Abril, 2016. I.

Depuis le début
                                    

— Qual notícia? — Melissa indagou, sem conseguir se segurar.

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Quando o inspetor entrou na sala e avisou ao professor que a diretora estava chamando por Lucas em sua sala, o coração do negro gelou – e todos os olhares foram parar nele.

Ele sabia que sua mãe estava no colégio naquela manhã para conversar com a mulher que desfilava seus belos saltos de marca pelos corredores, fazendo aquele barulho irritante. Marcara a reunião na semana anterior, quando Lucas finalmente decidiu abrir-se com a mulher. Arrependeu-se no segundo seguinte, quando Lúcia começou a chorar descontroladamente, dizendo que aquilo era inadmissível e que conversaria com a diretora o mais rápido possível.

Não queria que pensassem que era fraco e incapaz de lidar com os próprios problemas, colocando a mãe no caminho para defendê-lo. Quando contou para a mulher sobre todas as ofensas, procurava ter alguém para conversar quando o dia no colégio fosse exaustivo demais, alguém para se abrir quando as piadas o esgotassem. Não estava procurando por mais motivos para provocações.

— Converse comigo, menino — João, o inspetor, iniciou uma conversa. — Os corredores são grandes e a sala da diretora é longe. O que está acontecendo com você?

— Minha mãe é empregada doméstica, Seu João — confessou, ainda que um pouco envergonhado. — Acho que as pessoas aqui não estão acostumadas com gente pobre.

Os olhos do homem brilharam, ainda que a história fosse triste. Seu João conseguiu ver sua versão mais jovem naquele menino, aquela versão da qual não se lembrava há muito tempo.

A vida também não tinha sido fácil para João. Diferente de Lucas, ele sempre estudou em escola pública, nunca tentara uma bolsa em escolas particulares porque seus pais consideravam bobagem. Naquela época, pouco se importavam com a educação da criança. João teve que lutar e insistir muito para que não fosse tirado do colégio antes de completar o Ensino Médio. Para os pais do homem, era muito mais importante ter capacidade de trabalhar e ajudar nas despesas da casa do que saber ler, escrever e somar um mais um.

Era isso que acreditavam que João aprendia todos os dias, mas ele sabia que seu conhecimento ia muito além. Era um garoto apaixonado pela arte de aprender e todos que viviam ao seu redor diziam que era inteligente o suficiente para ser muito bem sucedido financeiramente. Não foi o que aconteceu, infelizmente. A grande falta de oportunidade acabou permitindo que o garoto desse poucos em direção ao que diziam ser seu destino.

Conheceu o amor da sua vida, desejou começar uma família e assim descobriu o que era felicidade verdadeiramente. Começou a trabalhar no Colégio Maria Elizabeth e, assim, teve a oportunidade de colocar sua filha para estudar lá também. Todas as noites pegava no sono pensando em como os colegas de sua filha reagiam ao saber que ela era filha do inspetor.

— Eu peço a Deus todos os dias para que coloque um pouco mais de sabedoria na cabeça dessas pessoas que não entendem que somos todos iguais — Seu João sorriu para o garoto, tentando trazer um pouco mais de conforto. — Talvez, se você tentasse também, ele agilizasse o processo.

— Tenho fé de que ele nos ouve, Seu João, mas acredito que posso mudar a realidade de onde vivo, pelo menos. E mais fé ainda de que outros podem se inspirar em mim, e mudarem a realidade de outros lugares. E assim vamos fazendo uma corrente e nos transformando em uma grande família.

— Eu adoraria entrar para essa família.

— O senhor já está nela, então.

***

Clube dos 7 Erros [HIATUS]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant