6 - Nas nuvens

16 1 0
                                    



JORDI

A única coisa que me mantinha ativo era saber que estaria permitindo que o nome dos meus pais fosse mantido como um dos mais renomados e conhecidos. Uma vez humilhados, agora eram eles que vinham me pedir ajuda elogiando minha família, meu sobrenome.

Repassei em minha mente meus compromissos para a semana. Agora que estou de volta tenho que fazer a famosa manutenção das relações com os sócios das empresas. Pego discretamente meu celular da maleta e decido, mesmo sem internet, responder as mensagens que tenho. Quando pousarmos, vou usar a internet do aeroporto e as mensagens vão automaticamente. Terei ganhado algum tempo assim. E não tenho nenhum a perder.

Julina, mais mensagens de Juliana... 

"Está ficando cansativo. Estou precisando de variedade. -Eu lhes dou o que querem. Pago bem no fim das contas, sempre as presenteio com alguma coisa. Nem que seja um jantar e um pouco da minha atenção. Todos conseguem o que quer mas elas não se contentam com isso. Querem mais... "

Olho para a criatura do meu lado. Ela é uma mulher, mas não é da que eu procuro. Essa provavelmente é da que quer um relacionamento, casar e ter filhos, vivendo em uma casa pintada de azul com janelas brancas. Eu também queria isso, mas apenas com uma... que já não posso mais ter comigo. O pensamento me entristece, e como se eu estivesse falando em voz alta ela resmunga e se mexe acordando do seu sono.

Babou no meu terno. Eu não posso acreditar.

tento não esboçar nenhuma reação, mas está ficando difícil. Controle-se! Tudo já vai passar.

Vestia uma calça jeans justa, e uma camisa de seda branca. Seu cabelo estava solto, reto e escuro quase chagando ao cós da calça. O que mais me chamou atenção eram os adereços que usava. Na cabeça usava um colar, talvez? Não faço a mínima ideia do nome daquilo.

Muitas pulseiras no braço e uma tornozeleira que ficava bem a mostra quando caminhava por sua calça curta e principalmente pelo barulho que faziam os sininhos.

-Olha eu não estou me sentindo bem. Eu quero vomitar.

-Isso não é um barco para sentir enjoo

-Diz isso para o meu estômago.

Chamei a comissária de bordo e pedi um remédio para dormir.

-Não, ela saltou do meu lado. – Se eu dormir como vou saber que cheguei?

-não é um sedativo, não seja tola. É apenas para você ficar mais calma e vai demorar 10 horas para chegarmos.

-Já disse que não quero. Não vou aceitar nada de estranhos. Nada mesmo!

Se recostou do meu lado. A observei atentamente sem seus óculos escuros.

Estava completamente alheia a mim. Quem sabe fosse pelo medo de voar. Era muito espontânea e estava tão nervosa que falava sem parar. Será que tinha bebido? Ou algo mais forte? Não posso evitar não pensar nessa possibilidade.

Estava olhando tudo ao redor, como se fosse novidade, uma verdadeira criança inocente... não sei como notou isso, mas viu minha câmera do lado da pasta, no chão.

"Posso ver?" Perguntou empolgada? 

Eu estou em um estado de espírito conformado e resignado dentro deste avião. Será que se eu disser que não ela vai ter uma crise? E se eu pedir para ela ir embora para o lugar dela vai ficar maluca outra vez?

Respirei fundo e sem uma palavra sequer peguei e dei para ela. "É bem atual né não?" Pegou a câmera sem nenhum jeito ou cuidado, e pelos seus gestos pude perceber que ela ainda não estava em seu estado normal. A não ser que ela seja naturalmente desorientada... Duvido! Uma mulher de seu porte poderia ser comparada com uma das melhores que já tive. Mas talvez seja mesmo naturalmente doida...

"Eu já tive vontade de fotografar, mas quando penso que teria de olhar para um bando de gente me dá até arrepios... podia ter fotografado pássaros, ou feito isso com bichos mesmo. Pena que não tenho grana para uma parada cara dessas..." Ela falava sem a necessidade de que eu respondesse nada... mas como ela pode dizer que não tem dinheiro para comprar uma boa câmera? Com essas roupas caras e ainda as joias... olho novamente para cada uma delas em uma fiel análise dessa vez. Sim parecem verdadeiros e caros, mas entre uma de suas pulseiras tem uma que obviamente não tem o mesmo valor que as outras. Uma pulseira de contas verdes se destaca das demais. Deve ser muito especial para estar entre as outras joias. 

Começou a tirar fotos sem olhar para o foco, apenas mirando a câmera para onde queria e apertou o botão. 1. a cadeira da frente; 2. a fila de cadeira no corredor;  levantou para cima e tirou do bagageiro... virou para o meu lado, sem se preocupar tirar do meu rosto, passou rapidamente para os meus sapatos.

Meus sapatos!

Movi meus pés em desconforto. 

"Não!" ela advertiu. Só tem graça se for espontâneo... 

Ouvi o som do flash algumas vezes e ela se levantou. Essa foto foi espontaneamente rejeitada. Senti um leve incômodo em que ela não se importasse comigo. Droga! Jordi, ela é uma estranha em um avião, doente da cabeça e se achando fotógrafa profissional. Não reconheci a mim mesmo nesse pensamento, mas quando dei por mim meu corpo parecia estar desconectado da minha capacidade de pensar, fui atrás dela. 


You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Dec 27, 2018 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

O monstro de Corine LavenzaWhere stories live. Discover now