A maldade é inerente ao homem

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A maldade é inerente a o homem

Foi machado de Assis quem propôs isso, mas eu já comecei a perceber que essa era a verdade mesmo aos meus 12 anos de idade, antes mesmo de ler Machado de Assis e os clássicos da literatura brasileira.

Não sei como começar isso. Uma história é sempre uma história, mas nem sempre é uma história boa.

A minha história não é boa.

Pois bem, eu tive uma professora na quinta série que me chamava de maria-joão, desde então eu comecei a comparar a forma como todos no mundo precisavam ligar uma mulher ao homem. Nunca estamos sozinhas. Essa ideia, dentro da cabeça de uma criança 12 anos, sucumbiu uma coisa que foi crescendo mediante eu ficava mais velha, tipo uma bola de neve, tipo não, como uma bola de neve.

Mas não foi só ali, na oitava série, os apelidos foram ficando mais agressivos. Dali para cá muitas coisas perderam o sentido. Lembro também que algumas meninas tinham medo e nojo de sentar ao meu lado porque eu usava calça pega marreco e tênis, o medo era porque elas pensavam que eu fosse atacá-las com um beijo ao algo assim.

Ali, comecei a questionar sobre minha sexualidade. Eu só tinha 12 anos, mas eu já estava sendo obrigada a refletir sobre isso. Eu não pensava em nada relacionado ao meu gênero, apenas me vestia da forma como eu achava confortável, nunca tinha parado para pensar do que eu gostava, mas dessa vez eu o fiz. O que estava acontecendo comigo? Eu era diferente? Contei a minha mãe tudo o que eu estava sentindo, ela era a minha melhor amiga, e ela me contou sobre coisas que eu não tinha tanto conhecimento. Ela perguntou se eu já tinha me apaixonada por homens ou mulheres, mas isso nunca tinha acontecido comigo, relacionamentos afetivos era a última coisa que eu pensava, então eu não sabia responder à pergunta qual agora já sabemos a resposta. Mamãe é um anjo, naquele dia eu soube que a teria do meu lado independente de qualquer circunstância, e que estava tudo bem eu gostar de qualquer gênero. 

Eu encontrei refúgio na arte e decidi que as coisas mudariam. Embora no nono ano eu quisesse desistir de estudar, a minha mãe me ajudou da melhor forma possível. Mas ali, com meus 14 anos, eu decidi que não era seguro ser quem eu sou.... Portanto, comecei a omitir quem eu era de verdade na rua. Eu só era realmente feliz em casa. Na escola, eu não tinha amigos, mas eu sempre menti para a mamãe sobre isso. Ela pensava que a minha melhor amiga se chamava Elizabeth, e que ela era apaixonada pelo Tiago. Ambos não existiam. Mas eu não podia contar para ela que eu não tinha amigos por causa do meu corte de cabelo curtinho, ela gostava dele assim, e eu gostava dele assim também. Por isso, em alguns sábados à tarde eu dava um balão na linha mais demorada de ônibus da cidade só para a mamãe pensar que eu estava me divertindo com alguns amigos. Eu não queria preocupá-la com coisas que na minha cabeça eram tão banais.

Finalmente, mas não tão afim assim, comecei o ensino médio. Algumas coisas tinham evoluído no mundo. Estava tudo bem se eu quisesse usar calça pega marreco, mas ainda assim, preferi não arriscar. Eu tinha medo. E era o primeiro ano, eu queria que as coisas tomassem rumos diferentes a partir dali. E eu tinha planejado algumas mudanças na minha vida, como manter contato com pelo menos 2 pessoas legais e parar de dar balão no ônibus sozinha.

  Mamãe costumava dizer que eu era como uma caixinha de música clássica, eu não poderia tocar para qualquer um, porque segundo ela, nem todo mundo tinha um gosto tão bom assim... Mas mesmo assim, ela também dizia que eu poderia tentar coisas novas sem nenhum problema. Naquela época eu já tinha meu próprio mini estúdio de arte dentro de casa, era só aquilo que eu fazia. Pintar. Apesar de que eu gostaria bastante de tocar música clássica para algumas pessoas... 

Mas tinha um problema. Se as crianças no ensino fundamental me apelidavam de coisas tão ruins e me tratava tão mal, e crianças eram consideradas "boas", imagina os adolescentes do ensino médio. Sem dúvidas a mamãe estava certa, eu tinha que guardar meu espetáculo para alguém especial, eu não queria me machucar mais.

MONALISATempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang