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   Vejo desenhado no papel um livro aberto destacado para o número de páginas. Escrito estava a soma do número das duas páginas.
   Naquele momento não entendi nada. Depois, calho a olhar para o lado. Lá estava o meu livro de matemática. Mas não era isso que os meus olhos procuravam, eles sentiam ali diferenças.
   Espera! Eu deixei o livro fechado. Está aberto!
   Naquela hora, senti uma emoção confusa, estranha como se não me lembrasse do que tinha acontecido anteriormente, como se tivesse levado uma paulada na cabeça.
   Volto a observar o livro: estava nas páginas 11 e 12. Analiso e comparo o papel com o livro, em busca de novos horizontes, como se um papel desconhecido fosse coincidir com algo que eu tivesse.
   Penso e repenso como se fosse uma missão que tivesse que ser cumprida hoje.
E penso: O que quererá dizer isto? Talvez 23?
   "Caiu-me tudo em cima!"
Deito-me para o chão apertando fixamente o papel contra o meu peito, chorando.
   Não acredito! Este papel veio do céu!
   Hoje é dia 10 de fevereiro e daqui a 23 dias é o dia 5 de março! Oh não! Não pode ser! Faz nesse dia 1 ano que a minha melhor amiga partiu. A minha querida avó, que faleceu com um cancro, infelizmente. Eu tinha com uma amizade e um amor incondicional, intemporal, incomparável a qualquer  outro amor. Era uma cumplicidade e uma forma de nos divertirmos diferente, especial. Não existe palavras para descrever a nossa amizade.
   Será que foi a minha avó que do céu, me mandou este papel para me recordar dela e para me lembrar do dia da nossa despedida. Lembro-me perfeitamente desse dia.
   A minha respiração está cada vez mais rápida, estou ofegante.
   Não consigo satisfazer os meus pulmões à respiração normal. Que pensamento ótimo e horrível ao mesmo tempo. Que oposição de emoções. Jamais esquecerei este momento.
   Fecho os livros todos, tudo.
   Passo o dia oprimido, calado apreciando tudo ao meu redor como se tudo me fosse desconhecido.
   Finalmente, a respiração está a voltar ao normal.
   Por um lado satisfaço os meus pais, passo a vida a irritá-los e hoje permaneço em silêncio. Mas isso não me importa agora. Quero acabar o dia e ir para casa. Preciso de descanso, afinal isto é difícil de assimilar tudo isto.

23 - Byo, O Milhafre PretoWhere stories live. Discover now