Save Me

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Não dei tempo para ninguém ter nenhum tipo de reação, apenas girei o anel em meu dedo, me concentrando no lugar onde eu queria chegar. Meu Deus... A sala da casa estava uma zorra, a mesa de centro estava quebrada, assim como o abajur, o jarro de flores e um porta retrato. Havia uma faca ensanguentada perto do sofá e...

--Nossa...

Havia o corpo de um cara caído atrás do sofá, ao ver quem era eu não sabia o que sentir, mas uma coisa era certa, já passou da hora desse miserável ir para o inferno. Me aproximei do corpo, me abaixando ao seu lado para checar a pulsação, morto.

--Pena que eu não tive a honra. -- Digo entre os dentes, mesmo sabendo que ele não estava me ouvindo. -- Tomara que você queime no fogo do inferno seu desgraçado, por tudo o que você fez com ele, por tudo que você fez com a mãe dele.

Tudo bem que é errado falar esse tipo de coisa para um morto, mas esse cara merecia uma morte lenta e dolorosa por tudo que ele fez. Soltei um suspiro, me levantando e subi as escadas, haviam algumas marcas de sangue na parede, parecia até coisa de filme. Fui abrindo as portas pelo corredor, até achar uma que estava trancada, ele está aqui...

Usei a estela para desenhar uma runa na porta, fazendo a mesma se abrir. Não havia ninguém no quarto, ou no que restou do que um dia foi um quarto e agora se encontra quase tão destruído quanto a sala. O barulho de água adentrou meus ouvidos e eu fui andando em passos lentos até o banheiro, abri a porta, encontrando Jian encolhido em baixo do chuveiro, enquanto a água caía sobre ele.

Adentrei o box, fechando o registro, e estendi minha mão para o garoto, que a encarou por um tempo antes de segurá-la. Ainda havia uma mancha de sangue enorme em sua blusa que havia deixado de ser branca, assim como havia um pouco de sangue seco em seus braços e rosto. Sem pensar duas vezes o puxei para um abraço, sem me importar com o fato de ele estar todo molhado, Jian afundou o rosto no meu ombro e começou a chorar enquanto eu o apertava forte.

--Hey, se acalma... -- Sussurro acariciando seus cabelos. -- Eu estou aqui, okay? Por você, com você e pra você.

Jian assentiu, ainda chorando, e me apertou forte. Depois de um tempo, ele se recuperou e lavou o rosto e os braços para tirar o sangue. Nós não trocamos muitas palavras, apenas pedi para ele tomar um banho e trocar de roupa enquanto eu arrumava uma mochila com algumas trocas de roupa dele. Não vou deixar o garoto aqui.

Fechei o zíper da mochila e me sentei na cama enquanto esperava ele sair do banheiro, mandei uma mensagem de fogo para o Instituto local, inventando uma história sobre a morte do pai do Jian, que eu sabia que eles iriam acreditar.

--Você vai ficar um tempo comigo no Instituto de New York. -- Digo quando o garoto sai do banheiro e ele assente, se sentando ao meu lado na cama. -- Eu sei que é uma pergunta idiota, mas como você tá se sentindo?

--Sinceramente? Eu estou... Aliviado. -- Jian franziu o cenho fitando o nada. -- Mesmo que isso seja errado.

--Eu não sei se "errado" é a palavra. -- Digo em um suspiro, Jian sabia que se eu pudesse, já teria matado o pai dele á muito tempo.

--Mas também não foi certo. -- Ele deu de ombros e eu fiz o mesmo. -- Como você soube?

--Eu senti. Era como se... eu visse as coisas através dos seus olhos. -- Explico com o cenho franzido, aquilo nunca havia acontecido comigo antes. -- Foi estranho... Mas enfim, vamos?

Jian assentiu, pegando a mochila de minhas mãos e nós entrelaçamos nossas mãos, o anel não era tão forte, mas conseguia transportar duas pessoas para um determinado lugar. Aparecemos no corredor dos dormitórios, que por sorte estava deserto.

--Vamos voltar aos velhos tempos? -- Jian pergunta sorrindo fraco, no momento em que adentramos o meu quarto. Soltei um risada nasal.

Em uma das missões que tive na Ásia, eu tive que dormir no mesmo quarto que ele, na mesma cama, e aquilo meio que virou rotina. Nossos amigos zoaram com a nossa cara uma semana.

--Por hora. -- Dei de ombros e ele sorriu, jogando a mochila em cima da cama. -- Olha, eu vou falar com uma pessoa e... Você pode ficar à vontade, só não encosta no Yin Fen, nem na minha gaveta de calcinhas.

Jian riu fraco e assentiu, enquanto eu saía do quarto. Você deve estar se perguntando de onde esse garoto saiu e por que eu me importo tanto com ele. Deixe-me explicar.

Quando eu tinha apenas 15 anos, o diretor de um instituto na China se interessou por mim e eu fui transferida para lá, onde conheci um grupo de caçadores de sombras bem novos, um deles era o Jian. Nos tornamos inseparáveis, nós morávamos em uma casa parcialmente grande, éramos como irmãos e Jian era meu protegido, como um irmão mais novo. Agora o pai dele é outra história, a qual não estou disposta a lembrar.

--Alec, posso entrar? -- Pergunto colocando a cabeça na fresta da porta e Alec assentiu.

--Você tá bem? Por que saiu daquele jeito? -- Suspirei fechando a porta atrás de mim e me sentei na cadeira á frente dele.

--Eu precisei ajudar um amigo, na verdade, é por isso que estou aqui. -- Alec me encarou, esperando que eu continuasse e assim fiz. -- Esse... meu amigo cometeu um assassinato, auto defesa, e... Eu trouxe ele para cá.

--Ele é um de nós?

--É... Ele é de um Instituto da China. -- Respirei fundo antes de continuar. -- Eu só... quero garantir que ele não sofra com o trauma, não sozinho. Tudo bem, estou falando demais. O ponto é: Eu quero saber se o Jian pode ficar aqui, por um tempo.

--Você parece se importar muito com esse garoto... -- Alec comenta sorrindo fraco e eu abaixo a cabeça, com um sorriso de canto. -- Tudo bem, ele pode ficar. Acho que tem alguns dormitórios vagos...

--Por hora, ele vai dormir no meu quarto. -- Alec me encarou com um olhar meio malicioso e eu soltei uma gargalhada. -- Para!

--Mas eu não fiz nada! -- Ele se faz de desentendido e eu reviro os olhos, ainda rindo.

--Idiota. -- Reprimi um bocejo. -- Mas enfim, é por causa dos pesadelos.

--Kat, quando foi a ultima vez que você teve uma boa noite de sono? -- Alec me fita e eu comecei a buscar no fundo da minha mente, o que fez ele soltar uma risada nasal. -- Vai dormir. Esquece os problemas, pelo menos por hora.

--Vou tentar. -- Sorri me levantando. -- Boa noite, Alec.

--Boa noite...




Filha do SilêncioOnde as histórias ganham vida. Descobre agora