Capítulo 15 - "Não chores"

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Entrou naquele lugar. Estava totalmente escuro e tinha um cheiro a velho. Definitivamente ninguém usou este sítio durante muito tempo. Apesar da escuridão podia-se reparar que tinha o mesmo aspeto tanto por fora como por dentro: abandonado.

Continuou a caminhar com cuidado para não ir contra nada. Os seus passos ouviam-se quando os seus pés chocavam contra a madeira antiga do chão. Era o único som que se podia ouvir.

Absolutamente mais nada.

Abriu a porta do que lhe pareceu ser de um enorme quarto. Semicerrou os olhos para puder ver um pouco mais adiante naquela escuridão. O quarto não estava mobilado, nem sequer um cadeira quanto mais um armário.

Então, a porta daquele quarto fechou de golpe fazendo-a saltar.

O seu coração começou a acelerar e a sua respiração ficou irregular.

Sabia que tudo isto iria começar agora.

- Vieste mais cedo do que eu esperava. - Disse uma voz masculina. Passos ouviram-se no quarto e Clary sentiu como se pôs atrás dela, muito perto. Era melhor começar a fazer alguma coisa.

Deu meia volta fingindo que estava assustada, ou mais assustada do que já estava. Na verdade isto assustava mais do que o que ela pensava. Sabia que isto de alguma das formas ia dar para o torto.

A sua respiração agitada ouvia-se por todo o quarto fazendo com que o homem que estava parado junto dela se risse por um momento.

- Sabes uma coisa? O Ross pensa que somos uns ingénuos. - Disse ele. Nesse pequeno momento acreditou que ali seria o lugar da sua morte. - Sinceramente, ele tinha de pensar um pouco mais. Ele achou mesmo que nós te levaríamos até onde está o que ele necessita, mas sabes? Não é bem assim. - O homem esticou a mão para tocar-lhe, mas de imediato deu um passo para trás. Ele riu de novo. - Tens estado a gostar de matar pessoas que ele mandou matar, mas agora, somos nós que vamos gostar de matar a puta que tu és.

Deu outro passo para trás no qual ele reparou. Num momento prendeu-lhe as mãos para que não pudesse fazer nada contra ele. Enquanto a segurava com a sua mão esquerda pôs a sua mão direita a tapar a sua boca e nariz, o que fez com que deixasse de respirar e de repente... Tudo se tornou preto.

(*)

Clary acordou com uma forte dor de cabeça, estava num quarto tão escuro como o anterior. Apenas se lembrava do homem que estava ao seu lado naquele quarto. Fechou os olhos para que a dor de cabeça cessasse.

Nada aconteceu.

Tentou mover os seus pés e mãos. Estava totalmente atada e tinha um grande pano amarrado à sua boca impedindo que pudesse falar ou gritar.

Malditos sejam, nada correu como planeado e agora corre o perigo de morrer. Eu vou morrer, estou certa disso, pensou.

Lágrimas começaram a cair por todo o seu rosto, fazendo com que se molhasse. Então, notou em mais alguma coisa. Estava de roupa interior, aqueles nojentos tinham-lhe tirado a roupa. Ajoelhou-se tentando libertar-se, mas quando o fez sentiu uma dor que veio para ficar. Doía-lhe cada um dos músculos. O que lhe tinham feito? Era simples a resposta. Bateram-lhe que nem porcos.

No meio dos seus pensamentos ouviu como uma porta se abriu fazendo com que chegasse luz àquele lugar. Teve de fechar os olhos por causa de todo o desconforto que aquela luz provocou. Sabia que tinha entrado alguém, mas não sabia quem.

- Está muito calor aqui, não achas? - Disse ironicamente. Não conseguiu reconhecer a sua voz, apenas sabia que era masculina. Concentrou-se para tentar saber o que queria e porque tinha entrado logo a falar de coisas tão estúpidas como calor. Estava tudo escuro depois de ele fechar a porta por onde tinha entrado. Não conseguia saber onde o filho da mãe estava parado. - Não tens calor? - Perguntou sabendo perfeitamente que Clary não conseguia responder a nada. Riu em seco.

Então sentiu como uma enorme quantidade de água chocava conta o seu corpo empapando-a da cabeça aos pés. Era a água mais porca que tinha sentido em toda a sua vida. O seu corpo começou a tremer e as lágrimas começaram de novo a aparecer.

O que fazia agora?

Um soluço escapou da sua boca fazendo com que o homem se apercebesse de que estava a chorar.

- Shh, shh, não chores. - Disse. Ele aproximou-se dela. Podia sentir o calor do seu corpo chocar contra o seu. Podia sentir de tão perto a sua respiração que lhe dava vontade de vomitar. - Não chores, rainha. Isto vai tudo acabar num abrir e fechar de olhos.

Ele ia matá-la.

- Mas primeiro tenho de esperar que o teu chefe apareça para salvar-te o cu. - Sussurrou ao seu ouvido. Eles tinham tudo completamente planeado, tal e qual como nós. Só que a diferença é que tudo nos saiu para o torto a partir do momento em que me trouxeram para outro sítio. - Ele sabe muito bem onde te tenho e não vai demorar a vir... Sabes porquê? Porque ele precisa de ti para o foderes.

Mas que merda, como é que ele sabia isso?

- Vejo-te brevemente... - Disse saindo, deixando-a sozinha como no princípio. Ele estava totalmente seguro de que Ross viria, mas Clary tinha a certeza de que não seria assim. Talvez mandasse um dos seus trabalhadores e estava feito. Ross não se iria arriscar por causa de uma rapariga de dezanove anos... Ou sim?

(*)

- Ela está em perigo, Ryan. - Começou a falar. Não tinha ideia de onde estava Clary neste momento, mas tinha o pressentimento de que nunca mais a iria voltar a ver. - Ela tinha razão. Corria mais perigo do que nós pensávamos. Ela não pode morrer por minha culpa.

- Montes de pessoas já morreram por tua culpa, relaxa-te. - Ryan falou com sinceridade, mas as suas palavras só faziam com que Ross perdesse a paciência de novo com ele.

- Ela não, caralho! - Gritou e tentou controlar-se para não deitar tudo a perder como tinha feito em vezes anteriores. - Ela não pode morrer pela minha maldita culpa!

- Então vai! Procura-a e salva-lhe a vida.

(*)

Voltou a abrir os olhos com a esperança de ver algo novo desta vez. Tinha estado sempre acordada a maior parte do tempo desde que a tinham trazido para aqui. Realmente isto tudo é uma porcaria! O quanto ela queria que isto tudo fosse um maldito sonho, acordar e deixar para trás como fazia sempre com os pesadelos e seguir com a sua vida.

Mas sabia que isto era real e que ia morrer antes do amanhecer. Sabia disso e era o mais certo neste momento.

Se apenas...

A porta abriu-se de golpe fazendo com que deixasse os seus pensamentos para trás e fazendo-a dar um pequeno salto pelo susto.

- Adivinha quem está aqui... - Falou o mesmo homem que tinha vindo esta tarde. - As minhas previsões cumpriram-se e agora vou matar os dois de uma vez...

O Ross estava aqui.

Princess of the MafiaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora