Capítulo 10 - Contratando uma advogada

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Tédio foi o que senti durante o resto da viagem.

Os dois homens que estavam no comando do trem tiveram outra briga, dessa vez mais barulhenta do que a outra. Cheguei a pensar que um jogaria o outro contra os trilhos do trem em movimento. Quando eu saísse do trem, pediria a eles o porquê deles brigarem tanto.

Eu e Tyller passamos o resto da viagem sentados nas sacas de carvão e rindo um da cara do outro.

Fizemos aquela brincadeira onde um tem que olhar para o outro e permanecer sério, quem conseguir ganha o jogo.

Como não tínhamos muito o que apostar, estávamos apostando sacas de carvão. Claro que ninguém reivindicaria o prêmio, nós não iríamos sair pela cidade com sacas de carvão nas costas, ou melhor, eu não iria sair por aí com sacas nas costas, já que eu ganhei todas as vezes.

O tempo passou relativamente rápido, era bom me distrair um pouco, assim eu parava de pensar no que poderia dar errado.

A única coisa que eu não conseguia tirar da minha cabeça era Milla.

Como será que ela estava naquele momento? Ela já saiu da enfermaria?

E o mais importante...

Ela conseguiria perdoar a minha fuga?

Milla era uma garota com o coração muito bom e no Instituto sempre estávamos juntas.

Eu sabia que ela era muito mais sentimental que eu, então se para mim estava sendo difícil a nossa distância, quanto estaria sendo para ela?

Eu realmente esperava que ela compreendesse a minha missão particular. Se houvesse outro jeito, eu nunca a teria deixado sozinha lá, nunca teria fugido sem dizer um adeus decente.

Ui! Essa palavra "adeus" me dá arrepios, talvez fosse melhor usar um "até logo", é... Assim está bem melhor.

"Adeus" faz você pensar que não voltará mais e eu realmente pretendia voltar.

Chegando em Nova Iorque meu coração começou a disparar.

É aqui, pensei comigo mesma.

Vagarosamente o trem foi parando. Quando o trem estava totalmente inerte, os dois homens vieram nos despejar.

-Agora caiam fora seus garotos sarnentos!- O homem rabugento não tinha melhorado de humor desde o início da viagem. -Peguem suas trouxas e se mandem para bem longe antes que eu me arrependa de ter sido tão bondoso.

Ele podia partir para cima de mim a hora que quisesse. Eu poderia acabar com ele com uma mão, não, com as duas mãos amarradas nas costas. Um chute no rosto dele era o suficiente para deixá-lo inconsciente por um bom tempo.

-Cale a boca animal!- O outro interveio. -Garotos, aqui é o mais perto da cidade que podemos deixar vocês, não há trilhos lá no meio.

-Obrigada por tudo,- Eu falei ignorando o rabugento. -Se houvesse como pagá-los...

-Você poderia...- Começou o mais velho antes do homem simpático pará-lo.

-Não diga uma coisa dessas, esse cara aqui é um bêbado. Ele cobraria tudo em bebidas.

Tyller deu risada.

A situação não me parecia muito engraçada, mas ele deve ter se lembrado de algo, outra hora eu perguntaria.

-Agora vão crianças, boa sorte no que vos espera.

Eu e Tyller acenamos enquanto os dois homens voltavam para o trem.

Anjos Noturnos - Asas IndomáveisWhere stories live. Discover now