Férias

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Dia 7 de setembro de 2026
Seis anos depois.

  É difícil me desligar do trabalho, minhas férias são tão raras e curtas que é estranho e desagradável não trabalhar. Mas, depois de dois anos adiando, fui intimada a tirar férias.
Tânia me disse que tudo o que eu precisava fazer era ficar quieta por duas semanas, mas trabalhar é o que me mantém sã e ocupada. Então, quando acordo vou para o lugar mais próximo do meu trabalho que posso chegar, o mar.

  Eu acordo cedo o suficiente para conseguir ver o nascer do sol. Sentir ele aquecendo cada nervo do meu corpo me faz sentir cada vez mais pronta para voltar para casa.

  Passo o resto da manhã no escritório escrevendo um relatório sobre o impacto das atividades humanas nos oceanos, principalmente em Water Bay. A reunião internacional sobre Poluição, pesca acima dos limites e lacunas na legislação internacional acontecerá mês que vem. Será o início de uma guerra contra a Farrow Atlantic company.

  Durante anos a indústria vem destruindo toda a biodiversidade marinha e colocando a saúde de toda a população em risco em nome do dinheiro. Então, nos armamos até os dentes com o máximo de apoio e provas que conseguimos, mas eles continuam com uma grande carta na manga chamada "bilhões de dólares". Mas também temos nossas cartas na manga.

  Entretanto, Tânia tem razão, preciso me desligar um pouco do trabalho, trabalhar durante dois anos com o Marine Biodiversity Group vem sugando tudo de mim. Mas eu amo concentrar todas as minhas energias naquilo em que acredito e viver isso.
Resolvo fazer uma visita a um velho amigo, imagino que assim como eu, Sebastian merece uma volta, então o levo comigo. Paro o carro na entrada da garagem de Josh e assim que desço, abro a porta do passageiro para meu cachorro sem me preocupar em segurar a coleira. Ando até a entrada da oficina com o grande pastor alemão ao meu lado, Sebastian o encontra antes de mim e vai correndo até o homem de meia idade sujo de graxa.

  Imagino que esperei o tempo perfeito para uma visita quando não vejo sinais da organização de Shawn pela oficina e imagino que já tenha voltado para Seattle. Joshua e eu almoçamos e colocamos o assunto em dia enquanto meu cão se mostra extremamente interessado em um dos muitos brinquedos de cachorro espalhados pela oficina.

— Espero que ele não estrague esse também. —  Joshua fala se referindo ao coelhinho emborrachado que comprou para Sebastian. — Shawn pediu que eu me despedisse de você por ele, ele foi embora uns dois dias atrás quando você estava em alto mar. Mas, imagino que você já saiba, se não, nem estaria aqui. —  Nem tento negar, Joshua me conhece tão bem quanto conhece seu filho.

—  Vocês precisam parar com isso ou vão matar o velho aqui de infarto. —  Dou risada do drama ruim dele, mas também não posso deixar de notar a tristeza por trás de sua voz brincalhona. — Sinto falta dos meus filhos, Cristal. Odeio ver vocês dois se evitando, mas não vou continuar me metendo. Eu amo vocês dois.

Isso faz com que uma ferida se reabra, era assim toda vez que eu me lembrava dele. Joshua sabe o quanto o amo, mas também sabe que nossas escolhas nos separaram e ele deveria saber que não há mais o que fazer. Ou deveria saber.

  Joshua me contava animado de seu novo ajudante, segundo ele, o menino estava em horário de almoço e que depois irá ao outro lado da cidade comprar algumas peças novas, fico feliz por ele mas ao mesmo tempo, insegura com tamanha segurança que Joshua demonstra em seu novo ajudante. Por volta de duas da tarde seu ajudante resolve dar as caras.

— Cristal, querida, esse é meu novo ajudante, Dylan. — Meu descontentamento deve estar estampado em meu rosto porque percebo logo o garoto ficar tenso.

— Joshua, você só pode estar brincando! Você contratou um Farrow?

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