iv (can't sleep at all)

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violet.

É de madrugada e não consigo dormir. Dou voltas na cama e assim que fecho os olhos a única coisa que aparece são uns brilhantes e grandes olhos verdes. Faz dois dias que tinha estado com ele e aquela hora de almoço em que passamos a conversar foi diferente e marcou-me de alguma forma, principalmente a forma como os seus caracóis caem sobre o inicio dos seus ombros, ou como ele passa os seus longos dedos pelos seus lábios quando lhe faltam palavras. Uma hora com ele pareceu uma eternidade e juro que parecia que eu já o conhecia. Talvez é por ele ser tão fácil de decifrar, mas tudo nele é tão simples. Tudo menos a sua vida pessoal, porque isso foi algo que ele não mencionou e nem eu o quis pressionar a tal. Da forma que ele é um livro aberto em relação à sua expressão corporal, é um cofre fechado a mil cadeados em relação à sua vida. Sem dúvida que quero abrir todos os mil cadeados, um por um, por mais sinistros que sejam.

"Nem penses em culpar isto tudo em mim!" A voz da minha mãe soou alta entre as finas paredes.

Curiosa, saí da cama e abri a porta do meu quarto. Conforme me aproximava da sala, mais o tom de voz da minha mãe e do meu pai se intensificavam. Estavam a discutir. Outra vez.

"És tu Anthony, és tu que chegas todos os dias bêbedo a casa e sou eu que faço de tudo para esconder isso da tua filha! Não tens vergonha em seres alcoólico e bateres na tua própria mulher? És uma vergonha!" A minha mãe gritava para o meu pai.

A próxima coisa que ouvi foi a mão do meu pai a encontrar a cara da minha mãe. Eu sabia que o meu pai bebia, e sabia que as coisas andavam mal, mas não sabia a que ponto tinha chegado. Eu observava a cena do final das escadas e pelo som surpreso que deixei escapar, os meus pais notaram a minha presença.

"Vi..." O meu pai suspirou mas eu não conseguia olhar para a cara dele. Ele já não era o homem que me levava às cavalitas e que me fazia feliz. O álcool mudou o meu pai.

Desci as escadas e fui até aos meus pais. A minha mãe continuava com a mão na cara e o meu pai olhava para mim com os olhos arregalados.

"Quem és tu?" Falei para o homem à minha frente. "Porque estás na minha casa e porque estás a mal tratar a minha mãe?"

"Vi, eu não queria que me visses assim, isto é tudo um mal entendi..."

"Sai da minha casa" Disse-lhe.

"Eu não vou a lado nenhum, esta casa é minha."

Aquele homem disse e eu apenas acenei com a cabeça e dirigi-me para o meu quarto. Peguei numa mala, meti o máximo de roupa dentro desta mesmo e vesti o máximo de roupa que podia. Peguei em mais algumas coisas e desci novamente para a sala, onde a discussão ainda continuava acessa.

A minha mãe olha para mim e quase cai para o lado ao ver-me com a mala ao ombro.

"Onde vais, Violet?" Interrogou-me com uma cara chorosa.

"Já que este homem não sai da minha casa, vou sair eu."

"Violet, deixa de ser infantil, volta aqui imediatamente!" Aquele homem gritou-me e eu apenas parei à porta, com esta mesma já aberta.

"O que me vais fazer, pai? Vais bater na tua própria filha, ou quem sabe atirar-me uma garrafa de cerveja? Estás à vontade. Mas prometo que essa era a última coisa que fazias antes de ires dentro. Obrigada, mas tenho a certeza que para onde quer que eu vá, vou estar melhor do que aqui."

E fechei a porta. Corri o mais depressa que pude, mas ninguém veio atrás de mim e por isso fico feliz. Sentei-me numa paragem de autocarro e olhei ao meu redor e as ruas estavam vazias. Vi o meu telemóvel e este marcava 4:23 da madrugada. Suspirei e encostei a cabeça ao grande vidro atrás de mim. Para onde vou a esta hora da manhã? Fechei os olhos e lá estavam novamente aqueles olhos.

Harry.

Peguei no telemóvel e procurei o seu nome pelos contactos. Graças a Deus que trocamos de números no dia do almoço. Agora é só rezar para que ele atenda.

"Sim?" A sua voz estava ríspida e mais grave que o normal.

"Harry? É a Violet, desculpa acordar-te, mas..."

"Violet? Está tudo bem contigo?" A sua voz parecia mais desperta e eu suspirei. Tinha frio.

"Na verdade não. Será que me podes vir buscar à livraria?" Estava a umas duas ruas de lá e ele sabia onde era.

"Claro, dá-me 10 minutos e estou aí"

Ele desligou e andei até à livraria, esperando pelo Harry.

Entrei no seu apartamento e estava quente. Vi a luz da sala acessa e um rapaz de cabelo escuro e olhos cor de mel a olhar para nós com um ar preocupado. Pelo que eu tenho conhecimento, este deve ser o seu companheiro de casa, mas não me recordo do seu nome. O Harry vinha à minha frente e levava a minha mala. No caminho apenas lhe disse que explicava quando chegássemos a casa e ele respeitou, conduzindo em silencio.

"Por favor senta-te. Vou buscar-te algo quente para beber." Harry disse-me e eu fiz o que ele me pediu.

De frente para mim estava o tal rapaz de cabelo escuro e ele olhava para mim, mas havia preocupação e curiosidade no seu olhar.

"Hum, estás bem?" Ele interrogou-me com a voz um pouco nula, mas ouvi-o.

"Sim... Desculpem incomodar-vos, mas o Harry foi a primeira pessoa que eu pensei e sinceramente não havia mais ninguém que eu podia pensar." Disse ao rapaz. Ele tinha um maxilar forte, tal como o seu olhar.

"Não te preocupes, o que interessa é estares bem. Posso perguntar o que se passou?"

Nessa altura o Harry volta da cozinha com 3 canecas na mão, entregando uma a mim e ao seu amigo, depois sentou-se ao lado dele.

"Este é o Zayn já agora. Eu falei-te dele."

Eu apenas acenei com a cabeça, lembrando-me da conversa, mas não me lembrava do nome.

"Bem.." E comecei a contar o que se tinha passado, mas conforme estava a chegar ao final da conversa, o Harry sai da sala.

"Harry!" O Zayn grita e eu fico sem saber o que fazer ou o que eu fiz de mal. Ambos ouvimos a porta do seu quarto a bater com força e a ser trancada. Olho para o Zayn e ele corresponde o olhar, como uma forma de desculpa.

"O assunto "Pai" é muito delicado para ele. Mas não te culpes, está bem? Tenho a certeza que qualquer dia saberás a razão, mas por favor, não o pressiones muito nesse assunto." Zayn explicou.

Eu acenei com a cabeça e ele saiu da sala, pedindo-me 1 minuto. Quando voltou, vinha com uns lençóis e uma almofada.

"Se quiseres podes dormir no meu quarto que eu durmo aqui." Zayn disse-me no tom mais calmo possível.

"Não! Eu durmo aqui, nem quero causar problemas, o que pelos vistos já fiz." Peguei as coisas das suas mãos e pousei-as no sofá.

"Hey, tu também tens os teus problemas, portanto não te preocupes. E desculpa teres que dormir no sofá, eu basicamente transformei o quarto de visitas numa tela gigante." Ele sorriu e era completamente adorável a maneira como os seus olhos ficavam quase fechados devido ao seus sorriso.

"Obrigada por tudo, a sério. Prometo que não darei trabalho."

Eu e o Zayn despedimo-nos após ele me mostrar a casa e eu fiz do sofá a minha pequena cama. Usei a casa de banho e fui deitar-me.

Fechei os olhos e os seus olhos verdes vinham-me à cabeça, mas desta vez, estes estavam cheios de lágrimas. Será que algum dia vou descobrir o que aconteceu ao seu pai para ele se ter transformado nesta pessoa triste?

E adormeci ao ver as lágrimas caírem pelos seus olhos verdes.

The Words I Wrote About You || h.sWhere stories live. Discover now