Capítulo 29 - Vantagens de uma Iluminação Verde

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Sem qualquer aviso, um grupo de adolescentes entrou na sala, fazendo com que o barulho à nossa volta aumentasse consideravelmente e provocando mudanças irreversíveis na atmosfera que se tinha formado. Apercebi-me que era incapaz de manter o contacto visual com o Jason e, com um vinco ainda maior na minha testa, levei distraidamente a mão ao bolso onde senti um objecto que não indentifiquei de imediato através do toque. Retirei-o então das calças e observei-o. Porém, nesse preciso momento, o Jason foi forçosamente empurrado na minha direcção e eu perdi contacto com o mesmo. A minha reacção foi imediata e inesperada. Com as pupilas dilatadas e os olhos maiores do que o habitual, olhei em volta freneticamente.

"Onde está?" perguntei de modo agitado. "Onde está?" repeti desta vez mais alto, forçando os meus olhos a focarem a realidade. Os meus movimentos eram rápidos e curtos, assemelhando-se aos de um animal selvagem que se encontrara preso numa armadilha. Faziam a minha cabeça doer.

"O quê?" perguntou o Jason, ainda de olhos postos na porta por onde saíra entretanto o grupo de jovens alcoolizados.

"Eu..." balbulciei evidentemente perturbada. "O isqueiro! Não consigo encontrá-lo." Se ao menos as luzes parassem de piscar!

Inicialmente, o Jason parecia completamente perdido nas minhas palavras mas depois a sua expressão facial mudou e os seus olhos varreram o chão da sala sobreaquecida que, para além de nós, tinha apenas mais cinco ou seis pessoas. Ainda à procura, passei as mãos pelo cabelo completamente frustada perante a perfeita imagem mental do pequeno isqueiro que parecia ter desaparecido no ar.

Incapaz de lidar com a situação racionalmente, deixei-me cair de joelhos no chão, de modo a procurar o isqueiro de um outro ângulo de visão. A figura do Jason agachou-se ao meu lado, os seus olhos analisando cada canto da sala e parando momentaniamente em mim.

"Tenho de encontrá-lo." Murmurei, perturbada.

"Abby, tem calma." Disse ele. Mas eu não estava a ouvi-lo à medida que repetia as mesmas três palavras incessantemente.

O seu rosto varreu a sala uma vez mais e após alguns segundos de silêncio ele chamou o meu nome. Virei o meu rosto na sua direcção, o meu olhar ainda perdido e desorientado. Estava a sorrir-me encorajadoramente e na sua mão encontrava-se o pequeno isqueiro que temera ter perdido. No segundo seguinte, à medida que um sorriso retornava ao meu rosto, vi-o pressionar a parte superior do objecto em vão, uma vez que nenhuma chama surgiu.

"Não funciona?" perguntou, pressionando-o outra vez de sobrancelhas franzidas. Abanei a cabeça negativamente, ainda com um discreto sorriso a pairar nos meus lábios.

"Nunca funcionou." Respondi, agora sentada sobre as minhas próprias pernas e com as mãos pendentes ao longo do corpo.

"Nunca? Nunca desde que to dei?" continuou, incrédulo. Desta vez, limitei-me a abanar a cabeça. O abrupto movimento fez a minha cabeça doer novamente. O mundo há minha volta estava ainda distorcido por causa do álcool e o meu corpo oscilou para a direita por um momento, apenas para eu me recompor logo em seguida. Notei, apesar de tudo, que o Jason tinha estendido um braço ligeiramente hesitante na minha direcção.

"Eu estou bem." Afirmei, olhando-o nos olhos. Nem sequer bebera assim tanto... Os seus lábios formaram uma linha reta.

"Porque razão não o deitas-te fora? É inútil."continuou ele momentos depois. Parecia confuso como acontecia muitas das vezes em que estava comigo - como se tivesse à frente um enigma que não era capaz de resolver. Engoli uma vez, momentaneamente constrangida, mas a resposta surgiu-me rapidamente embora fosse tão simples, tão descomplicada, que parecia ter saído da boca da minha irmã Mia.

Peripécias da Vida de AbbyWhere stories live. Discover now