Capítulo Único ✏ Minha Música Favorita

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Alma gêmea: uma pessoa na qual nos gera um sentimento de pura e/ou natural afinidade; pode ser relacionado à similaridade, amor, romance, intimidade, sexualidade, espiritualidade, compatibilidade e confiança.


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Quando meus pais me perguntaram o que eu gostaria de ser quando crescesse por volta dos meus seis anos de idade, respondi que gostaria de cuidar das pessoas sem precisar ter algum tipo de ligação forte com elas, simplesmente pelo prazer de saber que, o que quer que eu fizesse por elas, conseguiria fazê-las felizes em um dia ruim, alegrá-las por algo que fiz com carinho.

Nesse dia, algo foi despertado no coração deles, algo ambicioso. Eles começaram a trilhar um futuro para mim ― mesmo que de forma cautelosa ―, porque não ouviram realmente o que eu havia respondido, eles ouviram o que quiseram ouvir. Todos os anos, a partir de então, eu respondia a mesma coisa para aquela mesma pergunta e eles continuavam ouvindo apenas o que queriam.

Eles pensavam que eu pretendia me tornar um médico, enfermeiro ou um psicólogo, e diziam isso para as pessoas; que esse era o meu sonho. Eu não me importava em desmentir, porque, para ser bem sincero, não era problema deles o que eu queria fazer do meu futuro, apenas meu. Quando me tornei um adolescente, o que mais ouvia da minha família era que eu me tornaria um médico muito desejado e, com toda certeza, me casaria com uma mulher tão bonita quanto eu; já sonhavam, até mesmo, com nossos filhos, quando sequer sabiam como eu realmente era por dentro.

Aquilo me fazia rir de desgosto, porque era melhor do que chorar sem parar.

A primeira decepção dos meus pais foi quando notei que era gay, não sentia o mínimo desejo por mulheres, nunca havia sentido e não pretendia esconder esse meu lado de ninguém; eles fizeram da minha revelação uma grande confusão, como se tivesse acabado de confessar que havia matado uma pessoa, choraram como se alguém da família tivesse morrido e se negaram a aceitar aquilo como se fosse a pior coisa que alguém já lhes dissera. Eu chorei junto, mas por medo e uma tristeza grande demais para caber no meu peito. Eles insistiram para que eu contasse quem havia me convencido de algo tão absurdo e, apesar de já ter tido experiências com um ou dois meninos até aquela época, não estava particularmente interessado em nenhum deles, então não os respondi, já que não havia resposta.

A segunda ― e última aceita ― decepção dos meus pais foi quando contei que começaria o curso de gastronomia, que queria ser um confeiteiro e fazer as pessoas felizes quando vissem um pedaço de torta feita cuidadosamente sobre a mesa deles e que os fizessem fechar os olhos para apreciarem melhor o sabor. Esse era meu sonho, desde pequeno. Meu sonho era criar doces que fizessem as pessoas alegres apenas ao vê-los.

Mas tive de aceitar que não poderia ter aquilo se continuasse morando com meus pais, eles foram os primeiros a me apontarem isso.

Por isso, peguei tudo o que eu precisava, dispensando o desnecessário, e saí de casa.

Ao contrário do que se pode esperar, eu não fiquei feliz ou aliviado por ter saído da casa dos meus pais. Fiquei desesperado, porque eu não tinha para onde ir e não fazia ideia de como começar a procurar. A única pessoa que me entenderia era Sunhee, minha colega de turma de todo o ensino médio, que compartilhava do mesmo sonho que eu. Ela me ofereceu um quarto do apartamento que alugava e conseguiu um emprego de meio período para mim na cafeteria onde ela era garçonete.

Seguíamos o ritmo um do outro, era mais fácil daquela maneira; íamos para o curso na parte da manhã, almoçávamos próximo à cafeteria e trabalhávamos até às sete horas da noite, de segunda à sexta; saíamos mais cedo aos sábados e tínhamos o domingo de folga. Sunhee aproveitava para sair com os amigos, eu aproveitava para dormir, assistir filmes e ouvir muita ― muita ― música.

No One Told Me Why [jikook]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora