Capítulo 5

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— Eu estou aqui.

Apareço na sala com os olhos levemente lagrimejados. Não por estar vendo ela, e sim porque a lente estava incomodando.

Ela me analisa antes de pular em mim, me abraçando. Eu realmente não sabia reagir a isso.
Ela tinha crescido um pouco, ganhado mais corpo, mas continuava a mesma. Ou pelo menos é o que sua expressão mostrava.

Eu, no entanto, não posso dizer o mesmo. Lembro-me bem dela ter dito que se eu ficasse bonita, não andaria mais comigo. Não que eu guardo rancor, mas eu tenho memória.

— Eita Debs, você está linda.

Até porque o sinônimo de beleza é emagrecer, como aquilo me enoja. As pessoas não sabem com o que eu lidei e tratam aquilo como lindo.

Não tenho nada contra Manu, na verdade eu adoro ela. Só que tem muitas coisas que eu não sou obrigada a aturar.

— Obrigada.

Sim, eu fui seca e não vou fazer comentários sobre ela.

Ponho minha sapatilha, me recuso a usar salto em Ilhadas. É o próprio inferno, já que as ruas são de paralelepípedo.

— E aí? Já sabe com quem vai ficar hoje? Dan vai enlouquecer quando te ver, sabe disso né?

— Não ficarei com ninguém — me olho no espelho e depois me viro para ela — Óbvio que eu sei.

Sai andando e ela vem atrás, fomos para a casa da minha vó que é do lado. Lá estavam todos, a mesa estava arrumada na área externa e tinha várias pessoas ao seu redor.

Ceiamos pouco tempo antes da virada do ano e aguardamos a virada com famosa queima de fogos.

— FELIZ 2019! — alguém gritou.

Em cima veio os abraços, antigamente eu amava, mas hoje eu vejo que isso só ocorre na virada do ano mesmo. Manu pulou em mim, e tive que me controlar para não soltar um palavrão, mas retribui o abraço.

A champanhe foi estourada e todos fizeram o clássico brinde. Vi Marcelo, meu primo, se retirando e puxei Manu para sair dali também.

Passei na casa que eu estava para escovar meus dentes e vazar dali.

— Feliz 2019! — Bianca aparece gritando quando eu e Manu estávamos saindo da casa.

Abraço ela com desejos de ano novo e ela repara em mim.

— Ave Maria, Debs. Você tá deixando a gente no chinelo.

Eu solto uma risada abafada e totalmente sem graça, iria corrigir elas depois por me chamarem de Debs.

Juntas fomos em direção a rua, onde sempre tem a festa de ano novo com música ao vivo e paredões. E muita gente bebada, diga-se de passagem.

Naquele momento tocava New Rules em um paredão, o que não era comum da região. As pessoas me achavam parecida com a Dua Lipa de rosto, mas sempre falaram que eu era gorda demais e isso não me tornava sua "gêmea".

Então era bom me sentir Dua Lipa, ao som de sua épica música, enquanto atravessa o mundaréu de gente. Mesmo que estar no "padrão Dua Lipa" nunca tenha sido parte dos meus planos.

Em um canto vi um grupo de meninas e soube identificar cada uma. Alice, Larissa, Evelyn e Luana, nos aguardavam.

Todas me cumprimentaram e me elogiaram, típico e horrível. Luana nem olhou na minha cara, não esperava outra reação. Porém enquanto eu falava com Alice, vi pelo canto de olho que ela me observava indignada, fico imaginando seu irmão.

Thalita Albuquerque: a nova JulietaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt