Parte 2

61 1 6
                                    


Foi só quando saiu do automóvel que percebeu que elas estavam machucadas. Suas roupas surradas e sujas causaram tanto desconforto em Clarice que ela foi obrigada a ficar de pé ao lado do veículo, olhando para as duas.

- Por quê estão aqui? – Clarice gritou.

As duas gritaram algo, mas ela não conseguiu entender.

- Falem mais alto!

- O carro! Explodiu! – berrou a menina, o pânico visível em sua voz - Perto da gente!

Clarice franziu o cenho, pensando no que poderia fazer para ajudá-las. Então pegou sua bolsa de dentro do carro e caminhou até as duas.

- Estão muito machucadas? – ela perguntou.

A linda garota com os olhos azuis marejando olhou para a avó. A idosa aparentava ter uns oitenta anos de idade, e Clarice se surpreendeu quanto ao fato de a velha continuar de pé, mesmo com a testa e a perna sangrando.

- Puxa – admirou-se – Olhe, vocês duas, vão até meu carro. – E após as duas entrarem nele, Clarice entrou, conduzindo o veículo até a rua que ficava atrás do banco, onde estacionou na outra calçada. Achou que ali estaria segura. A senhora e sua neta ficaram caladas durante todo o trajeto. A mulher concluiu que as duas não eram muito de papo.

Esperando tudo se acalmar, Clarice ficou sentada ao volante, agradecendo por finalmente ter tempo de retocar o batom. No entretanto, se assustou quando escutou a sirene das viaturas se aproximando, e xingou baixinho por ter borrado a bochecha. Olhou para o relógio: nove e trinta e um. Um minuto atrasada. O que está acontecendo lá dentro? Pensou, abrindo a janela.

Quando ela olhou para o retrovisor e viu os carros da polícia se aproximando, quatro homens saíram do banco pela porta dos fundos vestindo paletós pretos e óculos escuros, e as sacolas com dinheiro que seguravam pareciam estar mais pesadas que as armas no coldre.

Animada, Clarice destrancou as portas do veículo e ligou o carro, aguardando seus parceiros entrarem.

- Por quê se atrasou? – perguntou o que acabara de sentar no banco do carona.

- Empecilhos – Clarice respondeu em seco, o carro já em alta velocidade.

Os três homens de trás atiravam nas viaturas que os seguiam. Só pararam o tiroteio quando a da frente estourou os pneus, impedindo as de trás de continuarem a perseguição. Mas os policias já estavam dando a volta, efetuando tiros no carro de Clarice pausadamente.

- Acelera isso, Clarice! – gritou um dos homens de trás.

Quando chegaram numa estrada de terra, já fora da cidade, eles pediram a ela que parasse, pois precisavam de mais munição e armas que estavam na traseira do veículo. Ela encostou o carro e os cinco saíram para se organizar.

O homem que estava no banco do carona bateu a porta e se encaminhou para a parte de trás do automóvel, abrindo o porta-malas.

E o cheiro de morte invadiu o lugar.

- Porra, Clarice! De novo isso! – berrou o indivíduo, enojado com o que via.

Jogados feito bonecos, havia um policial, uma idosa e uma menininha de oito anos; os três mortos mergulhando no sangue que inundava o pequeno espaço. Um buraco de bala preenchia a testa do agente, e a parte inferior do seu rosto estava destroçado; as costas das outras duas estavam completamente furadas, evidenciando o tiro a queima roupa; os olhos cor de mar da menina perderam a luz, e a pobre senhora empalidecera. O sujeito que segurava o porta-malas ao mesmo tempo que contraía o estômago pegou as armas e munições cobertas de sangue e o fechou, comunicando aos outros que resolveriam esse problema depois.

Eles entraram no carro e seguiram adiante, resmungando. Clarice, dessa vez no banco de trás, olhou para a abertura de sua bolsa em seu colo, onde o cano quente da pistola insistia em aparecer. Depois, inutilmente, tentou limpar o sangue do policial que manchara seu vestido, porém ela não ligou; combinava com o vermelho do lenço.

O grupo seguiu viagem. A polícia já não estava mais em seu encalço, e olhando a vegetação rasteira que se formava do lado de fora, Clarice sorriu ao perceber que tudo dera certo.

Como ela disse que daria.










E aí? Esperavam esse final? Vote e comente!!!

EmpecilhosWhere stories live. Discover now