. Ele sempre fazia aquilo. Calum sentia ímpetos de lhe mandar guardar as chaves em um lugar mais fácil, mas não tinha coragem de tentar chamá-lo ou falar com ele, o que decididamente era ridículo, pois, de alguma maneira, eles eram amigos.

Ou deveriam ser, Calum não sabia mais que palavra usava para definir a relação que tinham agora.

Quando finalmente saiu do banheiro, já vestido, puxou a cortina da janela de seu quarto para que não houvesse chances de Luke espiá-lo – não que ele realmente fosse fazer isso. Eram vizinhos e, por algum motivo, seu quarto era de frente para a janela dele.

O moreno se jogou na cama, suspirando longamente. Uma música do Kansas tocava agora, e Calum se lembrou de que Luke odiava músicas dos anos sessenta. Talvez por isso Calum tenha passado a gostar delas.

Não sabia quanto tempo passou deitado, ouvindo as músicas de seu CD gravado, mas quando acabou e o silêncio permaneceu no quarto, era quase angustiante. Fechou os olhos e bagunçou os cabelos, ainda úmidos, sem se importar em penteá-los. Estava vestindo uma camiseta branca e calças de moletom, confortável. Cômodo.

Agora que o silêncio serpenteava pelo aposento, brincando com seus ouvidos, conseguia escutar, vagamente, o som de aparelhos sendo tocados desajeitadamente. Apertou os olhos, tentando controlar a vontade quase enlouquecedora de ir para o lugar aonde sempre ia; espiá-lo novamente.

(Cake) Little ThingsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora