+lunch

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Manter a calma naquele momento era essencial. Mas claro que eu estava bem longe disso. Acho que desesperada era um termo melhor.

Sigo com minhas amigas até o refeitório. Todas estavam muito quietas e fechadas, cada uma encarava a própria refeição. Eu, obviamente, tentei ao meu máximo me segurar para não comer nem uma caloria sequer mas, infelizmente, sou fraca. Me rendi a uma salada. Pessoas normais achariam isso uma opção saudável, mas o meu saudável se iguala a não comer nada.

Comecei a comer com culpa. Era sempre assim, quando estava prestes a completar um dia inteiro sem comer, eu ia lá e estragava tudo. Era como um hábito nojento. Tentava não sair correndo para o banheiro, Angie, totalmente aleatoria, pergunta:

-O que é narcisismo?

-Bom... uma doença? -Anne começa a explicar.

-Doença do Cristiano Ronaldo por assim dizer- Consigo arrancar algumas risadas, mas Angie continuava com a cara fechada.

-A pessoa se importa demais com a beleza, deixa de fazer coisas pela sua aparência e se acha perfeita por assim dizer.- Anne continua e assim começamos um pequeno debate, onde Angie se nega a aceitar a realidade.

Sim, ela era totalmente narcisista, mas ela não aceitava. Ela saiu de lá para digerir a situação e logo, Anne saiu também para arrumar suas coisas para a próxima aula. Sea também foi para outro lugar e eu fiquei lá, encarando meu prato totalemente vazio.

A culpa me preencheu. E logo me dominou. Corri para o banheiro mais próximo e logo miei, vomitei, tanto faz o verbo, mas lá estava eu de novo. Minha garganta ardia e o gosto não era nada bom. E a triste lembrança de que todas as calorias não iam embora me matava.

Me levantei do cubículo do banheiro e me limpei em frente ao espelho. Eu ainda tinha uma aula importante, educação física. E era importante pelo fato de queimar calorias desnecessárias. Mas decidi matar as próximas três aulas. Logo no primeiro dia, que exemplo sou eu.

Peguei um atestado na enfermaria, fingindo uma enxaqueca para a senhora que estava lá e sai. Fui andando até uma farmácia que tinha perto da escola e comprei uma caixa de laxantes. Não iria precisar sair pelo resto do dia e isso seria ótimo.

Andei por cerca de um quilômetro até minha casa, onde me tranquei no meu quarto e tomei 3 laxantes. Um número alto mas que me deixaria com um pouco menos de culpa do almoço. Fiquei por cerca de duas horas trancada no banheiro.

Sim, aquilo era humilhante mas já havia me acostumado. Depois me deixei levar no banho, ficando por mais uma hora. Com lágrimas se misturando com as gotas de água do chuveiro. Mas me distrai com o toque do meu celular. Uma mensagem. Era Johnson, falando que tinha esquecido a chave e que iria passar para buscar comigo pois iria sair com alguns amigos.

Desligo o chuveiro e seco meu cabelo e corpo, colocando somente roupas íntimas básicas enquanto penteava meu cabelo e me encarava no espelho. Eu era nojenta. Gorda. Tantas coisas que eu queria mudar e tirar de mim. Todas as imperfeições. As outras pessoas achavam que eu estava um palito, mas a verdade era que eu estava bem longe de ser uma thinspiration.

Logo batidas na porta começam a ser ouvidas por mim e me dirijo correndo para o andar de baixo, parando somente para pegar as chaves de Jack. Fui somente de roupas de baixo já que era meu primo, aquele que já tomou banho comigo e não era nada de anormal. Éramos irmãos.

Assim que abro a porta, me assusto. Não era meu primo e eu estava semi-nua. Auge.

Era um dos meninos que eu havia falado hoje mais cedo. Ethan, acho. Ei tinha me sentindo atraída para ele e agora ele estava me vendo de lingerie e meu corpo totalmente descoberto. Se antes ele provavelmente já havia me achado estranha, agora ele teria nojo de mim. Quem não teria?

Ele ficou me encarando com uma expressão estranha e eu estava em estado de choque. Após uma eternidade, reuni forças e bato a porta na cara dele. Foi grosseiro, eu sei. Mas o que eu deveria fazer?

-Ethan, qual a dificuldade em buscar uma chave?- Ouço Johnson falando através da porta, com a voz cada vez mais alta. Provavelmente estava chegando mais perto. 

Obviamente, eu não iria aparecer de roupas intimas de novo, o que me faz fazer o esforço indevido de correr escada a cima até meu quarto, onde jogo qualquer roupa sobre meu corpo enquanto ouço Jack me chamando no andar de baixo. Tento correr escada a baixo para acabar logo com aquela situação constrangedora, mas claro que meu corpo tinha que me trair e minha visão tinha que começar a ficar turva. Me seguro no corrimão na tentativa falha de não cair. E tudo fica preto.

Provavelmente alguns minutos depois já consigo ver três caras me encarando, enquanto eu estava deitada no que reconheci como o sofá da sala. Tento me levantar rapidamente, mas sou segurada por Johnson, que me manteve deitada. 

-Maia, você está bem?- O menino que reconheci como Grayson perguntou.

-Claro que não idiota, ela acabou de desmaiar, com que ela estaria bem?- Seu irmão replica rapidamente.

-Calem a boca os dois e deixem ela falar.- Logo que essas palavras saem da boca do loiro, três pares de olhos se viram em minha direção. Que humilhação.

-Eu estou ótima, agora me deixe levantar. -Fui segurada novamente.

-Maia, você literalemente acabou de desmaiar, você deveria estar no hoslital, sim hospital, vamos agora!- O loiro fala afobado e meu desespero só aumenta.

Se eu fosse ao hospital, iriam me receitar uma pilha de exames e com os resultados iriam ver a quantidade de vitaminas e nutrientes que está em falta no meu organismo, e assim, iriam me enfiar um soro extremamente calórico e me encaminhar para a psiquiatria, constatando anorexia nervosa e logo depois descobririam mais alguns transtornos alimentares e de imagem. E, obviamente, este era meu maior medo existente.

-Hospital? Não, não, não e não. - Eles se surpreendem com tamanha relutância da minha parte e tento suavizar- Quero dizer, para que ir à um hospital sendo que foi só uma queda de pressão? Desperdício do meu tempo, do de vocês e dos médicos.

Eles pareceram não estarem totalmente convencidos, então complemento:

-Eu juro que estou bem! Por que mentiria sobre isso?- Pego as chaves no meu bolso- Aqui J, suas chaves. Vocês não iam sair?- Começo a empurrar os meninos em direção a porta.

Já na varanda, Ethan me olhava de um jeito, preocupado talvez, e eu estava totalmente vermelha por conta do que já  havia acontecido.  Aceno para eles e assim que tento empurrar a porta, meu primo a mantém aberta.

-Só, se cuida ok? Assim que eu chegar vou ver se você está bem. Descansa.- Beijou minha testa e saiu com seus amigos.

Sim, era fofa a preocupação dele, mas me assustava. Ele iria começar a ficar de olho em mim, então como que eu iria achar uma desculpa plausível para fugir das refeições? Cada dia, um novo desafio.

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desculpas pelo atraso gente sksksksk
amo vcs

anorexia + e.g.dWhere stories live. Discover now