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11/07/2012.

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É incrível como simples e pequenos flashes de memória podem desencadear uma linha do tempo repleta de dor, angústia e arrependimentos. As coisas teriam sido tão mais fáceis se eu pelo menos tivesse agarrado sua mão uma última vez e dito que estava entrando de mansinho por entre tantos fragmentos.

Sentado na mesa do café da manhã, senti que mamãe me observava enquanto assistia TV. O canal de notícias estava aberto em outra série de despejos tristes. Era uma catástrofe. Como sempre.

No canto da tela, o horário anunciava meu atraso, então rapidamente enfiei o resto do pão goela abaixo, peguei alguns croissants, embrulhei em papel toalha e me despedi de mamãe com um beijo doce na testa.

Assim que meus pulmões atingiram o ar fresco e invernal, estremeci. Evitei ao máximo chorar, com medo que minhas lágrimas congelassem e fossem esquecidas dentre as milhões de estações que se formavam em meu interior.

Não quis montar na bicileta, muito menos dar o luxo de ir de metrô. A caminhada sempre fazia bem parar limpar a jovem alma e lembrar que ainda tinha um coração bombeador debaixo de tanta pele e ossos, escondido e protegido. Na verdade, era ridículo esquecer do órgão. Ao menos deveria...não é?

Só me dei conta quando parei novamente de frente para sua lápide. As datas pareciam se afundar cada vez mais na massa, como se alguém no universo quisesse deixar claro que o resto de seus sonhos se afundaram ali. Senti-me tonto.

Antes que o colapso interior tomasse maior forma, deixei o embrulho de croissants em frente sua lápide. E eu não deixaria que nenhum sedento de entendimento me chamasse de louco, de pouca sanidade, porque não entendia o significado e o tamanho de meus atos.

As pessoas nunca entendem suas razões pelas quais, porque acreditam que o conforto das próprias respostas é mais real do que qualquer outra força explicável.

E eu odeio isso.

Em passos silenciosos, saio sozinho, outra vez.

[...]

tô me sentindo muitíssimo tristíssima

ㅡ 11 iljjae. loona + nctOnde as histórias ganham vida. Descobre agora