1 - De sonhos em sonhos acordamos assustados

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Renato

-Eu realmente odeio essa incerteza toda, vou não vou... – reclamou Jordi

-Vôo não vôo – eu disse fazendo sinal com a mão na esperança de ele entender o trocadilho.

-Você faz piada porque não é contigo.

-Calma cara, relaxa e você vai ver que tudo se resolve.

Ele me encarou com cara de paisagem. Bem, deu pra perceber que acreditar nisso ele não ia.

-Tá bom, quer que fique melhor? Eu vou estar com você sempre – passei meu braço no dele – e você pode sempre contar comigo – pisquei os olhos de maneira fofa.

-Agora eu vou desmaiar de tanta felicidade Renato. – e meu nome saiu em sílabas acompanhado de um olhar de falso ódio.

-Tudo bem, vou te largar só porque sua noiva pode ficar com ciúmes.

E rimos como remédio para esquecer tudo.

Mas eu o entendo. Toda a expectativa de fechar ou não o contrato da exposição de artigos históricos estava deixando ele louco... mais do que já era, posso dizer. Só que isso era a vida dele, então qualquer incerteza afetava diretamente seu frágil e mutável humor.

O painel anunciou nosso número de pedido na lanchonete do aeroporto. 525.

-Não consigo entender, mas compreendo essa lógica de antes de 525 chamar o 974. Não é fila mesmo. - Pelo menos isso poderia desviar a frustração do jovem homem então fiz esse valioso comentário. Ele não se importou. O nosso número piscava fielmente no painel quando ele olhou para mim e se recostou na cadeira confortavelmente.

Ergui uma sobrancelha em protesto, mas ele nem se intimidou.

-Não se preocupa, eu vou. – cedi. Se bem que eu nem tinha chance. E ele deu um sorriso satisfeito de vitória.

Ainda bem que já tinha pedido para colocarem nossos lanches em apenas uma bandeja para facilitar para eles, agora eu sei que todo o bem que fazemos volta para nós, já que é mais fácil que equilibrar duas bandejas com copos de vidro cheios de suco em cima.

-Você não tem preguiça dessa sua atitude não heim? – tentei a bronca ao voltar para nossa mesa.

-Porque teria? – Jordi fez completa cara de desentendido enquanto pegava o garfo para atacar a omelete.

E a partir daí foi só conversa fiada envolta por muito assunto de trabalho. Falamos sobre seus planos futuros sobre o castelo, o que ele iria modificar e reformar. Ele se animou a partir daí. Não conseguia parar de falar. Parecia uma criança falando sobre o brinquedo dos sonhos. Seus olhos brilhavam de felicidade. O sonhador Jordi. Não era de se espera menos de um cara com aquele foco. Seu espírito de luta era o mesmo quando enfrentava um problema ou cem. Quer dizer, problema não. Ele gostava de defini-los como decisões. Para um cara que se virou sozinho em muitos aspectos ele cresceu bem. O cara que eu poderia chamar de amigo. Jordi Evant Brian. O assunto das mudanças continuava.

-Quero definir alguns limites para o castelo. Da última vez estava uma criança brincando na ala dos empregados e ela poderia se machucar. Então para o meu quarto e essa parte quero colocar algumas portas, mas que não danifiquem a estrutura das paredes. De preferência que não usem nada como pregos ou parafusos.

-Como faria isso? Parece até bom. Talvez não seja necessário portas, mas apenas fechar o corredor que dá acesso.

-Tem razão. Pode ser mais fácil. Mas eu quero que as pessoas tenham acesso ao máximo de história que eles conseguirem.

O monstro de Corine LavenzaWhere stories live. Discover now