Abro a boca para argumentar, ela tem razão mesmo. Merda, como eu não pensei nisso antes? Claro que faz todo o sentido.

- Mano do céu! - Coloco minhas mãos na boca. - Eu tô fudida.

- Vai estar, literalmente.

- Alexsandra! Eu vou quebrar sua cara de pau. É sério, o que eu vou fazer? O problema não é o sexo, eu faria sem problemas, é algo normal e que não merece tanto alarde. O problema é a promessa.

- Vai no passeio, quando chegar na hora você diz que broxou... Ou sei lá, fala que não depilou a perseguida.

- Lexy! É sério... - Passo a mão pelo meu rosto. - Eu estou fudida e se você falar literalmente de novo eu não respondo por mim.

- Ok, ok parceira. Relaxa, só diz pra ele que você não tá no clima. Ele sabe da promessa?

- Não.

- E por que você não falou, gênio?

- Porquê não!... Ok, a única saida vai ser o lance da depilação.

- É, quando ele estiver prestes a tirar suas calças você diz: "Ah amor, acho melhor não, tem uma mata atlântica onde não deveria ter."

- Oh céus... Não está ajudando. - Bato a ponta da sapatilha no chão. - Eu preciso fazer algo, vamos logo.

- O que vai fazer?

- Eu não sei, eu já vou. - Pego minha mochila no canto da sala. - Tchau.

- Malu você está de collant, meia calça e sapatilha de ponta. Aliás, não vai sair com ele de shortinho e algum camisetão do Mike, por favor.

- Eu sei, tô de carro. - Aceno e mando um beijo. - Daqui a pouco o Tom vai estar na minha casa indo me buscar, eu tenho... - Olho para o relógio da parede. - Uma hora.

- Malu...

- Tchau.

Corro em direção a saida, tirando a sapatilha de ponta antes de pisar no asfalto. Durante meu percurso até meu carro algumas pessoas me olham de maneira estranha. O que foi? Nunca viram uma garota correndo?

Jogo minha bolsa no banco de trás e ligo o carro, dirigindo o mais rápido que consigo. Espero que meu pai não esteja em casa, ele me mataria se me visse chegando da rua de collant. Que ele chama de maiô de ballet. Deixo o carro na rua, fora da garagem ao ver o John e o Mike conversando no quintal da casa vizinha.

- John, guarda na garagem? - Jogo a chave pra ele.

- Por quê diabos você veio pra casa vestida desse jeito?

- Pressa

- O pai está na sala. - Johnny diz, travo antes de abrir a porta.

Tem a porta dos fundos, mas para eu ir para o meu quarto teria que subir as escadas que passam pela sala.

- Vem aqui vocês dois. - Sussurro, os dois me seguem até o fundo de casa. - John faz pezinho pra mim. - Digo. - Mike, você fica de frente para a parede que eu vou subir nos seus ombros já que você é mais alto.

- Você vai pular a janela? - Mike pergunta. - Você sabia que a janela do meu quarto e a sua são uma de frente pra outra e que se você entrar no meu quarto e pular da minha sacada para a sua é bem mais fácil?

Faz sentido.

- Já estamos aqui. Vai logo.

- Isso vai dar merda. - John murmura.

- Mais fácil, - Mike estala os dedos - lembra daquele passo de street que fiz com você na apresentação do ano passado?

- Não.

- Que você sobe nas minhas mãos e eu levanto os braços e você dá um mortal. Que tem até naquele filme de dança?

- Sei, sei. - Me lembro do passo que o Sean e a Andie fazem no final do filme Ela dança, eu danço 5. Eu e Mike fizemos ele em uma coreografia.

- Eu vou te levantar, só não dá o mortal.

- Óbvio. Vai então.

- Ah meu Deus. - Johnny fecha seus olhos.

Eu pego distância enquanto o Mike flexiona a perna direita. Com o impulso eu piso na mão direita dele que estava apoiada na perna flexionada. Com a outra perna eu forço ela para ajudar ele me levantar. Logo, eu estou lá em cima. Por sorte o Mike é bem alto, e eu também sou alta. Ele tenta esticar os braços, o que é bem difícil considerando meu peso; porém ele consegue, o que me ajuda bastante, quase conseguindo alcançar. Ter casa alta é complicado nesses casos. Consigo esticar os braços.

Certo, ainda não alcanço. Se eu pular e segurar firme vai dar certo. Flexiono o joelhos e me preparo para pular o mais alto que consigo de maneira firme.

Com uma agilidade que eu claramente não tenho, eu alcanço o parapeito da sacada. Consigo sustentar meu peso, passando minhas pernas para dentro do meu terraço. Sorrio ao ver que consegui. Sentindo meu coração acelerado e uma pitada de adrenalina nas veias.

Fazer isso foi bem mais divertido do que simplesmente dar a volta e ter que encarar meu pai ou apenas pular da sacada do Mike para a minha.

- Valeu. - Sorrio e levanto os braços.

- Vocês. são. malucos. - Johnny está com uma expressão impagável. - Eu não sei como você dá ouvidos para minha irmã.

- Eu curto a maluquice dela.

Deixo os garotos lá fora e entro no meu quarto, arrancando minhas roupas de ballet. Demoro alguns minutos desmanchando o coque perfeito que eu devo fazer para as aulas.

Entro no banho e paro para refletir.

Eu tenho que pensar em algo.

Eu realmente não levaria tão a sério essa coisa de perder virgindade, acho que isso ainda não aconteceu comigo apenas por causa da promessa. Caso contrário eu seria a versão feminina do meu pai na adolescência.

Que desculpa eu poderia dar para ele? Não tem muitas. Talvez eu esteja me preocupando de bobeira, talvez nem vá acontecer nada disso e Lexy estava apenas se precipitando.

Ok, eu sempre sei resolver tudo em cima da hora.

Eu não tenho costume de usar vestido, não gosto mesmo. Uso apenas quando sou obrigada, para ir nos eventos que meus pais são convidados. Eu até gostaria de ir de short jeans e camiseta, gosto do estilo. Tommy detesta, mas eu não ligo. Porém, já que hoje é exceção e eu não pretendo fazer o que ele tem em mente, nada melhor que um agradinho.

Visto um vestido preto na altura das coxas, soltinho nessa região e justo do quadril para cima. Ele é bem bonitinho, apesar da cor, é bem menininha.

Salto? Nem pensar.

Encontro um tênis branco com detalhes pretos. Ele é bonitinho e combinou com o vestido, vai ser esse.

Penteio meu cabelo e passo apenas uma grande quantidade de máscara em meus cílios, lápis de olho que marca bem o azul dos meus olhos e um batom vermelho. Nunca gostei de passar muita maquiagem.

Pronta. Bem rápido. Não tenho problema com roupas e indecisões. Borrifo um pouco de perfume em pontos estratégicos, pego meu celular e saio do quarto. Encontro meu pai subindo as escadas com o Peter nos braços.

- Onde a mocinha pensa que vai? - Ele termina de subir as escadas e fica de frente pra mim.

- Já tinha te falado pai, lembra? eu e o Tom estamos fazendo oito meses e vamos jantar juntos.

- Aé... - Ele olha para a parede. - Convide ele para entrar antes de sairem, quero comprimentar meu... - ele força um sorriso. - genrinho.

Quem não te conhece, que te compre Gabriel.

- Está bem.

E lá vamos nós.

Amor MalucoWhere stories live. Discover now