Um Novo Coração [COMPLETO]

Capítulo 35 - Amor Teimoso

Tirar aquelas palavras engasgadas da garganta me proporcionou uma sensação que eu não sentia verdadeiramente fazia anos... Paz.

Eu tinha brigado com Deus por tanto tempo... Exigido tantas respostas... Sentido tanto ódio... E agora tudo aquilo finalmente chegava ao fim.

O ar foi saindo quase involuntariamente de mim enquanto uma lágrima molhava meu queixo.

— Eu tenho tanto pra te dizer, acertar... Será que ainda me escuta? Ainda liga pra mim? — murmurei com a voz sensível.

Respirei fundo de novo pela milésima vez, olhando o teto.

— Eu não te entendo, Deus... Não entendo por que permitiu... Mas também não aguento carregar esse peso no meu coração. Não suporto mais negar você. Não aguento mais deitar todas as noites e sentir que há algo errado... — Funguei. — Porque eu sei que você existe. Eu sei...

Então mais lágrimas roçaram minha pele...

Não sabia se era apenas minha imaginação, mas sentia um braço me envolvendo, como se alguém estivesse ali me acolhendo... Como estivesse sendo confortado, protegido.

Entreabri a boca devagar:

— Não preciso de mais provas, debates, milagres... Não preciso de mais nada... No fundo, sempre soube que você existe. Você sabe... Pra mim era mais fácil negar isso do que conviver com a dor de sentir que o Senhor não havia se "importado" com o meu irmão.  Mas agora eu vejo... você nunca teve culpa. Te culpei por não achar mais ninguém pra culpar. — disse sentindo a garganta rasgada.

— Você... ainda me aceita? Ainda tenho perdão? — Quanto mais minha voz embargava, mais eu perdia a noção de quanto tempo já estava ali, ajoelhado, chorando e orando... Coisas que pensei que nunca mais aconteceriam... Até conhecer ela...

Prossegui:

— Eu te peço perdão. Perdão por todos os meus pecados, por toda a minha prepotência, arrogância... Perdão por ter te negado durante tanto tempo, mesmo sentindo que só estava mentindo pra mim mesmo... — Espero que me aceite. Em nome de... Jesus... — Mordi meu lábio com força, ainda cético diante da situação a qual estava me submetendo. — Amém.

Fiquei parado alguns segundos, tomando fôlego. 

Peguei o celular, pus os fones de ouvido e procurei alguma música cristã no aplicativo de músicas.

Quando as primeiras notas começaram, deitei na minha cama e apenas fechei os olhos...

— Mil desculpas pra tentar fugir... Sem fundamentos para resistir... Até mentir... pra me esconder de ti... Mas seu amor teimoso me alcançou... Sua longanimidade me esperou... Me acolheu... Desmoronou meu eu! Minha vida regenerou... Meu passado ele apagou... "Tetelestai" ele bradou, tudo ele pagou, me salvou...

— Não vou mais tentar fugir... E nem fingir... que sou feliz sem ti... Não vou mais me enganar... Vou me entregar... Vem me salvar de mim...

Sorri tentando enxugar o rosto. A felicidade que transbordava no meu peito naquele momento era tão única que nem parecia real...

— Inventando mil desculpas para escapar, terceirizando a minha culpa para disfarçar... a minha covardia... Mas seu amor teimoso me alcançou... Sua longanimidade me esperou... Me acolheu... Desmoronou meu eu! Minha vida regenerou... O meu passado ele apagou..."Tetelestai" ele bradou! Totalmente pagou!

Não aguentei; tive que cantar junto:

— Não vou mais tentar fugir... E nem fingir... que sou feliz sem ti... Não vou mais me enganar, vou me entregar, vem me salvar de mim!