Capítulo 28 - Nosso reencontro

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O sol brilhava forte sobre a neve quando um garoto com asas de fênix sobrevoou o Palácio Púrpura. Por um momento, os habitantes perceberam a sombra alada e alguns até acenaram para o Guardião, surpreendendo-o. Mesmo com pressa, Kurikara correspondeu com um aceno breve e sorriu. Então acelerou o bater de asas, achando curioso o gesto da população, pois meses atrás seria ignorado ou perseguido. As coisas estavam mudando e os cidadãos da Nação Kibou não pareciam mais vê-lo como um monstro.

Foi quando notou, no meio da comitiva de diversas cores que entrava em seu reino, um soldado avançar a cavalo mais rápido que os demais. Trajado de proteções prateadas e um elmo com um chifre único, ele avançou por todos e causou certa confusão entre as pessoas que faziam compras nas barracas e entre os visitantes que se perdiam entre as ruas. Sorriu percebendo-a mudar de rumo, indo na mesma direção que ele: era Riko, a Pétala Branca. Ao mesmo tempo, alguns gritaram e saudaram a grande guerreira que retornava de uma breve viagem.

Seguiu-a, e minutos depois pousou sobre os muros de um grande jardim do palácio Púrpura coberto de neve. Kurikara abriu um sorriso de orelha a orelha ao vê-la adentrar pelos portões. O pobre cavalo relinchou ao sentir o olhar do grande dragão à espreita atrás dos muros, se lambendo. Quando Riko tirou o elmo, seus brilhantes olhos verdes pareciam saltar sobre o rosto rosado pelo frio.

Com pena de seu animal tremendo de medo do dragão, chamou um dos servos do castelo e pediu para que colocassem seu companheiro para descansar. Caminhou então até Kurikara com um sorriso suave, vendo-o coberto por uma capa branca de tecido leve, com adornos de chamas. As botas pesadas de Riko foram marcando a neve fofa, enquanto sua respiração deixava uma longa fumaça.

– E aí! Você está bem? Trouxe o que pedi? – perguntou, o tom pouco mais baixo do que o habitual devido ao cansaço.

– O melhor para o mais forte estômago! – respondeu, descendo do muro e aproximando-se de um banco próximo com ela, entregando-a uma garrafinha de barro. Os dois então sentaram-se lado a lado no banco, ele jogando as asas para trás para lhe dar espaço. Riu, vendo sua companheira saborear de uma vez um conhaque da melhor qualidade direto da cozinha do palácio, deixando suas bochechas coradas. – Melhor agora?

Ela suspirou de alívio depois de mais um gole.

– Oh, com certeza! – sorriu-lhe, daquele jeito intenso e quase bruto que se acostumou a apreciar. – Dê um jeito de achar o Orbe de Água ou de Vento, por favor! Teremos muitas baixas se esse inverno for o que estamos esperando.

– As coisas não estão nada boas do lado de fora, não é?

– Nem um pouco. Infelizmente, não trago boas notícias.

Kurikara encolheu um pouco as asas sob o pano em que as escondia. Elas sempre se abriam ao revê-la, agora mais do que nunca, feliz por reencontrá-la. Passaram tanto tempo viajando juntos que estranhou ficar duas dezenas separado dela, conversando uma vez ou outra pelo bracelete. Riko levava os prêmios e proventos que a rainha Hanako prometia ao povo do Vale, enquanto ele ficou para cuidar do Orbe.

Enquanto Aika esteve fora não houve qualquer sinal de outro Orbe, mas o tempo estava mais instável do que nunca. No mês anterior, enfrentaram pela primeira vez em décadas um ciclone, próximo ao Mar da Estrela, algo quase impossível. Depois houveram tremores de terra e ele conseguiu segurá-los com o Orbe de fogo, mas isso não lhe fazia bem. Alguns Onis desgarrados do Dokujuugumi aproveitaram o abalo e fizeram vítimas na periferia da Nação Kibou, e outra vez, lá estavam ele e Riko cuidando dos inimigos. Eles não pararam em momento algum desde a última batalha, próxima ao Montanha Escarlate.

– Soube que não houve nenhuma movimentação dos Fênix Negra do Leste desde a batalha do Montanha Escarlate – disse Riko. – Isso está fazendo os senhores de terra temerem algo grande. A manobra de Hanako, de diminuir os impostos e pedir mais contribuição da nobreza, está trazendo muitos problemas. A população, mesmo mais aliviada, ainda não acredita na capacidade de uma mulher no poder e a nobreza está fazendo de tudo para achar um substituto de Akira. Os Kibou não gostam da ideia de uma filha dos Seishins no comando, mesmo sendo nações aliadas e até os próprios Seishins têm ficado mais "abusados" em relação a isso. Falando em Hanako, daqui a três dias teremos todos que ir até os Midori-Mizu, antes que tenhamos uma guerra.

Aika - O Tabuleiro do Oráculo (A Saga Aika #2) [degustação]Where stories live. Discover now