CAPÍTULO 19 - RECOMPOR

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— Senta, Briel — disse Esteban. Sua serenidade contrastava com a inquietude do rapaz. Briel se sentou ao lado de Tone em um sofá de dois lugares. — O que você vai fazer amanhã? Não o que você tem que fazer, mas o que você vai fazer. Eu quero uma resposta sincera, porque o que você disser vai ter que corresponder à realidade.

Pelo tom, Briel não saberia dizer se havia ameaça naquelas palavras. De qualquer maneira, ele tinha a resposta:

— Eu vou fazer o que eu tiver que fazer pra essa invasão dar certo, desde que não machuque mais ninguém que não concorde em se colocar em risco.

            — Eu vou fazer o que eu tiver que fazer pra essa invasão dar certo, desde que não machuque mais ninguém que não concorde em se colocar em risco

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Ela dormia, alimentada e medicada por um cateter. Continuava linda, apesar dos hematomas no rosto e do ódio que Briel sentia ao olhar para aquelas manchas arroxeadas. Ambos os pulsos estavam envoltos com ataduras, onde os grilhões a machucaram, e sua bochecha tinha um pequeno curativo. Briel sabia que havia mais curativos, porém estavam cobertos pela camisa que Adriana vestira nela, depois de lhe dar um banho.

— Eu fiz tudo errado, Kris — disse Briel, sentado na beira da cama. — Eu já não sei mais como me redimir, se é que isso é possível.

Uma gota escorreu de seus olhos. Suas lágrimas eram comuns. Já as de Kristina só vinham quando a situação era maior do que a necessidade que a garota achava que tinha de se ocultar. Mas Briel nunca as vira tão intensas quanto naquele dia na câmara de tortura. Nunca vira Kristina tão desabrigada. E, mesmo assim, ela conseguira vencer, de algum jeito. Era a mulher mais forte que Briel conhecia. Elinor também tinha sido muito forte... Se ele fosse egoísta e sem coração, odiaria Elinor pelo que ela o obrigara a fazer com Ronan, mas agora tanto o pai de Kristina quanto a mulher que fingira namorar Briel se somavam aos corpos injustamente levados por aquele período de extremos, e Briel não conseguia guardar um rancor maior do que a tristeza que jamais deixaria de sentir.

— Mas vai dar tudo certo — disse ele para a Kristina adormecida. Era o contrário do que ouvira no dia anterior, quando Iore o chamara para conversar.

Iore dissera já saber que Briel estava envolvido em algo ilegal, mas aceitara ajudá-lo a abafar tudo e a manter seu nome limpo. Apesar disso, avisou que, se ele continuasse fazendo qualquer coisa contra o governo, daria tudo errado e ela não poderia o proteger.

Uma coisa boa sobre Iore era o fato de ela não ser ideologicamente a favor da ditadura, mesmo que não fosse contra. De fato, não dava a mínima para a população, e nunca precisara dizer isso com todas as palavras para que Briel enxergasse. No entanto, se comportava de acordo com Sarto, afinal ganhava com isso, sendo chefe da empresa que produzia grande fração do aparato com que os militares oprimiam o povo.

— Você precisa sair da Horizonte — dissera ela. — Aproveitando que você não apareceu no trabalho por uma semana, eu vou te demitir. Sexta vai ser seu último dia. E isso entre a gente também vai acabar. Já se tornou uma coisa desnecessária pra nós dois.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOWhere stories live. Discover now