CAPÍTULO 10 - AS TRAMAS OCULTAS DA GUERRA CIVIL

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Totalmente desagradável, determinou Kristina sobre a Costa Baixa de Orlestan. Não havia casas, apenas um amontoado de prédios baixos, mas, ao contrário do que se via no centro da cidade, aquelas construções eram antigas e malconservadas. Por trás da fila de barcos atracados ao porto, o mar poluído exalava sua fetidez, carregada em direção à terra pela brisa oceânica. Apesar disso, muitas pessoas andavam por perto, entrando e saindo das embarcações, carregando redes abarrotadas de peixes até caminhões e caminhonetes que esperavam, estacionadas, para fazer o transporte. Cães vira-latas também transitavam à vontade pelo local. Um carro militar passava de vez em quando, fazendo a ronda.

Kristina andava a pouca velocidade em sua moto, os olhos à procura de alguém com aparência minimamente confiável para quem pedir informações. Passou por dois garotos de no máximo doze anos, ambos de bermuda, camiseta e descalços. Deviam ser filhos de algum pescador, acompanhando o pai no trabalho. Kristina parou ao lado deles:

— Ei! Meninos! Sabem onde é que fica a Rua da Brisa?

— Logo ali, moça — respondeu um deles, apontando. — Tá vendo aquela esquina de frente praquele barco azul? Vira ali, depois a segunda direita.

— Tá.

— Bom passeio, moça — disse o outro garoto.

— Ô, moleques! — chamou um homem ao longe. — Para de perturbar e volta pro serviço!

Tanto os garotos quanto Kristina tomaram seus rumos.

A Rua da Brisa era uma rua comercial com calçadas largas e um fluxo médio de pessoas vestidas de malha e acessórios baratos. Quando Kristina chegou ao número que Marko lhe dera, não se admirou que se tratasse de uma peixaria, um local pequeno no primeiro piso de um prédio. Um ventilador girava na parede de azulejos desgastados, mas o odor da mercadoria dominava o ambiente. Apesar de mergulhados no gelo, os peixes ficavam expostos, sem vidros de proteção, ao contrário do habitual nos centros de cidade. Um balcão separava os clientes dos dois funcionários que lá se encontravam: um homem na faixa dos trinta anos, com uma camisa de botão aberta até a metade, ocupado atendendo uma mulher, e um velho de cabelos brancos e barriga saliente, que se dirigiu a Kristina:

— Pois não?

— Eu tô procurando o Marko Danton.

O mau cheiro e a pobreza enjoavam Kristina, e a todo instante ela relanceava para trás, para a entrada do estabelecimento, onde estacionara sua moto com o capacete e a jaqueta na mala. O velho deitou o olhar nela por algum tempo.

— Você não é daqui, né não, menina? Nem do centro, né não? Você é de subúrbio. Eu conheço essa cara de menina de subúrbio. Não fica com medo de assalto nem do que for. Aqui é tranquilo, hoje. Antigamente que era osso, antes do Marechal, que ninguém tava nem aí pra nós. Vocês reclamava de terrorismo, de ataque em estádio de jogo, em shopping, em escolinha particular, mas aqui na redondeza, mesmo não tendo terrorismo, o ataque era da polícia. Aparecia por aqui não era pra proteger ninguém não, era pra dar porrada. Pra eles todo pobre era bandido e terrorista. Nosso Marechal fez bem em acabar com eles. O exército sim respeita e protege todo mundo, sem olhar pra renda.

— Eu tô procurando o Marko Danton — repetiu Kristina, um pouco mais alto.

— Markinho tá lá em cima, de folga. Você sai e aqui do lado tem uma escada, só subir e bater na primeira porta lá dentro. Quer que eu te leve?

— Não.

Ao lado da peixaria, havia uma porta de vidro translúcido com uma escada atrás. Kristina subiu dois lances estreitos e mal iluminados até chegar a um minúsculo corredor com uma porta de um lado, mais degraus do outro e uma parede consumida pela umidade à frente. Bateu à porta. Dez segundos depois, Marko estava ali.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora