CAPÍTULO 17 - PAZ? SOMENTE AOS SUBMISSOS

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— Volta aqui — ela tentou gritar, mas o que saiu foi um murmúrio rouco.

Estava sozinha e nua em uma sala imunda, sem janelas, iluminada somente por uma lâmpada fraca. E seu cabelo embaraçado que caía por sobre o rosto, seu corpo que agora beirava a dormência, aquele recinto pequeno, tudo tinha um fedor insuportável de morte fresca.

Elinor! O nome veio, de súbito, como um soco no coração, e com ele as lembranças. Quanto tempo se passara desde aquela noite? Parecia tão distante, tão surreal. Mas Kristina estava machucada de verdade, e Elinor estava morta de verdade. Ao resto do grupo, qualquer coisa poderia ter acontecido.

A porta se abriu. Kristina jogou os cabelos por cima dos seios e cruzou as pernas, mesmo que a única posição suficiente para tampar a nudez fadigasse rapidamente seus músculos. Apesar de tudo, manteve a cabeça erguida, pois, se existia um primeiro passo para enfrentar Keiton, era aquele. Porém, não foi Keiton a entrar no aposento. Kristina se pegou boquiaberta, do mesmo jeito que o rapaz que a encarava enquanto a porta atrás de si era fechada.

— K-Kris... — gaguejou Briel. — Eu te gritei no corredor das celas. Eu vi ele carregando alguém e vi que era você. — Estava vestido, saudável, intacto. Caminhou hesitante até ela. Parou no meio do caminho. — O que fizeram com você?

Ele tinha os olhos muito abertos e uma torção desagradável no rosto. Não estava apenas surpreso, mas repugnado.

— Eu não sei — respondeu ela com a voz fraca. — Eu não sei o que tá acontecendo, Briel. Eu não sei onde a gente tá.

— Na prisão. Numa... — Ele olhou em volta e falou como se cada palavra doesse. — Câmara de tortura. Eles me pegaram, mas eu nunca podia imaginar que ia te encontrar aqui. O que tá acontecendo?

— Eu não sei de nada — disse Kristina, e desabou. Deixou o corpo cair, fazendo com que os grilhões apertassem sua carne na tarefa de sustentar o peso, mas a dor física era agora um detalhe. Uma coleção de lágrimas guardadas, encerradas dentro de seu orgulho imbecil, começou a fluir de seus olhos e era como se o fluxo nunca mais fosse parar. — Eu não sei de nada. Eu só quero sair daqui. Eu quero ir pra casa. Eu quero ficar bem.

— Eu sei — ganiu ele, chegando mais perto e finalmente a abraçando. Ela enterrou a cabeça no pescoço de Briel. O calor dele era uma corda naquele abismo.

— Eu te amo — disse ela.

— Eu também te amo. — Ele fungou. Também chorava. — A gente vai sair daqui.

— Para de mentir pra mim. Se um de nós tem chance de sair, é você.

— Kris, você não vai morrer aqui.

— Não tem como você impedir.

— Eu vou fazer o que eu puder, mas não foi por mim que eu falei isso. Foi por você. Você não é do tipo que deixa alguém te matar. Você vai sair daqui, Kris.

Ela não respondeu. Só queria aproveitar aquele último pseudoabraço antes que fosse tirado dela. Em outras circunstâncias emocionais, perguntaria por que Briel estava ileso em uma prisão militar e há quanto tempo eles dois estavam ali, e talvez Briel perguntasse como os soldados descobriram onde ele estava e se os outros membros do grupo rebelde tinham ido com Kristina atrás dele, ou mesmo se Kristina sabia da existência do grupo. Mas nem a garota acorrentada nem o garoto assustado pareciam dispostos a explicações detalhadas. Tudo o que pudesse ser suposto seria suposto, no máximo, e no mínimo morreria naquela cena incoerente.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOWhere stories live. Discover now