Capítulo 1 - A fuga

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- Vamos Fiona temos que ser rápidos! - disse Milene apressando a filha

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- Vamos Fiona temos que ser rápidos! - disse Milene apressando a filha.

- Já vou mamã. - disse Fiona pegando na mala ao sair do quarto.

- Vamos, o teu pai foi buscar os cavalos. - disse Milene assim que Fiona chegou ao piso inferior.

Dirigiram-se ao estábulo onde Esteban colocava a sela em dois cavalos: um para ele e Milene e outro para Fiona.

Estavam em 1747, o verão acabara de começar mas para a família Rodríguez não eram bons tempos, pois viram-se obrigados a fugir. Porquê? Porque o seu pai falhara com o pagamento dos impostos, e agora o governo espanhol estava atrás deles para o obrigar a pagar o que ele devia, mas como viviam em dificuldades económicas eles não tinham possibilidades de pagar, então tiveram de fugir e recomeçar noutro lugar.

Fiona nasceu e cresceu em Sevilha, em Andaluzia, no sul de Espanha, tinha vinte e dois anos e era apaixonada pela dança das sevilhanas, dança típica de Sevilha, dançava sempre que podia, mas para si mesma. Planeavam ir até Málaga e lá apanhar um barco até França, e lá começar do zero. Não podia garantir que conseguiriam lá chegar sem serem apanhados, e para mais teriam de fazer algumas paragens até lá chegarem, mas valia a pena o risco.

Prendeu a mala não muito pesada no cavalo, subiu para o seu dorso ajeitando o longo vestido negro, cobriu o rosto com o capuz da capa da mesma cor e colocou o cavalo em andamento seguindo os seus pais. O cavalo do seu pai puxava uma pequena carroça com o restante das coisas, levavam lá também instrumentos agrícolas, feno e alguns vegetais para o caso de, se fossem obrigados a parar, poderem dizer que eram comerciantes a caminho da próxima cidade, e se não lhes fossem pedidas identificações estariam livres de perigo. Fiona era filha única e por causa disso com o passar dos anos tornou-se uma ajuda importante para a economia da família, tivera inúmeros empregos e ainda ajudava os pais nos trabalhos agrícolas, nas lides domésticas entre outros. Fazia-o mais por opção própria do que por obrigação pois como era somente ela a filha, e tendo em conta que não nadavam em dinheiro, sentia que devia ajudar os pais como podia, de modo a trazer mais dinheiro para casa para o sustento da família.

Em menos de uma hora saíram de Sevilha. Era madrugada, saíram de noite pois assim não corriam o risco de serem apanhados, por enquanto o rei não fazia ideia de que estavam a fugir, mas mais tarde ou mais cedo iria descobrir e vir no seu encalço. Em breve amanheceria por isso tinham de se apressar a chegar ao centro da cidade e procurar um local para ficarem até rumarem ao porto de Málaga. Por sorte a sua tia Mercedes, irmã do seu pai, morava lá e ofereceu abrigo para Fiona e os seus pais até eles terem que seguir caminho.

Eram seis da manhã quando chegaram a casa da sua tia, esta já estava acordada, provavelmente à espera deles. Assim que desceram dos cavalos Mercedes abriu a porta da frente dirigindo-se a eles:

- Fiona e Milene, entrem enquanto eu ajudo Esteban a arrumar os cavalos e a levar as coisas para dentro.

E assim fizeram. A casa de Mercedes era acolhedora, algumas velas estavam acesas de modo a iluminar a divisão com a sua parca luz, em cima da mesa um bule com chá estava disposto com quatro chávenas brancas sobre uma toalha axadrezada, a mesa tinha quatro cadeiras. Através da janela Fiona viu o dia amanhecer mas já sabia o que estava por vir, e assim não conseguiu alegrar-se.

- Não te preocupes mi amor - disse Milene reconfortando a filha. - Vai tudo correr bem.

- Quero crer que sim, eu não culpo o papá pela situação na qual nos encontramos mas sinto a falta da paz e calmaria da nossa vida, mesmo com bens escassos eu sentia-me bem e feliz. - disse Fiona com um suspiro.

- Eu sei mi hijita, também não queria estar nesta situação, mas se Deus quis assim, assim será.

- É pena que Deus não tenha permitido continuarmos com a nossa vida tal como ela era. - disse Fiona pensativa.

- Não devemos atribuir as culpas a Deus minha filha, isso é a última coisa que devemos fazer! Ele está a olhar por nós e tudo irá correr pelo melhor.

Fiona assentiu concordando com a mãe. Pouco depois o seu pai e a sua tia entram com as malas dos três, não trouxeram muita coisa, apenas algumas mudas de roupa e mantimentos para a viagem.

- Devem estar cansados da viagem, venham tomar um chá e comer uma fatia do meu bolo de laranja para depois descansarem. - disse Mercedes com um sorriso gentil. Fiona gostava muito da tia Mercedes, era simpática e sempre pronta a ajudar quando era preciso, tinha os cabelos castanhos, olhos castanhos, era gorduchinha e a sua face emanava gentileza e delicadeza. Bebeu duas chávenas de chá e comeu uma fatia de bolo, não tinha fome, apenas sono. A casa da tia Mercedes tinha três quartos, uma cozinha, uma sala de estar pequena e uma casa de banho do lado de fora da casa, em cada quarto tinha uma tina para se poder tomar banho, bastava levar água quente para lá. Fiona ficou no quarto que era do seu primo Rodrigo, que vive em Teruel, Aragón, com a mulher e a filha e os seus pais ficaram no quarto que fora da sua prima Letízia, ainda solteira, que vive em Pamplona. A tia Mercedes era viúva, o seu tio falecera à dez anos padecido por uma doença.

A sua prima Letízia sempre falava de como adorava viver em Pamplona, falava das festas, sobretudo das festas de San Fermín, com vestes típicas em branco e vermelho e a largada dos touros pelas ruas da cidade, e Fiona também adorava essa festa e ia até lá a convite da prima todos os anos. Fiona era conhecida na região onde morava como "la bella sevillana" devido ao facto de adorar dançar e à sua beleza, tinha longos cabelos pretos adornados com caracóis formando uma bela cascata até à sua cintura, os olhos eram azuis como duas safiras polidas e reluzentes, a pele era morena devido às horas exposta ao sol, os lábios eram carnudos com um sinal no lado esquerdo acima do lábio superior e o corpo magro, mas bem torneado.

Espanha era um país dado a festas, de norte a sul do faziam-se diversas festas, como as Fallas, o carnaval de Cádiz e Tenerife, as festas em honra do Apóstolo Santiago na Galiza e muitas outras, mas agora não poderia disfrutar de mais nenhuma. Não era muito dada a festas mas gostava de sentir o clima festivo no ar, a alegria e animação das pessoas ao seu redor, isso era algo que a alegrava pois sentia-se bem, sentia-se feliz. Ver a felicidade alheia fazia Fiona sentir que tudo estava bem à sua volta, fazia uma onda de paz e calmaria atingí-la, porém no momento aquilo que sentia era medo do futuro.

A Rainha CamponesaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora