One

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Park Jimin

Minha mãe uma vez me disse que há erros que devemos cometer, que há males que vêm para o bem. E que fazer o errado para ajudar o próximo, as vezes, é o certo.

Ela disse isso enquanto tirava um pacote de biscoitos de dentro das sacolas do mercado e entregava para uma senhora que carregava um bebê no braço, mesmo que papai tivesse dito que não, porque já tínhamos pouco para nós. Ela o fez escondido.

Mas então, anos depois, quando ela abaixou a cabeça e me mandou devolver alguns alimentos de volta à prateleira por não termos dinheiro o suficiente, uma senhora atrás de nós na fila do caixa disse que não era necessário, e que pagaria pelo que não pudéssemos custear.

Mamãe quis negar, mas a mulher insistiu afirmando que não estava fazendo por pena, e sim, solidariedade. Agradecemos e seguimos.

O problema é que nem sempre as pessoas estavam afim de serem caridosas, e as contas chegavam todo fim de mês, como sem falta. E quando papai perdeu o emprego, tudo piorou.

Por não ser mais tão jovem, mesmo que se disponibilizando a fazer qualquer serviço, só encontrava cargos temporários e de baixo embolso. E por mais que eles sempre prezassem pelos meus estudos, dessa vez não tiveram como retrucar quando eu decidi que iria atrás de um emprego. Não precisava ser de tempo integral, só que pudesse, pelo menos, garantir o pão do café da manhã.

E assim eu fiz.

No sábado, pela manhã, acordei cedo e comecei a distribuir currículos em possíveis empregos que poderia assumir sem que danificasse meu horário de estudo. Alem disso, que não exigisse tantos requisitos estudantis, já que estava nos primeiros semestres da faculdade.

Tentei em bares, restaurantes, shoppings, lanchonetes e até no supermercado que frequentava desde pequeno. Nada. Nenhum deles precisavam de mais alguém no auxílio, e alguns ainda fingiram pensar a respeito afirmando que ligariam se precisassem.

No final do dia, não tive coragem de voltar para casa de mãos vazias. Não queria encarar meus pais cheios de expectativas e dizer que nada havia mudado.

Sentei em um banco na parada de ônibus vazia do outro lado da cidade e senti meu celular vibrar no bolso, não precisei olhar o visor para saber que a ligação perdida era mais uma da mamãe, certamente preocupada com o horário. Não atendi, nem ao menos mexi meu corpo.

Fixei meu olhar onde deixava de ser calçada e passava a ser asfalto, e permiti meu corpo relaxar depois da correria do dia, sentindo minha cabeça rodopiar achando mais uma centena de dúvidas enquanto procurava uma resposta.

Apoiei meus cotovelos nos joelhos e deixei minha cabeça despencar até minhas mãos, bagunçando propositalmente meus fios, como se pudesse me ajudar a pensar.

– Ei garoto, você está bem? – Uma voz soou do meu lado. Virei meu rosto para avistar a dona da voz e me surpreendi ao encontrar uma mulher bem vestida e produzida. Ela me encarava com um pouco de pena e preocupação. – Está perdido?

– Não. – Ela franziu o rosto. – Quer dizer... sim, estou bem. E não estou perdido.

Deu de ombros e sentou-se ao meu lado, tirou da bolsa uma carteira de cigarro e o ascendeu, dando algumas tragadas fortes e me estendendo o fumo.

– Fuma? – Balancei a cabeça negativamente. Ela arqueou as sobrancelhas e o levou de volta a boca, tragando novamente. – O que faz por aqui uma hora dessas, brigou com os pais?

– Por que está falando comigo? - Retruquei. Ela deu de ombros e revirou os olhos.

– Falta do que fazer, talvez. O tempo passa muito devagar quando estou no trabalho. – Soltei uma risada debochada e joguei o corpo para trás, me apoiando no encosto do banco. Ela me olhou torto. – Qual o problema?

Suit & Tie Onde as histórias ganham vida. Descobre agora