! ALERTA GATILHO !
Me despedi do Léo e fui caminhando para minha casa.
Era bom falar casa e realmente ser minha casa. Por meses, desejei estar aqui em São Paulo, onde cresci e tenho meus amigos.
E não. Nunca considerei o Rio como um lugar de conforto e verdadeiro lar. Nada contra com quem ama aquela cidade mas, para mim, São Paulo é 10 vezes melhor e eu amo estar de volta.
Dou graças a Deus por aquele pesadelo ter acabado!Eu achava ter acabado até perceber que outro começaria..
Era ela, a garota misteriosa.
Estava usando um moletom preto e usando capuz, mas mesmo assim, a reconheci."Ei! O que faz aqui? Precisa de ajuda?" - fui até ela e passei a mão em seu braço carinhosamente.
"Hã?" - olhou para meu rosto rapidamente e desviou seu olhar parecendo perdida. "Não. Não preciso."
Estávamos uma do lado da outra de frente para a rua. Ela estava fria. Não digo da temperatura, mas digo fria em seu jeito de falar e olhar.
Por alguns segundos ela esqueceu que eu estava ali e ficou olhando para os carros e todo o movimento a sua volta.
Notei que seu olhar naquele momento era de um completo vazio.
Percebendo que eu ainda estava ali, ela perguntou:"Vai ficar parada aí sem fazer nada?"
"O que você quer que eu faça?"
Ela ficou em silêncio por um tempo.
"Nada. Quero dizer.. vá embora!" - desta vez olhando para meus olhos.
"Eu sei que precisa de ajuda. Eu quero te ajudar!" - falei quase implorando.
"Não! Eu não preciso! Pode ir embora." - falou ela dando um passo para frente e olhando fielmente para a rua.
"Por que escreveu aquela carta, então?"
Se pudesse voltar ao tempo, com certeza, retiraria o que eu disse. Só fiz com que a menina ficasse mais irritada.
Boa Marina!"Eu estava precisando de ajuda! ESTAVA!" - exclamou chamando atenção dos que passavam. "Vá embora, Marina!"
Ótimo! Eu só queria ajudar e ela estava me expulsando.
"Qual é o seu nome mesmo?" - perguntei tentando mudar de assunto. Era óbvio que eu sabia seu nome.
"Madu. Maria Eduarda." - respondeu depois de pensar se deveria falar ou não.
Ainda estávamos uma do lado da outra. Ela estava com as mãos nos bolsos e olhando fixamente para frente.
Eu ia perguntar alguma coisa para passar o tempo quando ela disse:"Onde está seu namorado?"
Levantei as sobrancelhas espantada por ela estar puxando a conversa, e não eu.
"Desculpa." - falou percebendo minha incomodação.
"Não precisa pedir desculpa. Eu o deixei em casa depois que conversamos sobre..." - arregalei os olhos porque quase revelei o motivo.
"Minha carta, né?" - disse ela parecendo ler meus pensamentos.
Como ela tinha adivinhado?
"N-ão! Conversamos sobre outras coisas.." - falei aparentemente nervosa.
Mais um período de silêncio.
Resolvi então discursar sobre como ela era linda do jeito que era e não precisava da opinião dos outros:"Madu, você é linda do jeit.."
"Rua Pedro Alcântara de Lima, número 210 em uma casa verde." - me interrompeu sem a menor sensibilidade.
"Como?" - falei sem entender absolutamente nada.
Ela respirou fundo, fechou os olhos por um instante, tirou uma carta de seu bolso e me entregou.
"Não é para você!" - disse ela vendo que eu já estava abrindo o papel. "É para meus pais. Entregue para eles, por favor?"
"Por que você não entrega?" - perguntei totalmente confusa.
De repente entendi tudo.
Arregalei os olhos e tentei segurar seu braço antes que ela corresse.
Com a voz já fraca e escorrendo uma lágrima em seu rosto, ela me olhou pela última vez e disse:"Porque já é tarde demais."
Foi a última coisa que a ouvi falar.
Ela correu em direção a rua escapando da minha mão que estava segurando seu braço, e foi atropelada.
Um carro em alta velocidade a atingiu quando ela já estava no meio da rua, de olhos fechados e com os braços abertos.
Lágrimas estavam vindo com força em meu rosto. Eu estava paralisada e com a respiração ofegante. Me ajoelhei no chão ainda totalmente em choque, e comecei a gritar.
Maria Eduarda tinha se matado e eu não consegui impedí-la.
Não conseguia acreditar que o fato das pessoas acharem que tinham o direito de rir da Maria Eduarda por ser gorda, fizeram a inocente tirar sua própria vida!
Muita gente já estava em volta querendo saber o que tinha acontecido. Sentei em um banco e coloquei as mãos em meu rosto, ainda chorando e sem acreditar no que estava acontecendo.
Eu estava em choque! Não conseguia mais pensar e agir direito.
Levantei a cabeça e olhei para a bagunça que estava se formando na rua. Algumas pessoas estavam preocupadas; outras nem tanto. Me levantei para ir embora e passar o mês em minha cama chorando quando avistei Léo saindo de seu prédio e totalmente confuso. Ele me viu e corremos em direção ao outro.
Por muito tempo, ficamos ali, chorando no ombro do outro..
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Resistência (Em Atualização)
Non-FictionNos dias em que vivemos, ser mulher e totalmente fora do padrão da sociedade não é nada fácil. Com Marina a situação não é diferente... A mudança de um estado para outro fez com que os problemas da garota de apenas 16 anos, só aumentassem. A dificul...