Hoje vai ser uma festa! Bolo e Guaraná, muito doce pra você!

377 64 6
                                    

Desde que era pequeno, Max sempre adorou organizar festas. Seja ajudando a preparar os docinhos junto com a sua mãe e tias, enchendo os balões e até arrumando os pequenos enfeites das mesas. E isso não mudou, décadas depois. Só que hoje em dia, ele não dispõe daquela moeda insubstituível - chamada tempo - para cuidar de todos os detalhes. A tecnologia ajudou, e muito, a facilitar a sua vida, é verdade. Mas ele ainda gostaria, bem lá no fundo, de ter cuidado de cada detalhe da comemoração de um ano do dia em que havia se tornado pai de três filhos.

Um ano desde que Guilherme, Rodrigo e Enzo tornaram-se, oficialmente, seus filhos do coração. Antes disso, foram quase dois anos desde a certificação do processo de habilitação, a inclusão no cadastro nacional de adoção, as conversas com a assistente social e a lista de crianças. E de um papel amassado escrito à mão, que essa mesma assistente trazia com três nomes. Três irmãos, com cinco, sete e nove anos, respectivamente. E ele sabia que, naquele papel, estavam os seus filhos. Do tempo de encontros, de se conhecerem melhor, da guarda provisória. E lá estava ele, comemorando o primeiro "Dia de nossa família", como o caçula Enzo chamava.

A comemoração acontecia no salão de festas do prédio, num condomínio da Barra da Tijuca, onde moravam. Indicação do tio de um outro amigo, Mário. O salão estava abarrotado de crianças. Amiguinhos do colégio, do condomínio, familiares e alguns amigos próximos. O único quase problema que tiveram foi com o tema da festa. As três crianças não chegavam a uma conclusão. Guilherme queria que fosse o Homem de Ferro, Rodrigo o Batman e Enzo queria que fossem os maiores heróis dele: Papai Max e Papai Pedro. Como resultado, um grande painel com um Max trajando a armadura de Tony Stark e Pedro como o protetor de Gotham City. Sem contar que os pais estavam usando camisas com os símbolos de seus respectivos alter-egos, com direito a Max pintar um cavanhaque falso. No fundo, no fundo, eram eles que se sentiam realizados de poder comemorar aquela data com os filhos.

Engraçado que esse sonho quase foi por água abaixo. Se não fosse a doideira que Caio, o melhor amigo de Max, fizera, invadindo o escritório do novo chefe e praticamente obrigando-o a recontratá-lo. Riu sozinho lembrando daquela situação que mais parecia coisa de filme da Sessão da Tarde.

— Posso rir também? – Interrompia Pedro, abraçando seu companheiro.

— Estava lembrando quando o Caio foi pedir ao Alberto para não me demitir.

— O bom disso tudo é que graças ao empurrãozinho dele, nossos planos de sermos uma família seguiram em frente. Falando nisso, ele não disse que viria?

— Pois é. – Disse Max, caindo em si e olhando o relógio de pulso. – Aí dele que falte a festa dos afilhados. Eu mesmo esgano ele e dou o resto para você triturar.

Pedro riu do comentário do companheiro. Embora no início não fosse com a cara do melhor amigo dele, aprendeu a respeitá-lo pela várias vezes que ele ajudou Max. E, bem ou mal, era um bom padrinho para as crianças.

— Paipaipaipaipaipaipai! – Gritava Enzo, o mais novo, em sua direção, empolgado. – O Dindogodo chegou!!

Pedro virou-se para Max, com um sorriso no canto da boca:

— Pelo visto você não vai esganar ninguém... vamos dar as boas-vindas ao Dindogodo. - Levantou-se erguendo o caçula e o levando no colo e puxando Max com a outra mão, seguindo em direção a entrada do salão de festas.

Dindogodo era o apelido que Caio recebera dos filhos de Max e Pedro. Foi Enzo, o mais novo que se enrolou ao chama-lo de 'Dindo Gordo', como Max se referia ao amigo, e acabou saindo 'Dindogodo'. E lá estava ele, Caio, abaixado, abraçado aos outros dois afilhados. Um pouco mais gordo, barba mais cheia. Cabelos mais longos, porém, raspado nas laterais.

— Cadê meus dois guerreiros de nível épico? Upa! Que abração gostoso!! Nada como chegar de uma jornada e ser recebido por vocês!! – Dizia o jovem.

— Até que enfim! – Disse Max. – Eu já estava encomendando o seu caixão, seu desmiolado.

— O que é isso na sua cara? – Perguntou Caio ao se levantar, olhando surpreso para o cavanhaque falso de Max. – Espero que não seja permanente, pois seria uma justificativa válida para os seus filhos crescerem traumatizados. Oi, Pedro, tudo certinho?

— He, He. Falou o Viking do subúrbio metido a mega gostoso. Sóquenão. – Respondeu o amigo em tom de ironia. Dando-lhe um abraço apertado logo em seguida.

— Oi Caio, tudo bom? Como foi o voo? – Perguntou Pedro, num aperto de mão.

— Rapaz, nem te falo. Fora o atraso, o voo foi tranquilo. Difícil foi achar uma loja de brinquedos decente. A solução foi comprar uns kits de Lego para cada um. O bom é que estimula a criatividade. – Falou, sorrindo, enquanto se dirigia com o casal e as crianças para dentro do salão.

— Mas vem cá, achei que você viesse acompanhado.

— Se você está se referindo ao Heitor, Sashay away.

— Sério? Ele parecia tão fofo...

— Nem. Era bonitinho, o sexo era ok. Mas aí ele veio com um papinho se eu podia dar de presente para ele uma Cintiq e uma impressora 3d, para dar uma força à carreira dele.

— Nossa. Close errado, close errante. – Lamentou o amigo. — Mas vamos falar de coisa boa. Pessoal está numa mesa logo ali.

— Me dá só um minuto. – Respondeu Caio, baixinho. – Antes tenho que dar um pulinho na toalete. Onde fica?

— Segue por ali, virando logo a direita. – Apontou Max, levando os filhos com a ajuda de Pedro.

Após se desviar de trocentas crianças que corriam em disparada de uma direção a outra, conseguiu chegar ao banheiro. Mal reparou o local. Apenas escolheu o mictório mais perto e pôs-se a tirar a água do joelho. Apreciando aquele momento único de alívio, alheio a tudo ao seu redor. Até que seus pensamentos são interrompidos por uma voz familiar, grossa e ao mesmo tempo suave:

— Caio?

O rapaz virou-se, incrédulo. Era Alberto, seu ex-chefe, e que numa outra realidade fora seu namorado, a dois mictórios de distância. Estava num estilo menos formal do que havia acostumado a vê-lo no escritório. Parecia um pouco mais gordo e sua barba estava mais encorpada, porém totalmente negra, diferente do tom grisalho que vira da última vez.

— O que você está fazendo aqui? – Perguntou o rapaz sem hesitar.

— Mijando, que nem você.

— Eu estou falando da festa.

— Eu fui convidado.

"Faz sentido." – Pensou Caio. Max devia ter um senso de gratidão por Alberto não o ter despedido e o chamou para comemorar por cortesia.

— E o que você fez na sua barba?

— O Leonardo pediu e eu resolvi experimentar. O que você achou? – Perguntou o velho urso, sorridente.

— Se eu fosse seu empregado, eu diria que ficou muito bom.

Alberto havia se esquecido dessa característica irritante de Caio. De sempre saber o que dizer. Fosse uma coisa boa ou ruim. Em silêncio, fechou a braguilha, lavou as mãos e saiu do banheiro. Antes de sair, disse:

— Bom, de qualquer maneira é bom te ver.

Caio quase disse um "idem" no automático comoresposta, mas pensou um pouco e respondeu com um "também", acenandopositivamente com a cabeça. Não podiam dizer que ele era o tipo antissocial,não é mesmo?    

Caio Ainda Não Acredita no AmorWhere stories live. Discover now