Capítulo XI - A Espada de Miguel

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Uma noite linda de céu estrelado. A cidade com seus prédios e luzes competiam em beleza com a natureza. Olhando tudo por uma parede de vidro em um grande arranha-céu, um homem de cabelos grisalhos trajando um terno branco que tinha um cinto mais largo que o outro caindo de lado, onde uma espada ricamente detalhada em ouro repousava em uma bainha. Junto dela um coldre carregava uma arma prateada de seis tiros cujo cabo de marfim trazia gravado a imagem de uma cruz.

"O homem tem tantos dons. Veja como ele "humaniza" as coisas, nenhum outro animal é capaz de exercer essa força sobre a natureza, por isso devemos agradecer a Deus por todos esses dons. Não é mesmo caro amigo?" O homem se vira para a mesa do escritório onde um computador tinha na sua tela a imagem de um velho transmitida via internet a milhares e milhares de quilômetros de distância.

"Sim Simon, mas o homem se perde nesse poder bem como sabemos, nega o senhor, e muitas vezes se entregam à outras forças. Por isso temos nossa missão. Mas me diga o que queria falar comigo? Pedir ajuda? Sua investigação ao culto está dando muito trabalho?" O velho perguntava com os dedos cruzados e cotovelos sobre a mesa.

"A esmeralda do anjo Rafael, preciso dela para completar a missão, O culto não é uma fraude como suspeitamos, há uma entidade muito poderosa por trás dele. Um demônio que se manifesta através de duas jovens gêmeas..." Simon dizia enquanto se sentava, mas foi interrompido bruscamente.

"Como poderia permitir que um artefato de tamanha importância e poder, saia daqui? Tem idéia do perigo que corremos caso ele caia em mão erradas? Além do mais, estamos atentos à "profecia do anjo negro" que é nossa prioridade. Para mim a missão é clara. Você descobriu a origem das manifestações demoníacas, agora devemos purificá-las". O velho apontou o dedo para as armas de Simon como quem quer advertí-lo e lembrá-lo de seu dever como guerreiro da Ordem da Espada de Miguel.

"O senhor é meu mestre, me ensinou tudo o que eu sei. Realizei várias e importantes missões para nossa ordem, devia confiar mais em mim. Eu sei o que estou fazendo. Essas jovens não merecem morrer, investiguei a fundo suas vidas e descobri que são apenas marionetes, vitimas de uma mente maquiavélica". Disse Simon em um tom humilde e respeitoso para com o velho de face inabalável.

"Simon! Deixemos que Deus julgue sua inocência. Temos que deter todo tipo de manifestação das forças do mal". Dizia o velho tentando manter o nível de voz diplomaticamente fluente, mas com olhos que expressavam certa tensão e preocupação com as atitudes de Simon.

"O tio delas! foi ele! Planejou a morte dos pais das garotas quando ainda eram crianças, para assumir sua guarda. Ele sabia que elas detinham um poder fragmentado de um demônio, por sinal. É ele quem criou e organiza todo o culto. Essas jovens são extensões da vontade desse homem condenado". Argumentava Simon com fervor.

O velho se calou por um tempo. Fechou os olhos como em uma reflexão profunda sobre o caso e Simon respeitosamente esperou até que ele se manifestasse.

"O que quer dizer com fragmentado?" Perguntou o velho buscando motivos para si mesmo para ajudar Simon de alguma maneira como um pai que sofre com a angústia do próprio filho.

"A alma de um demônio está dividida em seus corpos. Elas só podem manifestar seu poder quando juntas...".

"Como descobriu isso?"

"Eu... Conheci uma delas... Ela me contou tudo..." Respondeu Simon um tanto quanto relutante em revelar sua aproximação com Dalila.

"Como se envolveu tão diretamente assim?" O velho fala em tom mais alto e com uma expressão de preocupação.

"Ela me falou de sua dor! De como não quer continuar com isso, mas não sabe como parar. Eu prometi, dei minha palavra que iria salva-la!" Simon perde a paciência e bate na mesa com força.

Os dois se fitavam em silêncio por alguns minutos, Simon estava determinado, sabia que a outra irmã não se importava com nada, que adorava seus poderes e todo o culto em torno dela. Mas aquela doce criatura que chorou em seus braços, ela não merecia todo aquele sofrimento. A velha história de uma gêmea boa e outra má não convenceria seu mestre a correr tanto risco.

"Eu lhe imploro, por tudo que já realizei pela ordem, permita me salvar aquela criatura. Ela tocou meu coração e sinto que essa é a maior missão da minha vida, livra-la dessa maldição." Simon fechou os olhos e baixou a cabeça juntando as mãos como se estivesse diante de um padre prestes a conceder a hóstia consagrada.

"Espada de Miguel, eu confio em sua perspicácia, sei que poderes não poderiam lhe influenciar já que é um de nós e sabe como sobrepujar toda a influência do mal. Por ser um dos melhores lhe concederei esse pedido, salve-a. Enviarei reforços para proteger o artefato e ajuda-lo na missão".

"Agradeço meu pai, não vou desapontá-lo". Disse Simon visivelmente mais calmo.

"Sei que não vai meu filho. Que Deus o acompanhe e que conceda sabedoria para entender o que fazer e força para concretizá-lo". Disse o velho fechando os olhos como se fizesse uma oração para Simon.

"Amém".

A tela do computador se fechou, Simon se virou na cadeira olhando novamente para a janela com a bela vista da cidade e sorriu aliviado.

"Em breve meu amor, muito em breve estará junto a mim. Libertarei sua alma da maldição". Disse ele com brilho nos olhos.

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimWhere stories live. Discover now