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Valentim:

_ Valentim  acorda, amor acorda.

Gabriel me  acordava acompanhando com muitos beijinhos em meu rosto a sua fala:


_ Vamos amor, levante, depois de quase um mês enfim a Bárbara sairá daquele hospital, e eu quero estar lá para apoiá-la. 

_ Que horas são?

_ Quase sete da manhã, vamos Valentim se apressa.

Já fazia quase um mês  que Gabriel e eu estávamos morando juntos, embora com a rotina, casa, faculdade e hospital nos privasse de aproveitar o nosso casamento, não havíamos casado no papel por que não precisávamos de um papel para confirmar o que sentíamos e de como estávamos felizes,  mas os momentos tensos que estávamos enfrentando nos impediam de aproveitar melhor a companhia um do outro, lógico já havíamos feito amor no nosso apartamento o que os meus pais haviam me dado, mas com tudo o que acontecia eu sentia que Gabriel não se entregava por inteiro, mesmo assim era sempre incrível a noite que passávamos juntos, mas eu sabia que ele poderia se entregar bem mais do que estava a se entregar, mas era compreensivo desde de que ele soube que a irmã, não voltaria a andar,  ele anda apreensivo.
Nos primeiros dias foram ainda mais difícil quando os médico nos deram a notícia, após ter passado o período de setenta e duas horas, ela despertou meia desnorteada sentindo fortes dores, uma psicóloga veio junto com o doutor responsável para conversar com ela e lhe contaram primeiro sobre o bebê, ela chorou bastante, Kleber se mostrou bem presente nesse momento, não a deixou nem sequer por um instante, entretanto não era para falar sobre o bebê que a psicóloga se encontrava ali duas semanas depois, e com cuidado Bárbara foi avisada que os danos internos haviam sido maiores do que eles imaginavam pois um dos músculos estourados danificou a medula espinhal dela o que ocasionará na paralisação da parte inferior de seu corpo, Bárbara ficaria para sempre em um cadeira de rodas, nada podia ser feito que pudesse mudar esse quadro. 
O mais estranho foi a reação dela, ela não chorou, não gritou, ela se manteve fria, como se aquilo fosse a coisa mais natural que o médico pudesse dizer a ela. 
Ouviu atentamente o que o médico disse com uma serenidade surpreendente, depois a psicologa lhe perguntou:


_ Bárbara, você entendeu o que o doutor Júlio lhe falou?

_ Sim, entendi.

Ela não esboçava nenhuma emoções na voz:

_ E o que você acha disso?

_ O que eu tenho para achar doutora? _ Vocês ouviram o mesmo que eu, nada do que eu faça vai reverter esse quadro, eu vou ficar presa para sempre em uma cadeira de rodas. 

Todos nós nos mantínhamos emudecidos. Ela prosseguiu:

_ Sabe o que é mais estranho nisso tudo, eu sempre fui orgulhosa, me achava melhor do que qualquer pessoa, o mundo era meu, de repente veio uma enxurrada de situações adversas, foi como se uma montanha de gelo se despencasse em cima de mim, e tudo levassem a um único culpado, o meu pai... e o mais engraçado disso tudo é que agora eu sei que eu não vou mais poder andar, o mundo já não é mais meu como eu imaginava, agora ele é meu pela metade pois eu estou limitada, hoje eu percebo que eu não sou melhor que esse ou aquele, que o dinheiro não nos faz melhor ou evita certas situações.

Ela olhou para Kleber:

_ Nós dois fomos criados de formas parecidas, achando que podíamos fazer o que quiséssemos, eu não te culpo pelo que aconteceu, por que no fundo eu sei que assim como eu você é uma pessoa solitária que só consegue as coisas assim como aconteceu. Nossos pais nos levaram a chegar a esse ponto, quando eu descobri que estava grávida... eu chorei bastante por que eu não queria, eu não me sentia pronta para amar essa criança, mas os dias foram passando e eu fui sentindo ele, fui percebendo que eu não estava mais sozinha.

Ela levou a mão a barriga:

_Ele estava aqui, eu o tinha aqui. 

Ela calou-se e nesse momento ela chorou, Kleber também chorava, Gabriel escondia o rosto em meu ombro para esconder que ele também chorava: 

_ Eu perdi o meu filho, estou paralítica e deformada com um monte de cicatriz, mas não são as de fora que me machucam, são as cicatrizes de dentro. Kleber, você não precisa ficar aqui, você tem o mundo a sua espera, com certeza esbarrará com mulheres lindas pelo seu caminho, e com elas poderá ter os filhos que eu não pude segurar em meu ventre. 

Ele levou a mão a boca dela impedindo que ela prosseguisse:


_ Você tem razão Bárbara eu posso encontrar mulheres lindas pelo meu caminho, mas nenhuma delas será a que eu quero do meu lado para permanecer comigo para sempre, eu não me importo com as suas cicatrizes, não me importo com suas limitações, eu me importo com você, me importo em te fazer feliz, não me peça para ir embora por que eu não vou. Eu quero me casar com você, quero ter nossos filhos, e se você não poder gerar eu ainda não sei se a resposta do médico for que você não pode, nós adotaremos.

_ Não vai ser nada fácil para nós dois.


Gabriel se pronunciou:

_ Mas não serão só vocês dois Bárbara, e quanto a mim, quando ao Valentim, e todos os que estão ali fora a sua espera?

_ Quem está ali fora?

_ Nossa mãe, os pais do Valentim, Lara a irmã do Valentim, ela é um encanto de menina você vai adorar conhece-la, Hennrry, Léo e até os mongoloides estão aqui, Cássio, Amber, Amélie e Hanna. 

_ Sério, Hennrry e Léo também estão aqui?

Gabriel balançou a cabeça afirmando:

_ Mas nós não éramos amigos. 

_ Pois é minha irmã, nessas horas descobrimos quem verdadeiramente é nossos amigos, e eu até me surpreendi com os mongoloides, desde que foi noticiado nos telejornais eles vieram te ver todos os dias, mas percebe-se que não é para aparecer por que eu já vi eles fugindo dos repórteres que estão aqui na porta, mas por que se importam com você. 

_ Viu doutora, eu antes tinha minhas pernas mas estava limitadas por causa do meu orgulho, eu só andava onde eu achava que era lugar de classe, não era qualquer um que podia se aproximar, era aleijada emocionalmente, hoje eu não tenho mais minha mobilidade das partes inferior, mas eu poderei ir a qualquer lugar por que eu tenho amigos. 

Tudo o que eu quero é você (quando o amor acontece 2)Where stories live. Discover now