Capítulo XVII

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"Filho, o Rodrigo mandou uma solicitação de amizade para você. Já viu?"

Minha mãe acaba de me fazer cair na real.

É claro que eu já havia ouvido o nome do pai da Eva!

— Mãe, ele está perto da senhora? — digo eufórico.

"Está sim, filho. Por quê?"

— Rápido, pergunte a ele se o nome da filha dele é Eva!

Lara e Mateus me olham sem compreender o que está acontecendo.

"Filho, ele disse que é sim..."

— Mãe, pede a ele para ir aí amanhã às dez da manhã. Eu irei aí só para falar com ele. Diga que é importante!

"Tudo bem filho, eu vou..."

Desligo antes de ela terminar.

Provavelmente ela ligará mais tarde, mas não posso explicar por telefone.

— O que foi isso? — Lara pergunta curiosa.

— O namorado da minha mãe... É o pai da Eva! — estou realmente chocado.

— Que mundo pequeno! — Mateus diz se sentando no sofá estupefato — Quem diria que ele estaria tão próximo...

— Então qual é o plano? — Lara me pergunta.

— Amanhã eu vou me encontrar com ele. Vocês vêm comigo. Temos que perguntar como foi que Eva morreu.

— Tudo bem. Então tá na hora de ir para casa e amanhã voltamos aqui. Vamos com meu carro, vai ser mais fácil. — Mateus afirma.

— Tudo bem, vou esperar por vocês aqui.

👻👻👻

Assim como combinado fomos para a casa da minha mãe, em Cachoeiro de Itapemirim.

Logo que chegamos, ela me deu um sermão por ter desligado o celular sem antes me despedir. Mas expliquei por alto o que aconteceu. Então ela compreendeu.

Rodrigo não demorou muito para chegar.

Quando abri a porta para que ele pudesse entrar, não pude deixar de notar o olhar espantado por ver Lara e Mateus.

— Lara? — ele diz espantado — O que você está fazendo aqui?

— Temos que conversar com você. É importante. — Lara diz se aproximando.

— Você os conhece? — Rodrigo me pergunta.

— Sim. — digo fechando a porta, após ele entrar — Acho melhor o senhor se sentar. Temos muita coisa para conversar.

— Vou preparar um suco para vocês. — Minha mãe diz saindo da sala.

Ela percebeu que é melhor não estar presente nessa conversa.

Olho para Rodrigo procurando algum traço que me faça lembrar Eva. Mas para minha surpresa, não há nenhum. Nada nesse homem se parece com minha amiga fantasminha.

Os olhos dele são pretos. O cabelo já está grisalho. Ele é rechonchudo – inclusive na região da barriga – e baixinho. O nariz dele é um pouco pontiagudo, combinando com o rosto quadrado.

— O que aconteceu para vocês estarem me procurando depois de tantos anos? — ele pergunta antes de se sentar no sofá.

— Eva. — Lara vai direto ao ponto — O assunto é a Eva. — Lara o encara — Eu fui atacada pelo cara que tentou a assassinar. — ela faz uma pausa — Sim, nós já sabemos que ele não a matou naquela noite.

— Mas o que minha filha tem a ver com isso? — Rodrigo pergunta secamente.

— O espírito dela está preso a terra. — Lara diz de uma vez — Precisamos saber o que realmente aconteceu com ela para tentar ajudá-la.

— Vocês enlouqueceram. — ele se levanta bravo — O que pensam que estão fazendo? Não basta tudo que minha menina passou?

— Eu jamais brincaria com algo assim! — Lara esbraveja — O senhor sabe mais do que qualquer um o quanto eu gostava da Eva! Ela é minha melhor amiga!

— Então por que vocês estão manchando a imagem dela dessa forma? — Rodrigo diz alterado.

— Estamos tentando ajudá-la! — Lara retruca.

Mateus segura Lara e pede para que ela se acalme.

— Acalmem-se! Estamos aqui para ajudar, não para brigar entre nós.

— Eu sei o que está acontecendo aqui. — Lara diz amarga — O senhor acha que a culpa foi minha, não é? Acha que ela só morreu porque eu a fiz sair de casa!

— Você enlouqueceu. Está descontrolada. Não sabe o que está falando.

— Fala a verdade! É isso o que passa em sua cabeça! — Lara grita.

— Cala a boca! — ele diz se sentando no sofá levando as mãos ao rosto e passando-as pelo cabelo — Você não sabe de nada! Eu não culpo você! Eu culpo... A mim.

Ele começa a chorar.

Minha mãe trás o suco e entrega para ele. Ela se senta ao lado dele e o abraça.

Eu me sento e Mateus também.

— Nada teria acontecido se eu não tivesse mandado ela voltar para casa. Se eu tivesse passado para pegar ela, como todos os pais descentes fazem, ela estaria aqui agora. — ele toma mais um gole do suco — Naquele dia eu recebi a notícia de que seria promovido, então eu avisaria a ela que teríamos que nos mudar de Muqui. — ele faz uma pausa — Minha relação com ela não era muito boa desde que eu descobri a verdade... — olhamos para ele sem entender enquanto continua — No dia que sofremos o acidente, a mãe dela havia contato tudo... Eu fiquei indignado e acabei não notando o caminhão que vinha em nossa direção. — ele inspira — Depois daquele dia eu comecei a ver a Eva de forma diferente. Vê-la como alguém que não era minha filha... que eu amei e cuidei por tanto tempo sem saber que não era minha filha biológica. — ele nos encara com o olho vermelho de choro — Eu me culpo por tê-la tratado diferente. Ela nem sequer sabia de nada... — ele para novamente — Quando cheguei em casa e a vi em uma poça de sangue eu entrei em desespero. A minha filha... A menininha que eu tanto amei... Estava lá, sem se mover. A única coisa que consegui pensar foi que a culpa de tudo era minha, por ter esquecido completamente de que pai não é só o biológico, mas também aquele que cuida e dá amor e carinho.

— Isso quer dizer que a Eva... — Lara começa.

— A Eva não é minhafilha biológica. 

Quem É Eva?Where stories live. Discover now