Capítulo XXIII - O Assassino de Amirom (segunda parte)

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"Cale-se! Afasta-te de mim! Mentiras! Corrupção!"

Amirom ajoelhou-se encolhido no chão na relva, tampando os ouvidos invocando sua fé. Lúcifer então falou e sua voz se fez ouvir na mente de Amirom.

"Vá então pobre coitado, mas não tampe os ouvidos na esperança de não me ouvir, porque eu estou em ti também, eu sou como a voz da razão em sua mente... Digo-lhe mais, que ao fim desse dia, se não abandonar teu caminho, Tu estarás morto sobre uma poça de seu próprio sangue..."

Um vento forte bateu sobre a planície arrancando as flores, e Lúcifer se desfez em pétalas carregadas pelo vento entre borboletas douradas. Amirom estava fraco caído ao chão, por fim, chorou.

Longe dali, uma criança vestida com trapos escondia-se em um bosque. Suas lágrimas eram mais puras que os rios próximos. Ao menor sinal de movimento ela corria e se escondia nas sombras acompanhada apenas por sua tristeza.

"Naamã por que se escondes?"

A criança se assustou com a voz que vinha de algum lugar no bosque, mas sentiu-se confortável com a pronúncia de seu nome e com o olhar infantil perscrutava pelo seu interlocutor.

"Quem está aí? Como sabe meu nome?"

"Eu sei muitas coisas criança, exceto porque se escondes dos homens, eles deveriam louvá-la como um deus..."

Entre os raios do sol que penetravam entre as árvores, um ser iluminado surgiu, com suas vestes brancas como lã da mais pura ovelha. Seus cabelos loiros tinha um brilho tão intenso que a criança forçava os olhos para conseguir admirá-lo. Lúcifer havia chegado ao terceiro Nefilin antes de Amirom.

"Você é um anjo?" Ela perguntou com uma expressão espantada.

"Talvez, quem sabe como você..."

"Mas eu sou um demônio, todos dizem isso".

"O quão tolos eles são, temem tudo o que não conhecem. Mas você é um anjo, me mostre Naamã..."

A criança estava confusa diante do ser belo e iluminado, mas obedeceu lhe. Retirou os mantos sujos que usava ficando completamente nu diante dele que sorriu quando viu que a criança possuía uma asa, apenas à direita.

"Veja que criatura linda". Ele disse enquanto acariciava a asa de Naamã.

"Mas sempre me disseram para esconder, que era feio e pecaminoso". A Criança disse voltando a chorar silenciosamente.

"Feio e pecaminoso? São eles, você é lindo. Não deves esconder o que verdadeiramente se é. Eles queriam ser como você, mas eles não são dignos, por isso a inveja os leva a amaldiçoarem sua existência. Contudo criança, não deve negar sua natureza, não há crime maior que esse, seja o que você é..."

"Entendo..." Ela respondeu com os olhos brilhantes que refletiam a luz daquele ser tão belo e encantador quanto as suas confortáveis palavras. Andou até ele e o abraçou com um sorriso de felicidade.

Amirom cruzava os campos floridos arrastando os passos. A beleza já não era tão encantadora aos seus olhos, em sua mente palavras gritantes, Já não sabia a natureza de sua missão pensava se todos, e não apenas esses bastardos da criação mereciam um julgamento. Pensava até onde a criatura devia servir ao criador. Andou por horas que pareciam dias em sua mente e ao se sentir doente sentou-se em uma arvore caída do bosque a que acabara de chegar.

"Pai, porque permitiste que ele me contaminasse com sua doença. Como posso realizar uma tarefa se a dúvida ameaça a sua causa em minha alma?"

"Estás sozinho e entregue a loucura ancião?" Uma voz veio detrás de uma das árvores cujas flores caiam no chão ao simples toque do vento.

Amirom olhou na direção da voz e viu uma criança que se escondia atrás da árvore deixando apenas o lado esquerdo de seu rosto à mostra.

"Criança, está perdida? Ou apenas brinca nesse bosque?"

"Escondo-me de homens que me querem mal".

"Por que eles querem mal a uma criança indefesa como ti?" Amirom perguntou com certa estranheza diante da situação.

"Dizem que não sou normal, me chamam de aberração". A criança respondeu com um olhar lamentoso.

"Não imagino o porquê. O que os levou a um julgamento severo assim?"

A criança saiu detrás da arvore revelando seu corpo. Estava vestindo um manto branco limpo, mas que revelava a sua única asa para o espanto brotar na face do velho eremita.

"Criança, a providência divina nos fez ter esse encontro. Trago a dádiva dos anjos, com ela poderei livrá-la dessa maldição para que uma nova vida seja construída por vós junto aos seus irmãos mortais". Amirom ergueu o cajado sobre a cabeça da criança.

"Velho ancião, eu agradeço, mas cometeu um engano". A criança disse em um tom tão serio quanto sua expressão, enquanto segurava o cajado travando forças com Amirom.

"O que está fazendo?"

"Eu não vou me juntar a essa raça como um irmão, mas como um rei. Tu como eles... apenas me inveja! Por isso quer retirar minha natureza divina!".A criança gritou e quebrou o cajado no meio.

"Tu é que cometes um engano!". Gritou inutilmente Amirom antes de ter o peito penetrado pela metade do cajado que a criança empunhava.

"Complete minha alma! Mas para ser de natureza não humana!". Ela gritou sobre o corpo de Amirom e a luz verde se fez sobre eles como o clarão de uma explosão que despertou os animais do bosque, que temerosos fugiam descontroladamente.

Quando a luz se desfez, Amirom estava caído sobre uma poça de seu próprio sangue. A criança agora era um adulto. Ainda tinha sua asa de anjo, mas, uma asa esquerda também se movimentava. Era a asa de um demônio. O único demônio sobre a face da Terra...

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimWhere stories live. Discover now