canopus.

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"Não é porque o céu está nublado que as estrelas morreram."

Acordei com o barulho do meu despertador, e já sabia que seria um dia comum como todos os outros. O meu toque era uma música antiga que eu nem sei qual o nome, só escutei uma vez no celular do meu pai e pedi para ele passar pra mim. Eu levanto às 06:00, tenho exatos 30 minutos para me arrumar e ficar pronta, do meu apartamento para a escola são exatos 20 minutos, ou seja, chego lá às 06:50 e tenho dez minutos para organizar as coisas e preparar tudo até as crianças entrarem correndo e gritando as 07:00. Tudo muito bem esquematizado e progamado, sem atrasos como uma boa britânica.

Meu café da manhã hoje são uma xícara de chá de ervas sem açúcar e um punhado de bolachas salgadas. O caminho até a escola foi tranquilo e milagrosamente a aula também, as crianças pareciam bem mais calmas hoje, o que foi ótimo, pois não estava boa da cabeça.

Fui até a típica cafeteria de depois da aula, pedi meu latte e me sentei na mesma mesa de sempre, despreocupada... Não? Não! Mesmo que parecesse banal eu esperava que o garoto do dia anterior aparecesse, Kile, eu achei que fosse de verdade o encontro marcado para eu ver as pinturas dele, mas acho que me enganei. É foram assim pelos próximos três dias, eu apareci lá e fiquei igual boba esperando, mas não tive nenhum sinal, assumo que fiquei um pouco preocupada, mas não tinha o que fazer eu não tinha nenhum contato dele.

Quando eu estava decidida que ele não iria mas aparecer, lá estava ele com seus cabelos pretos, jaqueta e eu suponho que a mesma calça jeans da última vez. Ele sorriu e acenou quando me viu, e eu me aproximei.

— Você me deu um bolo, fiquei te esperando três dias isso não se faz com uma mulher. — disse brincando mas acho que um tom meio verdade saiu da minha voz.

— Me desculpa o meu estúdio estava uma bagunça. — ele colocou as mãos no bolso da calça parecendo constrangido. — Mas está limpo agora se ainda quiser ir.

— É claro que eu quero! — sorri largamente e ele também o fez.

Depois de tomarmos nosso café, caminhamos até onde era seu estúdio, que por sinal era nos fundos de sua casa. Não era tão perto por isso tivemos que pegar um táxi para chegar lá. A casa dele era pequena e fofa, toda de madeira parecendo até um chalé, ele contou que sua mãe e sua irmã moravam ali, mas a mais velhaestava fora da cidade naquele dia, e a irmãzinha estava na casa de uma colega. Nos fundos a onde deveria ser a garagem, ficava seu estúdio de pintura. Tinha tamanho mediano e era todo colorido e cheio de vida.

— É um cafofo bem aconchegante. — eu disse enquanto passava a mão por tudo.

— Até que dá para o gasto, você quis dizer. — ele disse e soltou um riso pelo nariz.

— Onde você guarda seus quadros? — eu perguntei.

— Bem aqui. — ele disse logo saindo na frente batendo o seu bastão no chão.

No canto esquerdo no fundo do estúdio tinha uma grande caixa de madeira, tampada por um lençol. Ele o puxou deixando a mostra vários um apoiado atrás do outro. Ele ergueu um e eu outro, assim por diante até que eu visse todos. Eram lindos, acho que as obras de arte mais lindas que eu já tinha visto, era muito mais do que um simples quadro, os sentimentos era expostos de uma forma muito pura em cada um. Sentimos pêlos dos meus braços se arrepiarem enquanto os observava.

— Você é um artista de verdade, Kile, eu falo sério. — digo virando minha atenção pra ele. — Você enxerga o além das coisas.

— Eu acho que essa é uma das vantagens de ser cego sabe, não preciso me focar em fazer o certo, o que as pessoas conhecem como o certo, eu pinto o que sinto. — ele dá de ombros. — Acho que esse é o maior problema da atualidade, se importar demais com a exatidão.

saturnWhere stories live. Discover now