Capítulo 8

9.2K 811 39
                                    

Eu contei tudo para ele, pelo menos o que eu consegui falar sem sentir minha garganta fechar. Benjamin me ouviu em silêncio e não fez perguntas ou me interrompeu, mas parecia muito indignado com a minha história.

- Eu sei que esse é um momento delicado, mas eu preciso perguntar... - ele diz, por fim, e eu o encaro tensa. - Você vai denunciar ele? Porque eu posso ir até a delegacia com você ou chamar outra pessoa, o que achar melhor.

Essa ideia não tinha passado pela minha cabeça ainda, mas não era algo que eu ansiava. Claro que eu queria que ele fosse punido, mas eu sei como funciona a lei nesse país, principalmente para mulheres. Eles vão me fazer milhares de perguntas, questionar meus motivos e decisões para, no fim, me mandar para casa da mesma forma que eu cheguei. Quebrada.

Nicolas não chegou a fazer nada, de fato, então vai ser difícil provar o assédio. É a minha palavra contra a dele, e todos sabemos quem ganharia.

- Eu não quero - digo firme e ele me olha de forma compreensiva. O forma como Benjamin estava agindo era, surpreendentemente, reconfortante. Eu nunca imaginaria ter ele do meu lado em uma situação como essa, muito menos que ele fosse tão atencioso e compreensivo. 

- Tudo bem. Você quer ligar para alguém? - ele oferece após eu ter contado sobre meu celular ter descarregado.

- Acho que eu deveria avisar a Bianca, já está tarde e ela pode se preocupar - penso alto. 

- Ela tem um carro para te levar embora? - ele pergunta. Eu nego. Não tinha pensado nisso. - Eu posso te levar.

- Nao! - nego rapidamente e ele franze a testa. - Não me leve a mal, você me ajudou muito. Mas não vou me sentir confortável sozinha em um carro com você, pelo menos não hoje.

- Tem razão, me desculpa - ele coça a cabeça como se pensasse em algo e volta a me encarar. - Se a Hellen for com a gente você vai se sentir melhor? - ele aponta para a mulher que me resgatou mais cedo e eu sorrio.

- Sim.

- Perfeito! Quer ligar para a sua amiga antes de irmos? - ele diz tirando o celular no bolso e me entregando. Estendo meu braço para pegar e os olhos dele param meu pulso, que tinha ficado marcado depois do Nicolas ter segurado forte. Na hora eu nem senti, mas estava começando a doer agora. Com certeza ficaria roxo. 

- Foi ele - ele não pergunta, mas afirma com pesar. Eu assinto em silêncio. Ele suspira, parecendo irritado.

- Não está doendo - minto para tranquiliza-lo.

Não eram os meus pulsos que estavam me incomodando, mas sim todo o meu corpo que parecia sujo e usado. Se eu fechasse os olhos ainda conseguia sentir o cheiro de perfume e álcool que exalava do Nicolas.

- Não precisa mentir para mim - ele diz me olhando nos olhos da mesma forma que fez antes, me pedindo para confiar dele. Eu sorrio fraco e ele me dá o celular, se levantando em seguida. - Pode falar com a sua amiga e eu vou avisar a Hellen que ela vai com a gente - diz e eu assinto, vendo ele se afastar e falar com a mulher. 

Digito o número da Bianca, que por sorte sabia de cor, e espero que ela me atenda.

- Oi, amiga - a voz animada dela me atinge e eu tenho vontade de chorar. Precisava dela para me consolar hoje. - Como tá indo o encontro? Já estava ficando preocupada porque você não respondeu as minhas mensagens.

- Aconteceram algumas coisas - começo sem saber exatamente o que falar. - Mas eu te explico quando chegar em casa. Você pode me esperar na portaria? - pergunto apreensiva. Ainda tinha mais isso. Nicolas morava no mesmo prédio que eu, ou seja, ainda tinha a chance de encontra-lo hoje e eu não quero estar sozinha se isso acontecer.

No carro me sento ao lado de Benjamin e Hellen se senta no banco de trás. O caminho é tranquilo, a mulher tentou me distrair contando sobre a vida dela e funcionou. Rapidamente chegamos em frente ao meu prédio e eu respiro fundo, observando a entrada de dentro do carro. Podia ver a Bianca conversando com o porteiro daqui.

- Está entregue. Vou te acompanhar até lá  - Benjamin diz tirando o cinto de segurança e me encarando. 

- Eu devo ir também...? - Hellen diz preocupada e eu sorrio para ela. A verdade é que ela foi um anjo para mim hoje. Se ela não tivesse aparecido e me levado para dentro naquele momento, eu não sei o que teria acontecido. 

- Não precisa, você já fez muito por mim hoje. Eu vou ser eternamente grata, Hellen - digo sincera e ela sorri e segura as minhas mãos.

- Fico feliz por ter ajudado, espero que você esteja se sentindo melhor. Não hesite em me chamar se precisar de algo, Benjamin tem meu contato - ela diz e eu assinto, sorrindo.

- Pode deixar.

Desço do carro acompanhada pelo Benjamin.

- Sua amiga está te esperando? - pergunta quando paramos na porta e eu me viro para ficar de frente para ele. 

- Sim. Eu pedi que ela ficasse na portaria caso eu encontrasse o Nicolas por lá. Não estou pronta para encara-lo de novo - digo sentindo um arrepio só de mencionar o nome daquele nojento.

- Por que você encontraria ele aqui? - Benjamin pergunta visivelmente confuso. Percebo que não comentei sobre isso.

- Ele é meu vizinho - ele arregala os olhos. 

- O que? E se ele vier te procurar? - pergunta preocupado.

- Fica tranquilo, eu não estou sozinha aqui. Se ele aparecer eu chamo a polícia - digo mas ele não parece totalmente convencido. 

- Tem certeza que vai ficar bem? - pergunta e eu institivamente olho para dentro, encontrando o olhar curioso da Bianca em nós dois. Eu teria muita coisa para explicar hoje. 

- Sim - respondo voltando o olhar nele. - Obrigada por hoje, de verdade. Você me ajudou muito.

- Você me agradeceu varias vezes hoje, acho que compensou todas as vezes que me insultou - ele brinca e consegue me arrancar um sorriso, parecendo aliviado ao me ver mais alegre. 

- Acho que é você que está tentando compensar as vezes que foi arrogante - entro na brincadeira. - E eu nem te insultei tanto assim - me defendo e ele ri.

- Se precisar de alguma coisa, pode me procurar. Sabe onde me encontrar - ele pisca e eu rio. 

- Eu sei? - pergunto e ele começa a se afastar para voltar para o carro. 

- Boa noite, Bella. Já posso te chamar de Bella? - zomba e eu reviro os olhos. 

- Boa noite, Benjamin - me despeço e ele fica parado do lado do carro, esperando que eu entre no prédio. Viro de costas e passo pela porta, encontrando a Bianca me esperando. 

Antes de falar qualquer coisa, eu a abraço. Precisaria de forças para contar a ela tudo que aconteceu.

A PropostaWhere stories live. Discover now