23 - Byo, O Milhafre Preto

- 2 -

   Que se lixe, que pare tudo! Está um sol maravilhoso, num sítio espetacular, esqueço o teste. Vou me divertir, comme je veux.
  Deito-me na erva molhada do orvalho. Olho para o céu azul e repentinamente fecho os olhos.
  Respiro fundo. Aproveito aquela liberdade própria. Abro os olhos e vejo o céu azul e com muitas nuvens.
   Cada nuvem seu pensamento diferente.
   Aquela nuvem, a grande faz-me lembrar um carrinho de mão.
   Espera! E aquele dia em que eu e o meu irmão nos pusemos dentro do carrinho de mão o verde, o da roda gasta. Nesse dia, o nosso "automóvel" numa rampa a deslizar capotou e fomos parar ao chão. Ahahahah!! E aqueles meus olhos esvidraçados de quererem chorar e ao mesmo tempo a quererem travar as lágrimas para não mostrarem fraqueza ao meu irmão. Que recordações únicas!
   Com todas estas memórias, deixo-me dormir, com este sol quente a bater-me na cara.
      Passada meia hora a dormir acordo com um abanão arrepiante.
   O quê? Um pássaro encima de mim, no meu peito a olhar para mim com ar de autoritário. Faltaria agora!
   Não me mexo durante uns segundos.  Receio-me de alguma picada que me possa dar.
   Até que ele decide sair de cima de mim e eu levanto-me aliviado.
   Até que reparo que ele trazia agarrado a ele um papel. Ele está a ir embora. Começo a correr atrás dele como se pudesse voar como ele até onde eu quisesse ir. Ele foi-se. Entristeço.
   Questiono-me como é que entristeço só porque um simples pássaro,acho que era um milhafre, feio, preto, com ar de autoritário, se foi embora.
   Mas logo penso, é natural. Todos os pássaros vão e vêm, é assim a vida não é mesmo?
   De seguida, volto para trás. Está um calor! Nem uma pequena brisa de vento passa por aqui.
   Ao chegar ao lugar onde fiz a minha cesta interrompida, apanho o papel do chão que a ave fosca me trouxe. Coitado do pobre bicho, fosca? Não tenho que ser tão mau.
   Bem, decido abrir o papel e vejo tudo menos o que estava pensar ver.