Recomeço

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Dia 21 de agosto de 2020
Atualmente.

Tinha sido uma longa viagem de Seattle para Water Bay, eu estava em um estupor estranho, até que Josh me disse que tínhamos chegado em sua casa, ele tirou minhas malas do carro e me chamou para entrar.

Water Bay parece uma grande convenção de corações partidos e mentes destroçadas. Joshua se mudou com seu filho após a morte de Bárbara e eu, agora, me mudo após a morte de minha mãe. Ouvi pouco sobre eles, minha mãe nunca fora chegada aos amigos de meu pai, então, não faço ideia da razão deles terem me chamado para morar aqui. Era isso ou voltar a morar com meu pai...

Meu pai nem hesitou em deixar eu morar aqui, afinal, uma filha que nunca foi educada de acordo com seus novos princípios e da esposa seria uma pedra em seu sapato caro.
Eu não fiquei chateada, pelo contrário. Pelo menos ele não tentou aquela parada de redenção de novo. Talvez eu realmente seja um caso perdido.

Ainda me pergunto se as intenções de Joshua são genuínas ou se ele apenas acha que a pensão generosa do meu pai vem a calhar bem.
Perder minha mãe me deixou sem rumo. Tê-la sempre foi reconfortante, minha mãe sempre significou segurança apesar de todas as brigas e humilhações. E perder tudo isso de repente foi como ver tudo desabar, minha vida acabou junto com a dela e não sei como consegui mentir tão bem na última semana.

E agora isso. Estou do outro lado do país, morando com dois estranhos e me preocupando em manter a sanidade por mais algum tempo antes que resolvam me internar. A casa era bem arrumada pelo menos, não aparentando a ausência de mulheres na casa, ou eles têm uma empregada ou um deles realmente ama faxina.

Foi um alívio descobrir que não precisaria dividir quarto. Apesar de ficar no sótão, o lugar é bem confortável e é bom o suficiente para algumas semanas, não pretendo ficar mais que isso.

- Seja bem-vinda ao lar, Cristal. - Joshua parecia satisfeito com minha mudança, não me olhava com pena como as outras pessoas, o que já era mais um dos meus alívios.

Eu resmunguei um obrigada e ele finalmente me deixou a sós no meu novo quarto. Foi nesse momento que o luto chegou.

Uma vez uma professora me disse que se alguém não passa pelo luto depois de perder alguém que ama, algo está errado. Mas eu realmente acho que quando alguém morre uma realidade toda tem um fim, e alguns demoram mais do que outros para encontrar sua nova realidade.

Aquela realidade machucou, perceber que não tenho mais ela doeu. Foi quando eu percebi que ela realmente morreu, não foi o velório de caixão fechado, não foi a mudança, nem ver meu pai depois de seis malditos anos. Foi ver aquele urso idiota que eu ganhei dela em um dos meus aniversários, quando não tínhamos dinheiro nem pra pagar o aluguel, mas ela de alguma forma o comprou.

Meu luto nunca passou.

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