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Já está amanhecendo e eu não consegui dormir, levanto disposto a dar uma bela caminhada e respirar um pouco. Depois de tomar outro banho e me vestir, abro a porta do quarto me surpreendendo quando vejo minha mãe prestes a bater na porta.

"Bom dia Frank."

"Oi mãe." Engulo seco tentando sair do seu olhar sério.

"Precisamos conversar." Profere me fazendo fechar os olhos.

"Mãe, por favor."

"Não tem por favor Frank Constantini, eu sou sua mãe e se eu digo que vamos conversar você não retruca, simplesmente me obedece." Cruza os braços com uma expressão ameaçadora. Bufo e faço o que ela quer.

Sigo-a até seu quarto, querendo ou não vamos voltar aquele dia, o maldito dia do incêndio. Eu sabia que um dia ou outro teríamos que ter essa conversa. Não posso viver a vida inteira ignorando essa merda.

E, estranhamente depois de ter beijado Eve, eu me sinto encorajado e encarar a realidade dolorosa daquele dia.

"Você não é mais um menino, Frank. Você precisa encarar de frente os traumas e parar de ser esse homem fechado e amargurado com tudo e todos." Ela começa.

"Não sou amargurado! A senhora não entende que eu poderia tê-lo salvado? Me sinto um inútil, fraco e incapaz! Ele poderia estar aqui agora, no aniversário da mãe dele, mas não está por minha causa, a senhora não entende, e difícil olhar em seus olhos e ver a mágoa refletida neles" Exclamo num lamento e toda a dor desperta.

"Eu não te criei um egoísta, Frank. Você não percebe que eu perdi não só um filho, mas sim dois? Já não bastasse Fabrizio, mas também você! Você me abandonou e se trancou dentro de uma bolha de luto somente sua enquanto eu tive que suportar a ausência dele e a sua também. Eu nunca te culpei, ninguém te culpou! Eu só queria o meu outro filho no momento mais doloroso da minha vida e você simplesmente o fez ainda pior, indo embora e me deixando sem você. Não tinha apenas o policial Frank naquela operação, haviam outros lá, outros também morreram como heróis e você tomou toda a culpa para si, machucando todos ao seu redor." Desabafa com a voz embargada e olhos marejados. 

" Não entende, eu pedi para ele dá o máximo de si na operação, eu falei que iria ser uma ótima chance para crescer. Você entende o quão horrível eu fui? Enquanto tinha pessoas ali correndo risco eu estava sendo egoíta."

"Você não tem a porra da culpa Frank, era para ser, e quando é para ser não tem nada que possamos fazer, eu só não quero perder você também, porque pior do que perder um filho para a morte é perder um para a vida."

Todas as suas palavras caem em mim como um choque de realidade, fizeram efeito e eu posso enxergar agora claramente como eu fui um filho da puta desgraçado e egoísta, quando só pensei em me culpar e esqueci da dor da perda da minha mãe, que como ela disse... Perdeu dois filhos, um para a morte e o outro para um luto deprimido.

Meu coração está acelerado e apertado, eu fui tão imbecil e agora uma culpa pior me corrói, a de ter deixado a minha mãe sozinha com a pior dor que uma mulher poderia sentir, a de perder um filho. Se doeu como o inferno a morte do meu irmão, imagina ela que perdeu seu filho caçula e automaticamente teve minha ausência durante anos, me perdendo também de certa forma.

Eu ainda estou em silêncio e não tenho coragem de abrir a minha boca. Minha mãe soluça de dor e eu sinto a garganta apertar de forma agonizante para não derramar lágrimas.

Tudo aconteceu em uma operação da polícia em uma escola, na qual havia entrado um homem armado ameaçando explodir o local e fazendo várias pessoas reféns. Nesse dia, reuniram-se muitos da polícia de todas as áreas, bombeiros, militares do exército, detetives e médicos. Fabrízio estava lá, em seu primeiro trabalho grande como bombeiro, assim ele costumava dizer. Ele estava tão orgulhoso de si mesmo.

Enquanto a polícia tentava uma negociação, todos estavam prontos para entrar a qualquer momento e foi quando de repente o homem explodiu uma bomba lá dentro e começou um incêndio grande e destruidor. Todos que estavam do lado de fora entraram desesperados para tentar salvar o máximo de pessoas possível, eu juntamente com todos das equipes que estavam lá em seus postos.

A fumaça estava forte, gritos e mais gritos desesperados, crianças e professores feridos pedindo socorro, eu não podia deixar meu lado sentimental me dominar. O fogo estava ficando ainda mais forte e cada pessoa que eu carregava para fora era um alívio para mim, eu estava me sentindo um herói.

Foi então quando avistei Fabrízio saindo pela janela do segundo andar com duas crianças em seus braços, ele estava seguro com o cinto do carro de bombeiros, desceu os meninos e voltou para dentro e então ouviu-se uma outra gritaria dizendo que havia outra bomba prestes a explodir.

Não houve mais tempo, eu tentei gritar para ele sair. Mas foi em questão de segundos, eu só consegui tirar mais uma criança até que explodisse novamente e não sobrar pedra sobre pedra daquele edifício.

As lembranças me fazem desabar no chão do quarto da minha mãe, um choro contido por anos, uma mágoa escondida, uma dor escura. Até que sinto os braços maternos que sempre me acalmaram, entrelaçar meu corpo.

Nossas lágrimas se misturam quando eu me permito finalmente sofrer a perda do meu irmão, consolando e sendo consolado pela minha mãe.

"Mãe, me perdoa... Eu me arrependo tanto de ter me afastado." Lamento sem sair do seu abraço.

"Te perdôo filho. Eu te amo e senti tanto a sua falta." Ela chora acariciando meu cabelo.

As lágrimas cessam aos poucos enquanto ainda estamos abraçados.








Comentem bastante para o próximo sair amanhã em comemoração ao 10k de leiturasss... Cês são maravilhosas♥️♥️

ImEmili

Um Segundo Para Se Apaixonar © [COMPLETO]Where stories live. Discover now