I Only Trust You

2.4K 194 2
                                    

Fui até a cozinha e me escorei na pia. Como ele ousa insinuar que eu seria egoísta o suficiente para deixar alguém da minha família morrer? Aquele filho da mãe...

--Cadê ele? -- Ouvi Izzy perguntar.

--O garoto estava bem ali. -- Disse Sophie. -- Como ele sumiu assim?

Arregalei os olhos. Droga, eu não devia ter deixado ele sozinho com os outros. Claramente o garoto se assustaria com um monte de desconhecidos o encarando quando acordasse. Por que eu nunca raciocino direito quando estou com raiva?

Estava prestes a fazer o caminho de volta para o quarto quando senti uma mão segurando meu braço, não precisei olhar para trás para saber quem era.

--Ninguém aqui vai te machucar. -- Tentei tranquilizar o garoto, mesmo sem conseguir vê-lo. -- Eles são meus amigos, você pode confiar neles.

--E-Eu só confio em você... -- Henry murmurou com a voz meio falha e finalmente se tornou visível novamente. Ele parecia um tanto ansioso, mais do que quando me ligou, e não olhava nos meus olhos, ficou o tempo todo de cabeça baixa.

--Tudo bem... -- Olhei sua mão apertando a borda da mesa com tanta força que sua pele começou a ficar branca. -- Você tá bem?

--Nós podemos... Ir para outro lugar? -- Henry perguntou com a voz trêmula. O que assustava tanto aquele garoto?

--Okay... Tem algum lugar em que você se sinta seguro? Um lugar calmo?

Henry assentiu freneticamente enquanto arrumava os óculos de armação redonda. Tirei o anel que havia ganhado do irmão Zachariah e entreguei a ele, explicando o que deveria fazer para que nenhum de nós se perdesse durante o caminho. Assim que Henry entrelaçou sua mão com a minha ouvi meu nome ser chamado, passos se aproximavam da cozinha. O garoto pareceu se desesperar mais e girou o anel de uma vez fazendo o mesmo choque de sempre nos atingir em cheio.

Ainda estava de olhos fechados quando senti o ar frio se chocar contra o meu rosto. Abri os olhos e olhei em volta, estávamos em algum lugar cercado de neve, com um lago congelado um pouco a frente e aparentemente no meio do nada.

--Gosta do frio? -- Perguntei para Henry que olhava em volta parecendo mais aliviado.

--Sim. -- Um sorriso discreto apareceu em seus lábios. -- Faz com que eu me sinta vivo.

--É... Acho que eu penso a mesma coisa... -- Olhei para ele brevemente antes de voltar meu olhar para a paisagem. Era tudo tão calmo, tão silencioso, parecia um mundo paralelo ao que eu vivia. Mundo esse no qual por um momento eu desejei me refugiar, sem ter que me preocupar com o que acontecia lá fora. Mas eu sabia que não podia fazer isso, não podia simplesmente virar as costas para aquela quantidade de crianças que sofriam com os experimentos. Simplesmente não podia.

Depois de um tempo apenas observando tudo a nossa volta, Henry e eu adentramos uma cabana feita de madeira que se escondia em meio às árvores. Me lembro de desejar morar em uma dessa quando era adolescente, tinha muita pressão sobre mim naquela época e eu queria me livrar de tudo, se bem que não é como se fosse diferente de hoje em dia.

--Por que você me ligou hoje mais cedo? -- Perguntei enquanto nos acomodávamos na sala.

Henry parecia mais relaxado, mas ainda haviam resquícios de ansiedade em sua expressão e no modo como seus dedos batucavam freneticamente em sua perna. Me pergunto se ele sempre foi daquele jeito ou se ainda estava em choque pelo que aconteceu.

--Meu... Meu padrasto... -- O garoto começou a dizer enquanto mantinha seu olhar fixo no chão, possivelmente se sentia mais calmo ou seguro de não olhasse nos olhos das pessoas. -- Foi meu padrasto que recomeçou o Black Blood.

Arregalei os olhos. Então por que ele me chamou? Senti meu coração acelerar um pouco, como se estivesse sentindo que havia algo de errado naquilo. Isso tudo era uma armadilha? Por isso ele estava tão nervoso?

POV'S Jian

--Eu juro por seja lá quem for que estiver lá em cima que eu te mato se acontecer alguma coisa com a minha irmã, Herondale. -- Hyunjae ameaçou andando em círculos na sala de reuniões.

--Jae, calma aí. -- Segurei seu braço, o obrigando a se sentar ao meu lado.

Katrina não dava notícias a 36 horas e aquilo estava deixando todos nós malucos. Os Kim culpavam Jace,  eu culpava o Jace, metade da nossa família queria matar ele por ter feito ela simplesmente ir embora com aquele garoto. Se é que ela foi embora e não sequestrada. A segunda opção é bem mais provável.

--Ela ainda não ligou? -- Mayleen perguntou, adentrando a sala. Todos nós negamos com a cabeça. -- Raphael disse que vai procurar por New York e pedir para seus amigos de outros países ficarem de olho. Graças aos anjos ela tem muitos aliados nessa cidade.

Novamente, o silêncio se estabeleceu na sala. Passamos as últimas 24 horas procurando por ela, quase revirando New York de ponta cabeça e tentando não brigar com ninguém do Instituto Local. Primeiro o Marcus e agora a Katrina, acho que nenhum de nós aguentaria perder mais alguém.

--O que nós sabemos sobre esse tal de Henry? -- Alec perguntou, depois de um tempo tentando falar com o namorado feiticeiro. Possivelmente Magnus não atendeu.

--Quase nada. -- Izzy suspirou. -- Só que ele tinha respostas sobre o Black Blood. Marcus disse que o garoto sabia de muita coisa.

--Espera, Marcus? -- Byun encarou a morena, assim como todos nós. -- Vocês falaram com ele?

--Desculpem, com isso tudo eu esqueci de contar.

--O que ele disse? -- Perguntei.

--Ele ligou procurando o Henry, ficou desesperado quando a Kat disse que o menino tinha sumido. -- Izzy explicou, alternando o olhar entre todos nós. -- Foi quando ele disse que a Kat tinha que achar o Henry, porque ele ajudaria a acabar com tudo isso.

--Como vocês duas tinham tanta certeza de que era o Marcus? -- Ryan perguntou, desconfiado como sempre. Mas ele tinha razão. -- Quem garante que não era alguém se passando por ele?

--Droga... Eu não tinha pensado nisso.

--Nós temos que achar ela. -- Soltei um suspiro cansado enquanto coçava os olhos, não dormi desde que ela sumiu.  Olhei para os membros da minha família e comecei a falar em mandarim. -- Vocês sabem o motivo, o que corre nas veias dela pode tanto ser uma bênção quanto uma perdição.

Eles apenas confirmaram com a cabeça.

--Nós vamos ajudar vocês. -- Clary se manifestou pela primeira vez sem ser para defender Jace. -- Ela também fazia parte desse Instituto, também fazia parte da nossa família.

--Quando você é da família de alguém não existe só cumplicidade ou lealdade. Existe confiança, principalmente confiança, a nossa família foi criada a base disso. -- Disse Ryan enquanto se levantava da cadeira, dava para sentir que ele estava segurando a raiva. Ele sempre foi o racional e calmo da família, eu era o explosivo, mas aparentemente hoje nós invertemos os papéis. --  Então não venham me dizer que ela é da família quando vocês mesmos apontaram o dedo na cara dela e insinuaram que ela deixaria o próprio irmão morrer para se proteger. Vocês já fizeram o suficiente.

Dito isso, ele deixou a sala. Os Kim mais novos foram atrás, depois Mayleen e por último eu. Nós tínhamos que achar ela. Isso era tudo que se passava na minha cabeça e tenho certeza que na dos outros também, Ryan principalmente. Ele já perdeu um irmão, não iria se perdoar se perdesse uma irmã. Eu também não.

Filha do SilêncioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora