Capítulo 36

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Desde o casamento eu troquei apenas algumas mensagens com a minha mãe e ainda não contei que terminei meu "namoro". Na verdade, eu não sei mais o que dizer para ela, mesmo que seja muito mais fácil mentir por mensagem. Ela anda me enchendo porque eu não mudei meu status no facebook para "relacionamento sério".  Não consigo nem descrever o quanto isso é ridículo. 

Quanto a minha irmã, a última vez em que nos falamos foi durante a sua lua-de-mel. Eu também não contei nenhum dos meus conflitos amorosos para ela. Prefiro guardar para mim até resolver o que vou fazer, ou até que ela venha me visitar.

Algo muito bom aconteceu ontem. Eu estava saindo do elevador e encontrei com o Nícolas levando algumas caixas para o carro, ele estava mesmo se mudando. É um grande alívio saber que não o verei mais. Todos os dias eu saia do meu apartamento com receio de trombar com ele pelo prédio.

Eu queria poder contar essa notícia para o Benjamin, mas tenho o evitado a semana toda, não o vejo desde a festa. Sinto falta de conversar com ele, de ser sua amiga. Toda essa história de declaração nos afastou e eu não sei o que fazer.

Agora eu estava saindo da monitora e pensei em passar na cafeteria. Ela já deve estar fechando mas eu estou morrendo de fome, minha maçã no almoço não foi suficiente.

Parada em frente a cafeteria, olho pela janela e vejo que Benjamin está ali, acompanhado. Hesito em entrar. Será que era uma boa ideia? Talvez eu simplesmente devesse dar meia volta e ir embora.

Quando estou pronta para dar as costas, Milena se levanta e ele também. Eles ficam parados se encarando como se tivessem algo a mais para falar. Eu observo tudo intrigada, algo me diz que eu não vou querer assistir o que vem em seguida mas eu não me movo. Ele segura a mão dela, que se aproxima e o beija.

Atordoada, eu dou um passo para trás e desvio o olhar. Preciso ir embora. Preciso ir embora. Minha consciência repete mas eu estava muito perplexa para me mexer. A culpa é minha, eu o deixei ir. Benjamin me deu todos os sinais e eu fui burra o suficiente para ignora-los. Eu mereço isso.

Meus olhos estão ardendo e lágrimas começam a escorrer quando eles se separaram e eu percebo que ainda estou parada assistindo a esse show de horrores. Porém, antes que eu saia, o olhar de Benjamin me encontra e eu me desespero e saio correndo. Muito maduro, eu sei.

Corro o mais rápido que posso e só descanso quando entro no ônibus.  Não acredito em que acabei de ver, eu saiba que eles ainda tinham sentimentos um pelo outro, era só uma questão de tempo para Benjamin me esquecer e voltar para ela.

Me sinto péssima. Nunca achei que pudesse me sentir tão mal quanto estou me sentindo agora. Nesse momento, estou grata por nunca ter me apaixonado e ter tido a oportunidade de partir meu coração antes.

Algumas pessoas no ônibus começam a me encarar pois ainda estou chorando, de uma forma nada discreta. Mas estou triste demais para me importar com o que esses desconhecidos devem estar pensando sobre mim.

Eu finalmente chego no meu apartamento e, depois de chorar o suficiente no caminho, já estou relativamente melhor.

- Bella! Que bom que chegou, por que não atendeu o celular? - Bianca diz assim que eu entro. Ela e Lucas estavam sentados no sofá como se estivessem me aguardando.

- Minha bateria acabou. O que aconteceu? - Pergunto preocupada. Eles se entreolham e Bianca se levanta .

- Primeiro eu preciso que fique calma, senta aqui. - Bianca aponta para o sofá e eu me sento apreensiva. O que era tão importante para eu precisar me acalmar?

- Você está me deixando nervosa, Bianca. Diga logo. - Eu peço.

- Sua mãe me ligou, disse que você não estava atendendo o celular. - Ela suspira e eu balanço a cabeça para que continue falando. - Ela me disse que seu pai entrou em coma alcoólico hoje de manhã e foi internado...

Meu coração acelera. Coma alcoólico?

- Meu Deus! Como ele está? Eu tenho que ir visitá-lo log....

- Não, Bella. - Bianca me interrompe. - Ele faleceu.

Eu não sei se é porque eu já chorei muito hoje, ou talvez seja o choque da notícia, mas não derramei nenhuma lágrima. A única coisa que senti foi uma dor enorme no peito e culpa. Como ele pode ter morrido sem que eu o tenho perdoado? Eu não posso ter deixado meu pai ir embora com esse sentimento de ódio ainda em mim. Não era para ser assim.

- Vai ficar tudo bem, Bella. Estamos aqui com você. - Bianca me abraça e Lucas se junta a ela.

"Camila", minha consciência me lembra. Ela deve estar muito mal, precisa do meu apoio.

- Ela te disse quando seria o velório? - Murmuro.

- Amanhã, oito horas. - Eu suspiro.

- Eu preciso pegar um ônibus hoje. - Digo.

- Eu posso te levar, Bella. - Lucas oferece.

- Sim, e eu te acompanho. Vou ligar para o trabalho e dizer que não vou à palestra amanhã. - Bianca diz já pegando o celular e eu nego.

- Não quero que perca essa palestra, Bianca. Você estava tão empolgada. - Eu digo.

- Eu não vou te deixar sozinha. - Ela diz.

- Eu vou ficar bem, preciso de um tempo sozinha. - Eu digo.

- Eu não sei... - Ela diz.

- Não se preocupe, Bianca. É sério.

- Tudo bem, mas qualquer coisa me liga e eu vou correndo, ok? - Ela diz.

- Ok. - Respondo e a abraço.

Rapidamente coloco algumas coisas que vou precisar em uma mochila e tomo um banho. Esse dia parace não ter fim.

Lucas me leva até a rodoviária e, por sorte, consigo uma passagem de última hora.

- Nós dê notícias quando chegar lá. - Bianca diz.

- Eu prometo. - Abraço os dois.

Entro no ônibus e encontro meu assento. Tomei um remédio para me dar sono, preciso dormir algumas horas para não parecer tão acabada quando chegar na minha cidade. Muitas coisas me esperam amanhã.






Muito sofrimento para um só capítulo, não acham?

Coloquei uma música na mídia que combina bastante com o clima triste do capítulo. Espero que gostem e não esqueçam de votar.

Ps: Novamente, me desculpem pela demora.




A PropostaWhere stories live. Discover now