Chuva e asfalto

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Os pequenos pingos de chuva caíram do céu e molharam a minha pele. O som da chuva batendo de encontro com a calçada de pedras era reconfortante, mas ao mesmo tempo doloroso.

18:00. Os estudantes sempre costumam ir à um karaokê depois da aula por volta desse horário. Mas não em dias de chuva. Eles não se divertiam em dias chuvosos. Afinal, as pessoas odeiam a chuva.

Elas preferem ficar no conforto de seus lençóis ao invés de aproveitar o cheiro de terra molhada. Preferem assistir televisão do que sentir a água refrescante contra seus rostos. E preferem o calor de um aquecedor do que o frio gostoso que só dias de chuva podem proporcionar.

Pessoas normais são assim. Mas eu nunca me considerei uma pessoa normal, sabe? Dias de chuva sempre foram mais prazerosos para mim do que dias ensolarados. O calor me faz suar, ficar grudenta e de mal humor. Você costumava rir da minha cara quando me via zangada por causa do Sol.

A chuva sempre foi meu porto seguro. Ninguém nunca entendeu isso, exceto você. Você queria ficar sob a chuva ao meu lado, mesmo tendo uma saúde frágil. Nossas brincadeiras sempre acabavam comigo ensopada e você de cama por conta de um resfriado.

Eu nunca levei um guarda-chuva para a escola. As outras crianças me olhavam torto quando eu pulava nas poças, molhando minhas meias 3/4. Elas riam de mim por ser tão desleixada. Então você deixou de levar um guarda-chuva também. "Vamos ser desleixados juntos", você disse. E chegavámos em casa completamente encharcados.

A chuva sempre esteve presente em todos os bons momentos que eu passei com você. Mas eu queria que não estivesse chovendo naquele dia. O dia em que eu te perdi.

Eu sempre ria de como você ficava doente fácil. Eu poderia ficar horas tomando banhos de chuva, mas só de sentir a brisa fria, você já começava a espirrar. Ignorávamos os avisos de sua mãe, indo brincar no meio das tempestades. Era divertido, para mim e para você.

Mas isso deixou de ser divertido naquele dia.

Lembro-me bem da voz da sua mãe do outro lado da linha quando atendi o telefone naquele fatídico dia. Com a voz embargada, ela me disse que você estava internado. Eu perguntei o motivo, tentando imaginar que tipo de resfriado forte você pegou para ter que ir ao hospital. Ah, como fui tola.

Não era um resfriado. Você não estava doente. Estava dirigindo quando perdeu o controle e bateu o carro numa árvore. A estrada estava escorregadia por conta da forte chuva que caía sem parar.

E eu corri o mais rápido que pude até o hospital. Iria te ver nem que tivesse que enfrentar todos aqueles enfermeiros que não me deixavam passar. O médico veio até mim, me guiando para um lugar mais reservado onde sua mãe também estava. Pensei até que ele tinha se comovido com a cena e nos deixaria entrar para te ver. E mais uma vez, fui tola.

Ele nos chamou para dizer que você não havia resistido aos ferimentos. O grito de dor de sua mãe se misturou com o som da chuva batendo contra as janelas do hospital.

Sua mãe, pobre mulher, não aguentou tudo aquilo. E numa tarde nublada, eu soube que ela tinha deixado este mundo também.

A chuva esteve presente em todos os meus momentos bons com você. Mas ela também estava lá quando você me deixou, Park Jimin.

E agora, eu penso sobre isso enquanto caminho pelas ruas de Seoul. As pessoas que antes estavam ao meu redor, correram para longe por conta da tempestade. Eu era a única que estava no meio da chuva, porquê você já não está mais aqui comigo.

Queria que não estivesse chovendo naquele dia. Mas como não tenho o poder de voltar no tempo, queria pedir que a chuva me levasse assim como levou você.

A chuva que batia no asfalto se misturava com as lágrimas que escorriam pelas minhas bochechas. Mas eu continuava sorrindo. Acho que não consigo odiar dias de chuva, afinal.

Dando um passo de cada vez, eu já me via no meio da estrada. Não ouvia o som das buzinas dos carros, muito menos as vozes das pessoas que por algum motivo haviam voltado. Tudo isso foi abafado pelo som da chuva.

Estava pronta para ser consumida por aquela água.

Senti um aperto em meu pulso. Fui puxada, batendo contra uma superfície firme e quente.

Eu já havia morrido? Era o abraço de Park Jimin que eu estava sentindo?

- Você é maluca ou o quê? Quer morrer?

Abri meus olhos, sem nem saber quando os tinha fechado. Aquela silhueta alta e de expressão fechada não pertencia à Park Jimin.

- Droga...

A voz de Taehyung gritando comigo foi a única coisa que ouvi antes de tudo ficar escuro.

Rain and Asphalt (KTH)Where stories live. Discover now