Capítulo XIII

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— O que aconteceu com ele? — Eva questiona.

— Não sabemos. Ele se mudou dois dias após a sua morte. — Mateus respondeu — Tentamos falar com ele para convencer a fazer um funeral, mas ele já não estava. Ninguém sabe para onde ele foi. Houve boatos que recebeu uma promoção no emprego, por isso se mudou.

— Você se lembra de ter recebido uma mensagem dele naquela noite? — pergunto à Eva.

— Não. Eu recebi?

— Sim. Recebeu. Lembro que estávamos conversando quando você começou a responder a mensagem e em seguida disse que seu pai pediu para você ir para casa.

— Pode ter sido porque ele queria contar sobre a promoção. — Jonathan cogita.

— Sim, faz sentido. — Mateus concorda — Vocês dois vão até a delegacia procurar alguma informação sobre o assassinato. Eu vou tentar encontrar algo sobre seu pai. — ele se direciona à Eva.

— Tudo bem. Vamos fazer isso. — Jonathan diz se levantando.

— Eu vou com o Mateus. — Eva diz — Me lembro de algumas pessoas que trabalhavam com meu pai. Se conseguirmos os encontrar ele pode perguntar se sabem alguma coisa.

— Tudo bem. — Afirmo.

👻👻👻

Jonathan e eu seguimos para a delegacia em silêncio. Pelo visto ele não é muito de papo. Mas nada que eu não possa dar um jeito.

— Eu pensei que o Mateus fosse te bater.

— Eu também. — ele ri — E se tem uma coisa que não sou bom é em bater. — ele faz gestos de socos, com os punhos fechados.

— Obrigada.

— Pelo o que? — ele me encara.

— Por ajudar a Eva a nos encontrar. — levo minhas mãos aos bolsos traseiros de meu short — Não é algo comum de se fazer. Eu estou realmente feliz em poder falar com ela mais uma vez. — faço uma pausa — Acho que realmente sou egoísta. — suspiro frustrada — Eu realmente gostaria de não encontrar a raiz do problema, só para ela poder ficar comigo por mais tempo.

— Não se culpe. Eu no seu lugar pensaria o mesmo. — Jonathan me segura pelo braço, me fazendo parar de andar — Você a ama. É por isso que está agindo assim. Provavelmente outras pessoas fariam o mesmo. Afinal, raramente temos a chance de nos despedir dos nossos entes queridos.

— Você também perdeu alguém? — quando digo isso ele me solta.

— Sim. Há cinco anos. — o olhar dele parece distante — Perdi meu pai.

— Sinto muito. — agora é minha vez de colocar a mão no ombro dele.

O toque faz com que um arrepio percorra minha espinha. Um baita frio na barriga.

Tenho certeza que não é vontade de fazer o número dois. Eu mal comi hoje.

— Estou bem. Já me acostumei com a ausência dele. — ele começa a andar me obrigando a tirar a mão do ombro dele — Ele também não foi um pai tão exemplar. Na verdade ele ficou com minha mãe por obrigação.

— Como assim? — começo a andar e fico emparelhada com ele.

— Ele tinha outra mulher. — Jonathan suspira — Segundo minha mãe ele saía com outra mulher. Minha mãe engravidou então ele decidiu se casar com ela. Mas nunca foi feliz. Ainda menos quando a amante dele se casou e teve filho. Acho que ele supôs que fosse dele o bebê. Minha mãe o aturou por cinco anos. Foi quando ele começou a beber demais. Ela então pediu o divórcio. Por isso fomos embora daqui.

— Então quer dizer que você já morou aqui. — constato — Mas o que aconteceu depois disso? Ele voltou com essa outra mulher?

— Não. A mulher não quis deixar o marido dela para ficar com ele. Pelo visto ela também não sabia de minha mãe. Ambas foram enganadas por ele. — Jonathan respira fundo — Mas ele confirmou que a criança era dele.

— Uau! Que história. Parece novela mexicana.

— Sim. — ele sorri — Uma histórica dramática. Quando ele ia levar a criança para eu conhecer, a mulher sofreu um acidente e faleceu. Logo depois ele descobriu que estava com câncer de próstata.

— Então você não conheceu seu irmão ou irmã?

— Isso. Mas sei que era uma menina. Ele mencionou uma vez. — avistamos a delegacia — A garota não sabia dessa trama toda. Por isso que ele não a procurou, mesmo após saber que podia morrer a qualquer minuto.

— Entendo. — olho para frente e depois volto a encará-lo — Você não tem vontade de conhecê-la? — pergunto curiosa.

— E dizer o que? — ele me encara — "Oi, sou seu meio-irmão. Vamos ser uma família feliz?".

Nós rimos.

— Não é uma boa ideia. — Afirmo.

Entramos na delegacia e avistamos um policial.

— Bom dia. Nós estamos procurando informações sobre um assassinato que ocorreu há três anos.

— Larinha como vai seus pais? — o policial me pergunta, deixando Jonathan com cara de tacho.

— Eles estão muito bem, senhor Geraldo. — sorrio — O Senhor poderia nos ajudar? Estamos procurando informações sobre o assassinato de Eva Oliveira.

— Ah sim. Eu me lembro desse caso. Venham comigo, o delegado saberá informá-los. Ele estava no primeiro ano dele aqui, na época.

Jonathan me olha interrogativo antes de começar a acompanhar o velho policial.

— Foi um caso muito chocante para nossa pacata cidade. — Senhor Geraldo continua — As pessoas ficaram assustadas. Ainda mais quando foi encontrado outro corpo dois dias depois.

— Outro corpo? — Jonathan questiona.

— Sim. — Senhor Geraldo responde. — Bom dia delegado. Esses jovens gostariam de saber mais sobre o caso Eva Oliveira.

— E quem são eles? — o homem engravatado diz secamente.

— Sou Lara Miranda Garcia. Esse é meu amigo Jonathan Fernandes. — estendo minha mão — Somos amigos de Eva. Estamos fazendo um memorial para ela. Mais precisamos saber ao certo o que ocorreu. — só uma mentirinha branda...

— Compreendo. — ele pega minha mão — Sou o Delegado Assis. — ele solta minha mão — Eu estava chegando a essa delegacia quando tudo ocorreu. — ele se senta novamente — Por ser um município pequeno a mídia não ficou em cima. Mas o caso é um pouco maior do que parece.

— Como assim? — Jonathan pergunta.

— Não foi apenas a jovem Eva que foi assassinada. — ele pega uns documentos na gaveta — Na verdade ela foi a penúltima que chegou aos nossos conhecimentos.

— O senhor quer dizer que se trata de um assassinato em série? — digo perplexa.

— Sim. Mas o incomum é que Eva destoou totalmente do perfil de garotas assassinadas. As outras eram de família pobre e moravam na zona periférica. Por isso não repercutiu tanto. E as pessoas não encontraram relação. Mas o método utilizado foi o mesmo. Vejam. — ele coloca algumas fotos sobre a mesa — Os braços e as pernas foram amarrados. Com o teste foi descoberto que houve crime sexual. E um ataque final com um punhal, no do coração.

Meu estômago embrulha.

Como pode um ser humano fazer isso com outro?

— Mas o que os levou a crer que o caso de Eva foi o mesmo?

— O modo como ela foi apunhalada. Foi o mesmo.

— E por que não tem fotos dela neste portfólio? — pergunto intrigada.

— Porque a Eva não morreu com aquele ataque...

Quem É Eva?Onde histórias criam vida. Descubra agora