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Raíssa Montenegro

— A companhia veio conversar sobre o espetáculo de final de ano Raíssa, vamos refazer O Lago dos Cisnes — Carter diz. Ele é um dos meus professores e sou uma grande admiradora de seu trabalho, hoje em dia é ele que dirige a companhia de dança.

— Que maravilha Carter! Quando começam os testes para a escolha dos solos? — Fico animada com a noticia, é a minha peça favorita.

— Então Raíssa! Estávamos conversando e queríamos que você fizesse a Odete – fico maravilhada com o convite, e ao mesmo tempo meu coração literalmente falha uma batida — sabemos de sua condição, mas nós realmente queremos que você seja a estrela desse espetáculo, e não vemos uma bailarina clássica tão talentosa quanto você há algum tempo.

— É um honra, agradeço muito pelo convite, mas não posso te dar um resposta agora — faço uma anotação mental para lembrar-me de procurar Dr. Wagner mais tarde. — Conversarei com o meu médico, tudo bem?

— Claro Raíssa, ainda temos tempo, vou agendar os testes e aviso, também quero que participe das avaliações e escolha dos solos.

— Certo Carter, obrigada — Me despeço e saio do estúdio. Há mais duas turmas para dar aula no MedStar.

Mesmo sabendo que não posso aceitar e muito menos interpretar Odete, minha alma clama pelo o solo. Eu sou uma bailarina com mais de duas décadas de aprendizado, com uma grande bagagem com apenas vinte e nove anos. Minha alma suplica para estar nos palcos, mas infelizmente nada disso é possível. Um pouco de mim sempre estará faltando. 

Eu aguardo as crianças chegarem na sala do hospital, enquanto isso planejo algumas atividades para a apresentação do dia das crianças. Quero algo que possa envolver até as que não podem dançar. Desejo trabalhar a inclusão das mais limitadas, quero mudar isso e transmitir a mensagem sobre superação física e emocional, sobre vencer obstáculos da doença. 

Enquanto queimo os neurônios procurando algo, as enfermeiras aparecem trazendo os pacientes um a um. A alegria reina no espaço, já no meio da aula noto a presença imponente no meio de toda a bagunça. Dr. Hale está na porta de braços cruzados, observando tudo. Encontro seus olhos negros e aceno com a cabeça, ele retribui. Volto a me envolver com as atividades e quando olho novamente para a porta, não o vejo mais. 

Mais tarde sozinha no meu apartamento, os pensamentos vagam a procurar pela última pessoa que me envolvi. Desde que descobri a doença, fechei meu coração para o amor. Às vezes me sinto carente por não ter ninguém para me apoiar e estar comigo nas horas que mais preciso. Mas também estou acostumada com a solidão, pois perdi meus pais há alguns anos, os quais me deixaram uma conta bancária gorda, e com o meu trabalho no ballet, eu consigo me manter sem nenhuma preocupação. Minha única preocupação é literalmente manter meu coração batendo com força o suficiente para continuar viva.

A semana segue normalmente, converso com Dr. Wagner e como já esperado, eu não posso forçar a barra para fazer o papel. Comunico o Carter que reforça para eu participar da escolha e insiste que eu faça a preparação da solista selecionada.

— Ah Raíssa já estava esquecendo, seu antigo parceiro Jason Weston, também vai participar dos testes.

Quando ele diz o nome de Jason meu coração salta. Eu não o vejo desde que foi para a Rússia, e ele foi uma pessoa fundamental na minha vida após a descoberta da minha doença. Além de parceiros, éramos amantes. Mas ele despedaçou o meu coração quando ao ir embora para alavancar a própria carreira. Eu finalmente comecei a amá-lo de verdade, mas logo o perdi. Sinceramente, não sei como lidarei com o seu retorno. 

"— Raíssa, recebi uma oferta para dançar pela academia nacional da Rússia — diz de repente, como se estivesse procurando o momento exato para me dar a noticia.

Frágil Coração ( Degustação)Where stories live. Discover now