2 - Vila das Estações

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— Galvão?

— Sim. O chefe do Conselho.

— Achei que o senhor Medeiros fosse o chefe, como sempre.

— Você não soube? O senhor Medeiros faleceu.

— Oh!

Cecília estava triste pela notícia. Lembrava-se do patrão dos pais, João Medeiros, com afeto. Sempre que ele a via lhe dava um botão de rosa e dizia como ela tinha olhos inteligentes e observadores. Era uma pena.

— Meu pai nada me disse. Faz muito tempo?

— Seis anos.

— Isso é realmente uma pena! Dona Filomena deve ter ficado muito triste.

Jude parou e olhou para ela sem jeito.

— Ela morreu antes dele.

Cecília parou de andar, assustada pelas notícias que não eram nada boas.

— Meu Deus! Como meu pai não me disse nada disso? E nem você!

— Sempre tínhamos tantos assuntos e tudo que aconteceu na Mansão das Rosas foi tão triste que não achei que você pudesse se interessar. Não é um assunto muito falado por aqui.

— Tudo que aconteceu?! Como assim?

Jude estava prestes a começar a falar quando um moço alto de cabelos escuros e porte atlético a abraçou por trás e beijou seu rosto. Cecília deduziu que era Thomas.

— Amor! Que bom que você está aqui, quero que conheça Cecília, minha grande amiga. Ela acabou de chegar.

O rapaz tirou a boina e cumprimentou Cecília dando um beijo rápido em sua mão. Era gentil. Aprovado.

— É um prazer conhecê-la, Cecília. A Jude fala muito de você.

— Posso dizer o mesmo, Thomas.

— Posso acompanhá-las?

— Claro — Jude respondeu.

— Deixem que eu leve a mala.

Os três seguiram conversando sobre o calor do verão e um piquenique que aconteceria na cachoeira no sábado seguinte. Logo, o assunto da Mansão das Rosas foi esquecido, mas Cecília permanecia com curiosidade sobre o que acontecera com seu castelo da infância. Será que ainda existiam belas rosas para admirar?

Mauro ficou estupefato com a chegada da filha, pois não fora avisado sobre seu retorno. Cecília percebeu como o pai estava mais magro e como tossia enquanto recebia as visitas. Jude e Thomas não se demoraram, tomaram a xícara de café que Mauro insistiu e logo saíram, deixando pai e filha conversarem.

— Quanto tempo pretende ficar, querida?

— Não pensei nisso, papai.

Ele a olhou por alguns segundos, os olhos estavam fundos, provavelmente pela noite mal dormida. Ele se sentou ao lado dela à mesa.

— Alguém lhe avisou sobre minha saúde, não foi?

Cecília assentiu e segurou a mão do velho pai. Mauro fora casado antes de conhecer Augusta; sua primeira esposa morrera deixando-o viúvo aos trinta e cinco anos. Quando conheceu Augusta, já tinha quarenta, demorou seis anos até que Cecília nascesse, portanto tornou-se pai já perto dos cinquenta. Contava agora sessenta e oito anos e muito cansaço, que estava nítido em suas feições marcadas pelo sol, já que a maior parte da vida tinha sido em campo aberto, colhendo rosas, depois cuidando do armazenamento e, por último, administrando o transporte das flores para outras cidades. Sentia-se esgotado, mas jamais diria isso nas raras cartas que enviava para a filha. Não queria que sua Cecília se sentisse na obrigação de largar tudo na capital e se enfurnasse na Vila a fim de cuidar do pai velho. Apesar do seu silêncio, lá estava ela e parecia pronta para ficar. Isso o emocionou.

— Você tem os olhos de sua mãe — ele disse sorrindo. — Não se sabe se são dourados ou verdes, olhos cheios de vida. Ela teria orgulho da mulher que você se tornou. Está tão linda!

— Ah, papai! Estou tão feliz em ver o senhor depois de todos esses anos!

— Também estou feliz em ver que linda mulher você se tornou, minha Cecília, mas não precisava vir, não para ficar. Tem sua vida na cidade. E posso cuidar de um resfriado sozinho.

— Não vamos discutir sobre minha vida na cidade, minha vida é onde eu estou, então significa que é aqui agora. E nem pense que vai me enganar com essa história de resfriado. Segunda-feira nós daremos um jeito nisso.

— O mesmo jeito mandão da sua mãe.

Cecília riu.

— E se o senhor obedecia a ela, vai fazer tudo certinho comigo, não é mesmo?

— Vejam só, depois de velho, ganho uma moça para mandar em mim!

Os dois riram, Cecília o abraçou forte e sentiu lágrimas brotando. Deixou que o choro saísse, mesmo que não soubesse o motivo exato. Talvez fosse por estar de volta, talvez fosse por estar com o pai, talvez fosse pela saudade da mãe que surgia mais forte por estar em casa. Ou talvez fosse tudo junto, o que era mais provável. 

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Espero que se apaixonem pela Vila como eu me apaixonei!

Não esqueçam de curtir e comentar! 

Beijinhos

Quando a música morreu (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora