ruínas

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as pessoas gostam de se referir às outras como lar.

veja bem, moon byul-ie. um lar é o que todos almejam, não é apenas a felicidade, é a fonte da felicidade, um refúgio, um porto seguro. onde você se sente confortável, feliz e em paz. "lar" tem muitos mais significados do que "felicidade". quando tudo desaba, seu lar não pode desabar.

percebe, então, o perigo que é atribuir tudo isso a uma única pessoa?

pessoas desabam. o tempo todo. somos todos ruínas em busca de algo que possa pôr nossos pedaços colados novamente. como uma ruína pode ser a reconstrução de outra? como uma ruína pode atribuir toda sua reconstrução a outra ruína que sequer foi capaz de manter a si própria inteira?

mas nós fazemos isso, o tempo todo também. isso porque ser feito de ruínas dói, então nos deixamos levar pelo desespero de qualquer coisa, qualquer pessoa, qualquer ideia de um mísero amor; possa nos impedir de continuar desabando, pelo simples fato de ser tão doloroso ter tantas partes nossas perdidas.

o que tanto gostam de pregar, tão mais saudável do que o que todos fazemos, é o tão aclamado amor próprio. seja seu próprio lar. e a realidade é diferente. não podemos extinguir as chances de uma pessoa encontrar amor em outra pelo simples fato de não conseguir se amar. não é uma opção, é uma série de tentativas infinitas e diárias com muitos, muitos fracassos. e diminuir a chance de ser amado de alguém as suas inseguranças, me parece tão cruel.

então quando entrou na minha vida, com todas as palavras bonitas e as promessas que eu precisava, como poderia eu não ter-te como meu último suspiro de vida, após tantas visitas à morte?

você parecia como o lar que sonhei. bem, não o que sonhei. nossas expectativas nunca são atendidas, sejam elas piores, melhores ou igualmente boas.

certo, eu sonhava com uma casa com cores, mas não tantas cores. você era uma mistura de branco, preto e azul. e estava tudo bem, eu amo essas cores também. eu desejava uma casa com ar clássico, e você era tão moderna. e o moderno é tão bom quanto o clássico, apenas de forma diferente. eu imaginava cortinas suaves, um piso branco, janelas que abrem cobertas por longas e finas cortinas e uma mesa de centro entre três sofás. você era cortinas fortes, um piso de madeira refinada, janelas totalmente fechadas pelo vidro inquebrável e um sofá-cama. eu gostaria de uma casa cheia de plantas e flores, uma grande biblioteca e paredes repletas de quadros e lembranças boas. você era luzes e mais luzes, uma estante de livros em uma sala de dança e paredes criativas.

mas nada disso importava. porque eu amava cada diferença em ti. a forma como fazia eu me sentir era a mesma, e minhas expectativas tão grandes quanto. este foi meu erro.

não irei mentir. por muito tempo você foi meu lar, por tanto tempo que eu sequer conseguiria imaginar que um dia você poderia desabar em minha volta. seus vidros não deixavam as janelas baterem pela forte ventania, suas paredes criativas me deixavam sempre alegre e otimista, suas luzes me hipnotizavam e seu sofá-cama me abrigava quando eu estava muito cansada para subir as escadas.

mas as janelas, que você fazia parecerem inquebráveis, começaram a se rachar, deixando a ventania atingir-me e jogar-me de um lado para o outro como se feita de papel. papel frágil. suas paredes iam, aos poucos, descolorindo-se e descolorindo-me junto. a energia se foi, levando suas luzes com ela. e o sofá-cama foi desgastando-se, não sendo mais capaz de abrigar o peso de minha exaustão.

a ventania tornou-se tão forte e tua lareira tão fraca, que não fui capaz de manter-me aquecida dentro de ti como antes. tudo tornou-se tão quieto e frio, mas você, no posto tão alto em que te pus, não podia ouvir meu choro baixinho e meus sonhos ao teu lado morrendo. essa casa não fazia-me sentir mais como um lar. e concluir isso, doeu muito mais do que todo o teto desabando em minha cabeça e as paredes rachando em volta de mim.

de lar, você foi para cobra, trocando de pele.

deixou essa carcaça em ruínas para trás enquanto eu tremia em joelhos dentro dela, e tornou-se o lar de outro alguém. personalizou-se, reconstruiu-se, virando uma casa mais confortável para alguém cujo peso sobe seu chão não te fizesse rugir.

aquela carcaça vazia que deixou para trás desabou de vez, comigo dentro, quando se foi. e você não sabe das noites que passei usando aquele chão como combustível para o fogo da lareira, tentando de toda forma me aquecer enquanto os vidros estouravam e deixavam a ventania destruir tudo que havia restado. foram muitas noites, moonbyul. muitas. de puro e genuíno desespero.

foi quando me tornei imune ao frio. incapaz de senti-lo, foi mais fácil reerguer-me daquele chão repleto de buracos. destruí de vez as paredes e saí de dentro daquela carcaça. joguei o resto das madeiras na lareira, queimando tudo o que havia restado até o chão.

você não me ensinou a me amar, byul-ie. mas me abrigou dentro de ti e protegeu-me enquanto eu tentava, falhava e desabava. amou-me o suficiente para eu sentir vontade de amar a mim mesma. e não, não tornou-se permanente. ainda careço de amor e proteção e, se for sortuda, encontrarei outro lar mais forte e cuidarei dele melhor para não desabar tão terrivelmente. todavia, teu abrigo durou o suficiente para que eu evoluísse e esse processo tornar-se mais possível do que quando te conheci.

obrigada, moon byul-ie. espero que proteja tão bem tua nova moradora quanto protegeu a mim. espero que ela tenha tanta vontade de te cuidar quanto eu tive. e, um dia, quem sabe, eu conte para meu futuro novo lar, como foi meu antigo. porque ainda que eu vivesse em ti, você quem tornou-se parte de mim. e uma das mais importantes.

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aaaaaa o que acharam?

escrevi essa one baseada nas músicas so cold do ben cocks e the house we never built da gabrielle aplin, duas musiquinhas bem da minha bad mesmo a

chu,
yangmi

desabamentos┋hwabyul. mamamoo.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora