nothing like before.

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eu sinto falta de antigamente.

hoje, apenas o que vejo nessa reunião costumeira de véspera de natal, são nossos fantasmas antigos repletos de felicidade genuína e uma libertação temporária do sôfrego viver realista, sobrevoando nebulosamente a falsa interpretação que tentamos à todo o custo reprisar. tentamos ignorar a profunda melancolia que assola nossos pés, forçando uma esperança relutante, que seria bela, se as circunstâncias fossem outras.

eu sinto falta de antigamente, absolutamente de tudo.

da imagem de meus cabelos e minha testa – quando eu ainda não conseguia alcançar o espelho da pia no banheiro –, do quentinho aconchegante dos braços grandes de meu pai – na idade que eu ainda cabia em seu colo –, das tardes ensolaradas fazendo pinturas ambíguas com a ponta dos dedos, de ter conhecimento apenas da dor física, de me debulhar em lágrimas por insignificantes cortes no joelho, de minha pequena paixonite tímida por um garoto loiro do primeiro ano, de ter a mente limpa, de ter o coração puro, de ter um corpo intocado.

mamãe, venha me puxar desse emaranhado de sentimentos terríveis e nos transporte novamente para 2010, você sempre disse que faria de tudo por mim e meu eu de agora clama por um descanso nostálgico. mamãe, por favor, traga vovô de volta e eu terei a chance de não ficar brava com ele por todas aquelas brincadeiras bobas e insignificantes que tanto me atormentavam, eu direi repetidas vezes que o amo, porque me faltou coragem antes e agora me arrependo disso. mamãe, segure todos eles e não deixe nenhum escapar, porque já passei por essa dor e não suportaria em níveis maiores repetidas vezes. e quero todos do meu lado, para que seja antigamente para sempre.

querida eu de anos atrás, se você soubesse o que crescer traria ao seu coração ingênuo, não desejaria isso com tanto afinco ao assoprar esperançosa os dente-de-leão que nasciam ao meio fio da calçada.

straight to the heart.Where stories live. Discover now