Uma lembrança reprimida

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Eu estava no que parecia ser uma escola infantil, haviam crianças uniformizadas correndo por toda parte, todas pareciam estar felizes e se divertindo muito, exceto uma, havia um menino que aparentava ter uns dez anos, ele estava isolado no canto do pátio da escola, sozinho e infeliz, esse garoto parecia uma versão mais jovem de mim, cabelos cacheados, pele negra e magro exatamente como eu mas de alguma forma eu sentia que não era eu . Do nada um grupo de crianças cercou aquele garoto, será que iam chamá-lo para brincar? não, então eu entendi, aquele garoto estava sofrendo bullying, de alguma forma aquelas crianças o fizeram chorar, mas não demorou muito para um outro garoto se aproximar correndo, mas ao contrário das outras crianças ele parecia estar tentando ajudar, nenhum som saia de sua boca, era como se tudo estivesse mudo, mas lendo seus lábios percebi algo como "deixem ele em paz" e pela expressão do garoto, ele não estava nem um pouco feliz com o que estava acontecendo, após isso as crianças foram embora e ele se sentou com o menino e tentou alegra-lo, os dois eram muito semelhantes e só depois percebi o que estava acontecendo, o garoto que chegou para ajudar, era eu no passado.
A cena muda e é horário de saída da escola, minha mãe estava em frente a escola me esperando, me deu um beijo e ainda sem manisfestar som seus lábios se mexeram e formaram algo como "onde está seu ..." E então eu apontei para dentro da escola, ele continuava lá, minha mãe correu para dentro da escola e o encontrou no mesmo local no qual ele passou todo o recreio, ela parecia estar tentando alegra-lo e aparentava estar inquieta, algo me dizia que não estava funcionando, quanto mais ela falava mais o menino chorava, até que ele se levantou correndo e foi em direção a saída da escola. Minha mãe me pegou pelo braço e corremos atrás dele para o lado de fora da escola, chegando próximo ao portão escutamos um barulho muito alto de freio de carro e gritos de crianças, quando chegamos ao lado de fora havia uma pequena aglomeração, antes que pudéssemos nos aproximar um brilho vermelho fez a cena mudar.
Eu estava flutuando e não sabia nem como ou onde, era como se tudo fosse escuro e vazio, até que uma voz feminina doce e profunda ecoou por todo esse vazio fazendo então tudo ficar claro.

- Você queria ter protegido ele não é?
Você não conseguiu mudar as coisas naquela época, mas agora, esse poder está em suas mãos.

- Esse poder agora é seu Richard.

- Rick, RICK, RICK? ACORDA!

- Mãe?

- Você estava tendo outro pesadelo não é?

Eu estava de alguma forma esgotado mentalmente, quase não tive forças mas respondi.

- Sim mãe.

- Sonhou com ele de novo não é?

Minha mãe estava arrumada provavelmente já prestes a ir pro trabalho, o sol ainda nem tinha nascido e seu rosto não estava totalmente claro, mas mesmo a meia luz, dava para ver, ela estava chorando.

- Mãe, tem certeza que não podemos sair de são Paulo? Talvez seja o que falta para superarmos tudo.
Eu sabia que não era possível devido a nossas condições mas ainda tinha esperança de ouvir um "pega suas coisas, nós vamos embora!" Ao contrário disso, ela só sorriu.

- Filho, eu preciso ir trabalhar, se eu pudesse ficava aqui te confortando, mas já é a quarta vez que tem esse sonho essa semana, e como eu disse em todas as outras vezes, a culpa não foi de nenhum de nós, se ele estivesse aqui ele não deixaria você ficar triste com isso, assim como você não deixava ele ficar triste com nada. Agora tenho que ir, até de noite filho, tente não pensar muito sobre isso.

Minha mãe então foi embora, mas como era possível não pensar sobre aquilo? Depois de tantos anos eu ainda me sentia tão incapaz quanto no dia do ocorrido, não consegui fazer nada enquanto era tempo e não consigo fazer nada agora.

As Crônicas De Richard Brenner: Os Cristais CelestesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora