Abril, 2016. I.

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— Por que não queria que me contassem? — Melissa indagou.

— Porque é só ano que vem, Mel — Alícia praticamente gritou. — E há chances de voltarmos, há chances até de nunca irmos embora, de não precisarem de nós. Não queria que sofresse por antecipação, mas precisava dividir isso com o pessoal. Precisava ter certeza de que cuidariam bem de você caso eu saísse dessa cidade. E eles vão. Sabemos que vão.

— Eu sei que vão, sempre cuidaram, mas...

— Sem "mas".

— Nunca vou ter a mesma intimidade que tenho com você. Poderei te ligar sempre que precisar?

— Pare de falar sobre isso, eu já disse que não há nenhuma certeza.

— Há uma chance.

— Sim, uma chance. — Bufou. — Uma chance que pode mudar. Temos oito meses. É tempo suficiente, acho que podemos criar esperanças.

— Prefiro não ter expectativas, isso só faz a gente sofrer.

— Gostaria que não fosse tão pessimista.

— Gostaria também, mas é incontrolável.

— Eu te amo e nunca vou te esquecer — Alícia disse, depois de um tempo. — E muito menos te trocar. Você vai ser sempre a minha melhor amiga e a minha função vai ser colocar um sorriso no seu rosto até o dia da minha morte. — Deu a mão à negra. — Sim, pode me ligar sempre que precisar.

— Isso é uma despedida adiantada? — perguntou, secando as lágrimas que começavam a escorrer com as costas das mãos.

— Não, isso é só mais uma das minhas inúmeras declarações inusitadas.

— O que vai ser da Black And Black sem você?

— Ah, Melissa, pelo amor de Deus! A Black And Black é o menor dos meus problemas.

Alícia estava tentando ser forte. Por Melissa. Mas, tratando-se da banda que viu nascer, a negra tinha vontade de chorar. Se tivesse alguma chance de escolha, escolheria ficar. Pela banda, pela melhor amiga, pelas amizades que cultivara em tão pouco tempo – e que considerava as melhores de sua vida.

Era incrível ter os melhores amigos no mesmo bairro. Era incrível se identificar de alguma forma com tantas pessoas ao mesmo tempo. No fundo, Alícia sentia que todos estavam ligados por um barbante, que sempre os levaria até eles novamente.

Torcia para que seus sentimentos estivessem certos mais uma vez.

— Vocês nunca precisaram tanto de mim. E nunca precisarão — mentiu. — Ah, e sabe aquela menina que rejeitamos por ser do Maria Elizabeth? Jasmin? Talvez possam aceitá-la. Mas só se eu for.

— Não vejo você sendo substituída. Nem na banda, nem no grupo.

— É só não ver como uma substituição. Eu sempre serei da banda e sempre serei do grupo. Vejam a presença de outra pessoa como uma soma.

— Por que você precisa ser sempre tão sábia e calma?

— Eu só finjo — confessou.

Era verdade.

Por dentro, Alícia sentia seu coração batendo forte e rachando ao mesmo tempo. Cada batida de seu coração parecia chocar-se com seu peito e quebrá-lo um pouco mais. Cada segundo olhando para o rosto desapontado de Melissa, que sabia claramente que a melhor amiga partiria em alguns meses, era uma dúzia de lágrimas que segurava-se para não deixar escorrer. Cada momento com os melhores amigos, cada bagunça na rua, cada festa, cada ensaio da banda, cada lembrança que passava rapidamente por sua mente era como se alguém apertasse seu coração com força.

Clube dos 7 Erros [HIATUS]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora