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11/11/12. Dia D.

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O movimento no farol era absurdo. Não havia sido de propósito, mas, de qualquer forma, talvez eu pudesse arrancar um pouco de sensibilidade dos corações alheios e despreocupados; dos costumeiros balões soltos na cidade.

Com um pouco de dificuldade, mamãe, Taeyong, Jisung e eu subimos as escadas. No topo, começamos nossa preparação. Decidi separar a única tela pintada na ponta onde menos havia pessoas. Mamãe organizava os tsurus enquanto Taeyong e Jisung ajeitavam o cartaz e os aviões de papel.

Não conseguia parar o latejar em minha cabeça, a presença constante de uma força que a puxava para o centro da terra e insistia que, independentemente de qualquer coisa, deveria aceitar o fato de que um bolo não pode ser desfeito; que uma gota derramada não pode voltar ao seu lugar.

Ao terminar, respirei fundo enquanto mamãe ajeitava o megafone próximo à boca.

Eu queria tanto realinhar minha órbita.

ㅡ Os seres humanos estão acostumados a viver como se houvesse um espaço exclusivamente deles, mostrando-se evasivos e egoístas, não? É o que querem que pense ㅡ mamãe iniciou o discurso, chamando atenção das pessoas observando as ilhas anexadas. ㅡ Ouvi dizer que existiu uma garota no mundo, uma como qualquer outra, afirmo. Enquanto cada um se concentrava em manter o próprio forte intacto contra qualquer droga de coisa, ela procurava ajeita-lo, engrandecê-lo para que coubesse não somente ela atrás deste, mas o resto do mundo. Não é adorável? ㅡ A improvisada plateia estava desconfiada, mas poucos confirmaram com um balançar de cabeça. ㅡ  Se concordam, podem estar errados.

"Eu disse que os seres humanos são egoístas. Mas não porque é um fato específico ou porque é a minha insignificante opinião. É porque nós simplesmente somos e ponto final. A adorável garota é prova disso. Porque, enquanto vocês escondem seus sagrados olhos atrás de um puta forte feito de aço, ela lufa aliviada por saber que não está e jamais estará sozinha outra vez. A solidão egoísta atrai numa melodia tentadora e nós nunca, nunca e nunca vamos resistir. É o que acontece, simplesmente. Porque ela é um ser humano. Eu sou um ser humano. Todos vocês são essa porcaria, sacou?"

"Mas, muito embora tudo isso, sei muito bem que vocês estão se perguntando o que há de errado em querer estar com alguém, em precisar desesperadamente se agarrar a algo, não importa se mais tarde machucará?"

"Não há nada de errado. Porque é assim. É simplesmente assim. Será que é tão difícil entender? E não digo só sobre o egoísmo, mas os tão outros incontáveis sentimentos e sensações. Você chora, ama, briga, irrita, desbrava, mente, toca, fala, beija, abraça, concorda, discorda, porque faz parte do seu propósito e natureza ser humana. Assim como você desenvolve, erra, descuida, tira..."

"Mas...vocês já pararam para pensar o quão incrível é, dentre tantas existências, nascer na forma humana?"

"Não há de responder. Não precisa. Porque a resposta é obvia: independentemente das escolhas em sua vida, se nasceu assim é porque pode conviver com felicidade suprema na mesma intensidade que pode aguentar a infâmia resistente e pertubadora. Afinal, se não fosse, por que, então, humano?"

"Enfim dizendo, essa garotinha egoísta é uma como qualquer outra no mundo. Ela é você e mais ninguém. Sou eu. Somos nós."

"Só não deixem que sua órbita maravilhosa e impensável em tamanho tome a forma de um propósito que não condiz. Continue a chorar, continue a aguentar, não solte. Seja egoísta, peça ajuda. Seja o quão egoísta quiser. Porque essa é a coisa mais incrível que você pode fazer."

"É por isso que estamos aqui, pequenos tsurus. A luta é nossa! É só você acreditar. É só você deixar levar o que pesa em você."

Assim que mamãe acaba, Taeyong e Jisung despejam os aviões de papel em direção ao mar, muito embora tomam rumos diferentes de acordo com os ventos.

Mamãe deixa o megafone de lado. E, enquanto algumas pessoas limpam as lágrimas escorrendo pelas bochechas, entrega fios de náilon decorados com tsurus e as cartas escritas por mim e Hyunjin para cada um deles. Pessoas como nós, desenvolvidas em orbitas tão imensamente impensáveis quanto a minha.

Pisco devagar, caminhando em direção à tela ㅡ que reforcei a tinta. Ainda está fresca ㅡ com o retrato da garota que poderia ter amado como sempre desejou, mas que acabei por amar muito mais.

Os olhos curiosos se voltam para mim. Passo a mão direita na tela, deixando a marca de minha mão na bochecha do retrato. Depois, a levo até a minha própria bochecha e, com pouca habilidade, faço um risco silencioso que não precisa de explicações contra as trilhões de palavras que significa.

ㅡ Muitas vezes, penso que o mundo inteiro está contra mim ㅡ encaro fixadamente o dedo sujo de tinta. ㅡ Mas é um prazer ser egoísta com a vida, Hyunjin. A minha vida. A nossa vida. Porque sei que vivo em você. E sei que vive eternamente em mim.

Porque não há nada nesse mundo que te tira a existência, não importa se você é, se quer ser ou se já foi alguém.

[...]

muitas vezes, pensei que era um absurdo as pessoas serem imperfeitas. mas, depois de muito tempo e muitas experiências vividas, percebi que os que nos torna reais e humanos é justamente nossas falhas mescladas às qualidades. então, por favor, nunca tente se tornar algo que não é em prol dos outros, porque o que deveria vir acima deles primeiramente é você mesmo. consequentemente, poderá amar os outros e entender também seus conflitos.

quando escrevi essa história, também quis abordar sobre a depressão e a avalanche devastadora que ela carrega. tanto na vida da própria pessoa que vivenciou a dor desta doença quanto as pessoas que acabam sendo influenciadas ao redor dela: família, amigos, colegas e muitas pessoas ao redor do mundo. isso não é coisa que se brinque, que possa tratar com indiferença, porque pessoas que se sentem assim não podem enxergar uma órbita ao redor delas e nenhum fragmento pode ser agarrado. porque essas pessoas não se amam, essas pessoas não podem enxergar a humanidade imperfeita em si próprias e aceitar que isso é perfeitamente normal e incrível. pois então, ajude essas pessoas, aconselhem e denotem sua importância. caso precisem de profissionais, há tantos lugares, sites, psicólogos, terapeutas ou projetos sociais que envolvem esses assuntos.

eu tenho transtorno de ansiedade generalizada (TAG). isso acarretou sintomas de toc, síndrome de pânico e depressão em minha vida. não havia órbita e eu não tinha conhecimento de fragmento algum. eu gritei e quero que vocês gritem comigo, porque os amo e, se pudesse, pintaria um risco na bochecha de cada um e na minha própria. vocês me salvam. todos os dias. e eu também quero salvá-los, minhas órbitas.


espero que tenham gostado dessa história, pois tudo o que eu faço é pra vocês. eu existo para vocês. até uma próxima.

continuem respirando.

ㅡ 11 iljjae. loona + nctOnde as histórias ganham vida. Descobre agora