Capítulo 7 - Pretexto ideal não encontrado

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À medida que o Alex foi deixando cada um de nós em casa, as conversas iam sendo mais discretas e o sono parecia ganhar força com o embalar da carrinha.

Nessa noite, descobri que o Jason morava apenas a duas ruas de mim, ainda mais perto da estação de comboios do que eu. Embora ficasse surpreendida, mantive a boca calada. Ninguém precisava de saber - especialmente ele.

Quanto a mim, eu ia dormir em casa da Gaby como tinha dito à minha mãe. Eramos as seguintes a sair. Assim que o Alex parou em frente à casa da Gaby, dissemos os nossos adeus e eu lancei um olhar sugestivo a Rachel. Ela seria muito provavelmente a última a ir para casa e algo me dizia que a noite iria ser um pouco mais longa para ela. Levantando uma sobrancelha, abanou a cabeça num gesto de desaprovação. Apesar de tudo, a ação estava acompanhada de um enorme sorriso.

“Tchau, pessoal!” despediu-se a Gaby.

“Boa noite.” Desejei, aproximando-me da porta de entrada da casa. Não havia luzes acesas, o que significava que ainda não tinham dado pela nossa falta. Óptimo!

Mal a carrinha se pôs em andamento e a Gaby se aproximou também da entrada da casa, um olhar silencioso anunciava que tinha começado a derradeira missão: entrar em casa e ir para a cama, sem fazer o mínimo de ruído. Ambas já tínhamos feito isso com sucesso. Não podia ser complicado…

Agarrando a única chave que trazia consigo no bolso de trás, meteu-a na fechadura e troc! A porta estava aberta. O barulho que tinha sido produzido era inaudível a quem estivesse no segundo andar. Ainda estávamos a salvo. Rindo baixinho, entramos na casa e fechamos a porta atrás de nós.

Pegando no meu telemóvel, desbloqueei-o para que desse luz e subimos cuidadosamente as escadas. Chegando ao andar de cima, entramos rapidamente no quarto dela e aguentamos apenas uns dois segundos até começarmos a rir-nos o mais baixinho possível. Mais parecíamos bêbadas.

“Shhhhiu!” pediu ela, pondo o dedo indicador perante o lábios. Ambas rimos outra vez e depois fez-se silêncio total. Indo à gaveta, atirou-me um pijama cor de rosa, ao qual eu revirei os olhos, e depois pegou num da mesma cor para ela.

“Preciso de fazer xixi!” Anunciou ela. Nem era um sussurro, nem falava em voz alta. Era um tom de voz que ficava entre um e outro. Franzi as sobrancelhas.

“Porque raio é que me estás a dizer isso?” perguntei, no mesmo tom de voz.

“Não sei!” disse ela, rindo de si mesma. Já parecia mais um berro, embora sussurrado.

“És tão estranha…” conclui com um sorriso. Ela sorriu de volta.

Era estranha. Não porque anunciava sempre que ia à casa de banho quando tencionava fazê-lo ou porque apenas tinha pijamas cor de rosa, mas sim porque fazia parte dela. E eu gostava disso. “Vai lá, eu vou para a cama.”

E com isto, encontrei-me sozinha no quarto sem qualquer luz ligada. Pegando novamente no telemóvel, vi que eram já três e meia da manhã. Em poucos segundos, a luz desligara-se. Vestindo-me e dando o meu melhor para não cair e bater em alguma coisa, puxei os lençóis da cama para trás e deitei-me. Mesmo com os olhos abertos estava na penumbra. Não se via absolutamente nada.

Então fechei os olhos. Flashbacks da noite de hoje percorriam a minha mente; todos aqueles momentos que um dia eu iria relembrar quando fosse demasiado entediante e já não pudesse mais invadir propriedade privada e evitar responsabilidades. Pelo menos teria memórias às quais me podia agarrar quando a vida fosse totalmente insípida e, talvez, um pouquinho pesada demais.

Lembrei-me do Jason. Lembrei-me de como o tinha puxado para a água – a minha expressão mudando inconscientemente. Não sabia porque tinha feito isso. Com as sobrancelhas franzidas, não demorei a lembrar-me de ter o coração a mil quando o Jason me perseguiu em volta da piscina. Isso fora muito estúpido… Mesmo agora o meu coração parecia ter acelerado perante a recente memória. Um leve riso se formou nos meus lábios. Como ele me tinha agarrado e eu ficara ali, contra ele, a rir durante uns dois minutos, dando meu melhor para me ver livre dele e falhando redondamente. O meu sorriso desvanecera lentamente.

Peripécias da Vida de AbbyWhere stories live. Discover now