CAPÍTULO 15 - NO ALBERGUE I

Começar do início
                                    

— E precisa dessa checagem toda pra um veículo com o logo da LanPaker?

— Bem... — Ela olhou de relance para o homem da cabine, que parecia receoso. — Eu sei, mas são as regras.

— Sim, entendo. As regras. Então, eu e alguns funcionários estamos em uma viagem de negócios, carregando só a bagagem pessoal e o equipamento necessário. Apesar das regras, eu não acho que isso seja uma situação pra se preocupar. Mas é claro, soldada, que se a senhora quiser revistar meu carro, meus funcionários e até mesmo eu, a senhora tem toda a liberdade. Só que aí eu teria que ligar pro meu avô e dizer que vou me atrasar pro meu compromisso porque fiquei muito tempo no pedágio da fronteira pra uma checagem de veículo.

— Não precisa de nada disso, senhorita. Perdão por tomar seu tempo. Que o espírito do Guerreiro te acompanhe na viagem. — Ela fez um sinal para o homem da cabine. A cancela se levantou.

— Obrigada — disse Adriana, sorrindo, e eles seguiram, e Kristina voltou a respirar.

            Faltando pouco mais de uma hora de viagem, pararam em um albergue, pois já era quase meia-noite

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Faltando pouco mais de uma hora de viagem, pararam em um albergue, pois já era quase meia-noite. Nem mesmo os carros de empresas aliadas ao governo podiam burlar o toque de recolher se não tivessem permissão formal, que seria difícil conseguir sem enfrentar riscos extras.

Pegaram dois quartos: um para as meninas e outro para os meninos.

O quarto tinha três camas, lado a lado, com os espaldares encostados em uma das paredes. Na parede oposta havia dois pufes pequenos, um tapete e a porta para o banheiro; na parede de frente para quem entrava, uma janela com cortinas grossas e uma mesa logo abaixo, com um computador. Ao lado do computador descansava um porta-retratos com uma foto do Marechal Sarto em seu uniforme de passeio, com infinitas medalhas no peito, o quepe artisticamente desalinhado sobre a cabeça calva, uma expressão séria. Apesar de seus sessenta e seis anos, o homem quase não tinha rugas em sua pele escura.

Adriana foi a primeira a tomar banho, depois Elinor e finalmente Kristina.

A água morna passeava por seu corpo de um jeito quase terapêutico e o vapor se amontoava nas paredes de azulejo para escorrer em seguida. Pela primeira vez desde a despedida de Briel, a garota tinha um momento para pensar, para mastigar os acontecimentos, para confirmar que tudo era real. Ela estava no meio de uma viagem com mais cinco pessoas para buscar Briel de sua deserção, quando ele lhe dissera que apenas ela poderia ir atrás dele. Ela brigara com sua mãe logo depois do pai ser trancafiado em uma cela por culpa das mesmas pessoas. Pessoas às quais, entretanto, ela se unira. Todos em quem Kristina confiava jaziam perdidos e aqueles em quem ela não confiava eram seus aliados. Na prática, ainda era uma menina solitária, obediente e sem controle da própria vida. Talvez este fosse um fardo eterno: ser exatamente a mesma pessoa que sempre havia sido.

Se ao menos fosse boa em pensar por si mesma e tomar decisões. Se ao menos pudesse ter as pessoas ao invés de sempre pertencer a elas.

AO NOSSO HERÓI, UM TIRO NO PEITOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora